Enem: há subjetividade na correção das redações?

Professor traz questionamento sobre uma das principais etapas do Exame

por Lara Tôrres ter, 08/10/2019 - 19:21
Lara Tôrres/LeiaJáImagens O professor realizou a palestra durante a 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco Lara Tôrres/LeiaJáImagens

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulga cinco competências exigidas dos estudantes que fazem a prova de redação. A entidade explica quais são as habilidades que os alunos devem demonstrar em seus textos, cada uma valendo 200 pontos. A divulgação da correção dos textos também tem por objetivo dar transparência e mostrar objetividade na correção. 

No entanto, a correção é frequentemente questionada por estudantes e professores de língua portuguesa devido a uma insatisfação com o detalhamento dos critérios de correção, diante de notas apontadas por algumas pessoas como discrepantes para textos de qualidade igual ou semelhante. Para candidatos e docentes, essa percepção cria não somente insatisfação, mas também suspeita sobre a possibilidade da prevalência da subjetividade dos corretores dos textos. 

Durante a 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, em Olinda, o professor de redação, gramática e literatura Isaac Melo realizou uma palestra sobre o tema e concedeu uma entrevista ao LeiaJá. Questionado sobre como é feita a correção das redações, ele explicou que os textos são corrigidos por dois professores que não se conhecem nem sabem a nota que o outro atribuiu ao estudante. 

Havendo discrepância maior que 100 pontos na nota global ou que 80 pontos em uma ou mais competências, a redação passa para um terceiro avaliador que também não tem informações a respeito das notas atribuídas pelos demais. Se ainda assim as diferenças continuam grandes, uma banca formada por três professores avalia o texto e decide a nota do estudante. “O problema é que a maioria das redações morre, ou aparenta morrer, na primeira correção, por dois corretores”, afirmou o professor.

Para o professor Isaac, o texto que descreve as competências que os alunos devem ter não são bem detalhados e deixam lacunas interpretativas, gerando subjetividade e deixando a decisão de quantos pontos atribuir em cada competência para o avaliador, sem clareza quanto aos motivos quando a correção é divulgada. 

"Por exemplo: demonstrar domínio da norma culta e da língua portuguesa. Se você for lá na competência 1 não descreve a quantidade de erros. Erro reincidente, o que seria isso? Eu erro uma vírgula, erro mais uma, perco quarenta pontos se eu errar uma terceira eu reincidir de novo e perco mais 40 ou somente se eu errar mais vezes?", questiona o professor.  

Isaac também explicou, durante sua fala na Bienal do Livro, que o Inep paga aos professores que realizam a correção não por dia de trabalho, mas por texto corrigido. Na opinião dele, essa maneira de operar cria uma ânsia por corrigir o maior número possível de textos por dia e reduz a qualidade da avaliação devido ao cansaço mental e visual.

Por fim, um dos problemas que o professor aponta como sendo de maior gravidade é o treinamento dos corretores das redações e os critérios seguidos por eles não serem de conhecimento público. Para a convocatória do Inep podem se inscrever profissionais formados em letras, língua portuguesa ou linquística. 

“A partir daí é um processo de treinamento online, ele precisa corrigir várias redações online para mostrar que sabe. Existe um processo interno que o Inep não divulga”, explicou Isaac.

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