Surpresos, professores explicam tema da redação do Enem

Docentes aconselharam sobre formas de construção textual e propostas de intervenção

por Camilla de Assis dom, 03/11/2019 - 15:49

“Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Esse foi o tema da redação escolhido pelo Ministério da Educação (MEC) a prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado neste domingo (3), em todo o país. O assunto gerou discussões e opiniões polêmicas sobre a escolha governamental ao tema principal de uma das provas mais esperadas no Enem.

Segundo a professora Lourdes Ribeiro, uma das propostas de intervenção é a retomada do Ministério da Cultura, além de um maior incentivo para a construção e expansão dos cinemas através de parcerias entre Ministério e empresas privadas. Outra proposta seria a ampliação do programa de "vale cultura”, segundo a docente. “Ao prestar atenção nas palavras chaves que inclui ‘acesso’, podemos entender que se trata da acessibilidade. Sabemos que o lazer deveria ser direito de todos, contudo esse ramo do entretenimento é elitista, visto que a localização dos cinemas (em sua maioria) está em shoppings, capitais... A população que mora em cidades interioranas e partes periféricas não têm a disponibilidade nem de transporte e, menos ainda, financeira”, disse Lourdes, em entrevista ao LeiaJá.

O professor Felipe Rodrigues alerta que o tema não deve ser considerado como difícil, mas sim diferente e inesperado. “A proposta textual trouxe uma avaliação da cultura e acesso à 7° arte, onde o aluno pode criticar os problemas que a não pluralização do acesso ao cinema, abruptamente, pode trazer. Desses, a estratificação social, assim como, a acessibilidade audiovisual podem ser contextos abordados, ou seja, atrelados à cultura”, explicou. 

Ainda sobre o texto, as propostas de intervenção, Rodrigues aconselha: “às propostas de intervenção, aos dois problemas citados, podemos  pensar no Projeto de Cinema de Rua, sendo as praças, comunidades e localidades anecúmenas os mais abrangidos; como também, investimento em incentivos à acessibilidade, na formação de instrutores, assim como, na obrigatoriedade das descrições audiovisuais, podendo ser ramificadas às libras, no tocante exibição”, disse.

Já o professor Talles Ribeiro argumenta que um dos debates que pode ser abordado pelos feras é sobre as questões que perpassam as condições sociais. “O tema deste ano do Enem traz à tona um debate riquíssimo sobre as condições que permitem o acesso a esta ferramenta. Porém os desafios para esta democratização vão além de questões culturais. Perpassam por questões sociais, econômicas e até geográficas, quando colocamos a luz da análise as condições que são criadas as salas de cinema pelo país”, disse.

Uma das propostas de intervenção selecionadas pelo docente tem a ver com a garantia “acesso dos grupos socialmente excluídos através do incentivo financeiro do governo à abertura de novas salas nessas áreas naturalmente excluídas”.

Segundo a professora Josicleide Guilhermino, a leitura ao material de apoio fará diferença na construção do texto do estudante para que ele não fuja do foco. “O recorte geográfico e as condições sociais eram possibilidades de tese, visto que, além de o cinema estar localizado em áreas centrais, o que dificulta o acesso das regiões interioranas, periferias e afins; ele ainda é elitista, ou seja, possui custo alto, dificultando o acesso da classe baixa”, disse. 

A proposta de intervenção, de acordo com a professora, “o estudante poderia pensar em como descentralizar o cinema em si, levando a regiões interioranas e como baratear o custo. Mas, não apenas isso, visto que só baratear o custo não garante o acesso da classe baixa, se ela continua vendo aquele espaço como não lhe pertencente. Logo, se faz necessário a mudança de mentalidade, o que perpassa o sistema educacional”.

Confira o vídeo abaixo:

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