Beleza: o pré-requisito 'oculto' nas seleções
Embora alguns processos seletivos não informem claramente, ser bonito pode ser um diferencial para a conquista de um emprego
A beleza pode ser sim um requisito numa seleção de emprego, mesmo que isso não seja divulgado de forma oficial. Promotores de eventos, modelos e comissários de voo, por exemplo, são alguns dos profissionais, que podem ser selecionados pelas suas características físicas. Entretanto, a beleza não é o único atributo a ser avaliado. Segundo alguns recrutadores as organizações também observam o perfil pessoal, a opção sexual o estado civil, entre outros.
A sócia da agência Três Marias e responsável pela área de RH, Ana Paula Santos, diz que os clientes são criteriosos. "Durante a seleção, primeiramente, é avaliado se o candidato atende as especificações exigidas pelo cliente, como altura, cabelo, pele, formação e em alguns casos se eles são bilíngues", explicou. Em relação à perspectiva profissional e a remuneração, a gestora relata. "Os promotores podem chegar a R$ 3 mil, porém, a carreira é curta e não há estabilidade. Sempre oriento os jovens para estudar e se dedicar a uma profissão".
Foi o que fez a fisioterapeuta Daniela Cascão, 29 anos. "Sempre dividi o meu tempo para estudar, estagiar e fazer promoção. Agora pretendo seguir outra carreira", disse. Quanto às exigências das empresas, ela relata as qualificações já são conhecidas no mercado. "Há vários perfis solicitados, dentre eles, o ‘AA’, ‘A’, ‘B’ e ‘C’. O ‘AA’ é a garota que tem que ter pele perfeita - sem manchas, alta, magra e cabelo saudável, por exemplo," falou.
Durante a entrevista, a promotora também ressaltou os aspectos negativos do trabalho: “Não temos carteira assinada, não somos reconhecidos, recebemos cantadas de clientes e convites para sair", lamentou Daniela Cascão. A promotora Beatriz Almeida, de 19 anos, também aborda o assunto. "Muitas vezes passamos por situações constrangedoras, mas temos que ter postura e saber lidar com a situação", explicou.
Ambas estão prestando serviço para agência, porém, já planejam mudança de atuação. O estudante de engenharia Pedro Emídio também vai seguir a mesma estratégia. De acordo com o promotor, "a beleza tem prazo de validade e a carreira é passageira. Por isso pretendo me formar e seguir a profissão de engenheiro", falou.
A carreira de modelo também possui suas peculiaridades. A modelo Roberta Xavier, de 17 anos, divide o seu tempo entre a graduação de engenharia e a atuação nas passarelas. "São minhas duas paixões. Não tem como escolher agora, mas dependendo das oportunidades que venham a surgir", relatou. A modelo ainda diz quais os principais cuidados para manter a boa forma física. "Musculação, massagem moderadora, tratamento específico para a pele e o cabelo são alguns deles", disse.
Um dos sócios da Agência Fidelis Models, Fidelis (como é conhecido no mercado) diz que os clientes especificam o perfil desejado. Porém, muitas vezes as qualificações vão depender do produto. "Temos um casting com 80 modelos, de crianças a idosos. Há trabalhos para todos os perfis", comenta. Em relação ao valor pago por trabalho, ele afirma que o cachê pode variar de R$ 150 a R$ 3 mil, dependendo da campanha.
Outra área profissional que também é rotulada como detentora de belos colaboradores é a de comissário de bordo. A paraibana Rosângela Oliveira, de 25 anos, deixou a cidade natal, Campina Grande, e foi para São Paulo em busca do seu sonho, que é ser comissária. "Desde pequena gostava de avião, inclusive, preferia ficar no aeroporto a brincar no parque", lembra. Quanto à dedicação e as exigências das empresas aéreas, ela conta que está se preparando para o processo seletivo no final de 2014. "Estou fazendo o curso. Mesmo com as exigências das organizações, como postura, simpatia, etiqueta e conhecimentos específicos, eu me sinto segura", afirma.
A seleção para comissário de bordo é realizada anualmente, dependendo da necessidade. Segundo a coordenadora do Centro Educacional de Aviação do Brasil (CEAB), Arlete Lucca, os candidatos precisam atender as especificações das empresas de aviação. "Eles pedem simpatia e postura, conhecimento, mas se o futuro comissário for bonito, isso ajuda indiscutivelmente", explica. Ela ainda informa que a remuneração dos profissionais pode chegar a R$ 4 mil e que a aposentadoria é retirada mais cedo. "Um ano para o comissário equivale a um e quatro meses, devido à insalubridade", exemplifica.
Diretos dos prestadores de serviço
Mesmo com as exigências das empresas, algumas atividades não são regidas pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), como é a situação das carreiras explicitadas, exceto a de comissária de bordo. Além disso, independente da contratação, a empresa não pode agir ou denotar atitudes preconceituosas durante o processo seletivo.
"De acordo com o artigo sétimo da Constituição Federal, não se pode ter nenhum tipo de preconceito. Isso inclui a altura, beleza, opção sexual ou estado civil, por exemplo. Quem regulamenta o tipo de discriminação é o Ministério do Trabalho e quem fiscaliza é o Ministério Público", relata o especialista em Direito Público e do Trabalho, Giovanne Alves.
Ainda segundo o advogado, há um Termo de Ajuste de Conduta feito entre as empresas e os principais veículos de comunicação, que não permite o anúncio de vagas de emprego que incite a discriminação. "Chamadas como boa aparência, ou especificações que denotem o preconceito", complementa.
Giovanne ainda explica que caso isso ocorra a empresa pode sofrer um processo de danos morais, entre outros. Quanto as cantadas ou possíveis convites que venham a ferir ou denegrir o trabalhador, o advogado orienta. "Nesses casos, o prestador de serviço deve entrar com um processo civil na justiça comum", enfatiza.