Leitura por prazer em qualquer tempo e lugar

Pelo país, são inúmeras as iniciativas de estímulo à leitura. As ações ultrapassam as barreiras das escolas e chegam até ao açougue

por Dulce Mesquita dom, 26/08/2012 - 00:03
Chico Peixoto/LeiaJá Imagens A professora Cinthia Jordânia estimula a leitura espontânea das crianças Chico Peixoto/LeiaJá Imagens

Nos parques, nas praças, na sala de espera de um consultório, na lanchonete lotada e barulhenta, num ônibus ou no avião, deitado numa rede ou no sofá de casa. Para quem gosta de ler, não existe um único lugar. Basta abrir o livro que qualquer ambiente se transforma num lugar de descobertas e fantasias. Quem já passou pela experiência de não conseguir parar de ler uma história até chegar à última linha sabe bem o que é o prazer pela leitura.

“A importância da leitura está além do conhecer novas histórias. Ler liberta porque o indivíduo tem acesso a informações e conhecimentos para o autodesenvolvimento, para a busca dos direitos sociais, para fazer valer o papel de cidadão. Quanto mais leitores, mas desenvolvido o país será”, avalia a pedagoga Luara Silva. O brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em março deste ano pelo Instituto Pró-Livro. O número é pequeno quando comparado ao da Espanha (mais de 10 livros anualmente). Os brasileiros preferem assistir TV, escutar música e descansar no tempo livro. A leitura fica apenas na sétima posição.

Para melhorar esse quadro, inúmeros projetos pelo país trabalham para despertar nas pessoas o gosto pela leitura. Como já dizia Paulo Freire: É preciso que a leitura seja um ato de amor.

É nesse pensamento que segue o projeto Semeando Leitores, do Colégio Americano Batista, de Recife. Além da biblioteca, as crianças das séries iniciais do ensino fundamental têm espaços de leitura nas salas de aula e no hall do prédio onde estudam. Os alunos também participam de uma ciranda de livros, quando podem trocar as obras com os colegas. “Queremos despertar o prazer de ler. Neste momento, não existe relação de cobrança. Elas ficam livres para ler quando e o quanto quiserem”, destaca a coordenadora pedagógica Válkia Chitunda.

Ela explicou também que existe, sim, a leitura obrigatória de livros paradidáticos, como indicado no currículo escolar. Mas que, além disso, a escola criou espaços para incentivar a leitura espontânea. Nas atividades extraclasse, as crianças aprendem o que é sinopse e narrativas, produzem os próprios poemas, confeccionam bonecos para representar personagens e, no final do ano letivo, dramatizam o livro escolhido pela turma.

O resultado já pode ser visto no dia a dia. “Na hora do recreio, várias crianças ficam sentadinhas, lendo. Os pais dos alunos contam que, em casa, os filhos têm lido mais. Porque eles querem, ninguém os obriga. Também percebemos a melhora em português e redação”, informa a coordenadora. A participação nas aulas também melhorou. “As crianças que antes eram tímidas, agora estão mais abertas, falam mais, participam das atividades. Elas ficam à vontade para ler e se expressar”, salienta a professora Cinthia Jordânia.

Para Ana Raquel Rodrigues, de 9 anos, ler 12 livros em um mês foi um prazer. “Eu gosto de ler, porque eu posso conhecer coisas novas. É legal. As vezes, eu fico lendo na hora do recreio, porque as brincadeiras as vezes enjoam, mas ler não, porque tem sempre uma história nova”, conta ela, que elegeu “A galinha dos ovos de ouro” como o livro preferido.

Mas não é só em instituições de ensino que é possível encontrar projetos de estímulo à leitura. Há projetos bem inusitados que deram certo e cumprem a função social. Quem chega ao açougue de Luiz Amorim, em Brasília, pode até estranhar as estantes com livros. Afinal, quem espera encontrar uma mini biblioteca no mesmo lugar onde vai comprar carne? Tudo nasceu do gosto do empresário pela leitura. “Eu acredito num país melhor através da leitura. No início as pessoas estranharam, mas hoje estão acostumadas”, diz.





Foi assim que surgiu o Açougue Cultural T-Bone. A ideia deu tão certo que cresceu. Toda quinta-feira, há uma atividade diferente no espaço em frente ao açougue. No formato de sarau, a Quinta Cultural conta a participação de artistas nacionais ou da cidade, apresentação de teatro de bonecos, bate-papo com escritores e recital de poesias. Também há a Noite Cultural, que já faz parte do calendário cultural oficial de Brasília, com a apresentação de cantores de renome nacional. Ivan Lins, Milton Nascimento, Zé Ramalho, Alceu Valença, Zélia Duncan, Erasmo Carlos, Blitz, Elba Ramalho e Antônio Nóbrega já passaram pelo palco do evento. Na próxima edição (no dia 30 de agosto), o pernambucano Lenine será a atração.

E a biblioteca não ficou apenas no açougue. Elas estão nas paradas de ônibus também. A Estação Cultural já conta com 37 bibliotecas populares. “É uma forma de humanizar a parada de ônibus. As pessoas estão ali esperando, sem fazer nada. Podem aproveitar e pegar um livro. É de graça”, explica. O projeto estimula também a consciência coletiva. “Cada pessoa pega o livro e não precisa registrar o empréstimo. Não tem isso. Pega e pode deixar o livro em outra parada ou no açougue. É livre para todos, por isso cria essa conscientização de devolver para que outro tenha acesso”, comenta.

Com o sucesso dessa ideia, os planos são de ampliação para levar o acesso à internet às estações e padronizar as bibliotecas. “Pra mim, o ponto alto não é a Noite Cultural com 20 mil pessoas, não é a biblioteca, não é nada disso. O ponto alto é a reflexão que as pessoas fazem. Pra mim essa é a maior obra e está ao alcance de todo mundo. Mas a maior satisfação é mesmo quando alguém pega um livro”, frisa.

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