Dia Nacional dos Surdos: educação ainda pede avanços

LeiaJá visitou escola pública que é referência no ensino para alunos surdos. Estudantes descreveram suas necessidades educacionais

por Ítallo Olimpio qui, 26/09/2019 - 08:56

No Dia Nacional dos Surdos, comemorado nesta quinta-feira (26), muitos aspectos no que tange à educação desses indivíduos ainda precisam de avanços. Os surdos têm, como idioma nativo, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), elevada à língua oficial do Brasil, junto ao português, pela lei nº 10.436 de 2002. Ainda assim, eles podem ter dificuldade na hora de se comunicar em português. 

No Recife, a Escola Estadual Governador Barbosa Lima é a unidade de ensino estadual com maior número de alunos surdos em Pernambuco. Dos 1.046 alunos surdos matriculados na rede, 123 estudam no Barbosa Lima, segundo dados da Secretaria de Educação do Estado. De acordo com o gestor da instituição, Erick Rangel, há uma disciplina de Libras, eletiva, disponibilizada para os alunos do segundo ano do ensino médio. 

“A escola está passando para o novo formato do ensino médio. Com o aumento da grade horária, com seis aulas diárias, foram acrescentadas duas disciplinas de projeto de vida e empreendedorismo, uma de português, uma de matemática e uma eletiva. Aí, uma das eletivas é Libras”, detalha o gestor.

Para a intérprete Aldenice Pereira, que atua na escola, projetos de inclusão são importantes para criar um ambiente agradável. “Hoje temos aqui [na escola] um projeto de voleibol para surdos com a oportunidade de alunos ouvintes também participarem. Essa interação deixa a convivência e o ensino mais leve”, diz. 

Para Leandro Kléber, 19, aluno do terceiro ano do ensino médio, a comunicação entre ouvintes e surdos ainda é uma barreira. “Precisamos avançar nessa questão, para mostrar que o surdo tem identidade, para ser visto como pessoa”, conta, em Libras. Quando questionado sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Leandro mencionou a quantidade de textos em língua portuguesa. "É difícil entender os textos, porque todos são em português, outro idioma. Agora, com a prova em Libras, eu achei muito bom para a comunidade surda”, finalizou. 

Leandro se refere à aplicação de provas em Libras, por vídeo provas, iniciada no Enem em 2017, pelo Ministério da Educação (MEC). Na modalidade, o enunciado e alternativas das questões são traduzidas para a Língua Brasileira de Sinais e exibidas em vídeo para o participante surdo.

Para Wesley Paulo, 19, colega de classe de Leandro, a inclusão ainda é necessária para que os alunos ouvintes consigam se comunicar melhor em Libras. “Eles usam o português, falam o português, mas a gente ainda consegue compartilhar experiências através de um português sinalizado. A inclusão também é importante para que a gente possa conhecer, também, outras coisas da língua portuguesa”, opina.

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Segundo a estudante Amanda Santos, 21, é preciso ter uma relação de aprendizado que inclua a família. “A família do surdo também precisa ter essa relação para que ele possa se desenvolver melhor e alcançar coisas boas na vida”, acredita a jovem.

Mesmo com intérpretes na escola, que traduzem os conteúdos na sala de aula, os alunos surdos não dispõem da tradução em ambientes como a secretaria ou cantina. Os funcionários da unidade de ensino, por já terem contato diário com a Libras, conseguem se comunicar, mas de forma básica. 

Questionada sobre processos seletivos que tenham como objetivo suprir a demanda citada pelos alunos, a Secretaria de Educação se posicionou. Confira a nota:

A Secretaria de Educação e Esportes informa que a Escola Governador Barbosa Lima é referência no Estado de Pernambuco no atendimento aos estudantes surdos. A escola conta hoje com 11 intérpretes de libras, que atendem aos 123 estudantes surdos da unidade nas salas de aula, cumprindo integralmente o que determina a legislação. O órgão esclarece ainda que os intérpretes estão autorizados a acompanhar os estudantes nas dependências da escola para auxiliá-los no que for preciso. A Escola também conta com uma equipe de professores com especializações em educação especial, Braille e Libras, que atuam na Sala de Recursos Multifuncional, oferecendo mais um suporte pedagógicos aos estudantes surdos e com outras deficiências.

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