Intercâmbio, sonho interrompido pela pandemia

Estudantes do Programa Ganhe o Mundo precisaram deixar seus intercâmbios por causa do novo coronavírus

por Maya Santos dom, 05/04/2020 - 15:15
Cortesia Pernambucana Thaís de Souza precisou voltar dos Estados Unidos diante da pandemia Cortesia

Para muitas pessoas, fazer uma viagem ao exterior é uma meta de vida. No entanto, apesar das dificuldades econômicas, estudantes da rede pública de ensino de Pernambuco, através do Programa Ganhe o Mundo (PGM), têm realizado o sonho de estudar fora do país. Agora, devido à pandemia do novo coronavírus, ocasionando a Covid-19, o sonho foi interrompido. 

De Pernambuco para terras estrangeiras

Aprender línguas estrangeiras agrega valor ao repertório de qualquer estudante, ainda mais se esse exercício for praticado nos países de origem dos idiomas. O sonho de aprender inglês tornou-se realidade para a estudante Thaís de Souza Alves Barbosa, 17 anos, aluna da Escola Técnica Alcides do Nascimento Lins, localizada em Camaragibe, na Região Metropolitana de Recife. Em entrevista ao LeiaJá, a jovem do ensino médio nos conta que “nenhum dinheiro pagaria a experiência” que teve nos Estados Unidos.

Thaís vivenciou os momentos de aprendizagem e interação em solo norte-americano na cidade de Turner, localizada no estado de Maine, região Nordeste dos EUA. No ano passado, estudantes da rede pública de ensino de Pernambuco tiveram a oportunidade de participar do Programa Ganhe o Mundo, ligado à Secretaria de Educação e Esportes do Estado (SEE). No programa, os alunos teriam aulas de línguas estrangeiras, como inglês, espanhol e alemão.

Após o período de aprendizado teórico no país de origem, o estudante passa por prova de nivelamento para verificar se está apto para prosseguir na próxima etapa, praticando a língua no tão sonhado intercâmbio. Durante dois meses de viagem, Thaís diz que conquistou uma oportunidade de ‘ouro’ que proporcionou experiências que a tornou madura. “Todos os momentos que eu vivenciei lá [nos EUA], me fizeram mudar, me fizeram crescer, amadurecer, me fizeram olhar para o mundo de uma forma mais crítica”, afirma a intercambista.

A chegada da pandemia

Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, República Popular da China, a epidemia do novo coronavírus já davam sinais da alta virulência para o restante do mundo. Em março deste ano, Organização Mundial da Saúde (OMS) passa a considerar a Covid-19 como pandemia. Neste período, intercambistas brasileiros já estavam em terras estrangeiras.

A intercambista pernambucana conta que o coronavírus ainda não era pautado no estado de Maine (EUA), até o primeiro caso ser confirmado na região. Um das medidas adotadas pela cidade foi o fechamento de todas as escolas e faculdades. Em seguida, outras medidas foram aplicadas, como aulas online, isolamento social e higienização das mãos e locais, conforme recomendação emitida pela OMS. 

Cuidados e decisões preventivas

De acordo com cronograma do PGM, os estudantes deveriam passar quatro meses em intercâmbio, mas devido à pandemia, a dinâmica do programa mudou. Como forma de proteger os estudantes, a SEE esclareceu que, devido à redução de voos internacionais e nacionais, o retorno ao Brasil de 157 estudantes exigiu uma logística diferenciada, que representou um grande desafio dada as limitações.

A Secretaria ainda informa que durante toda a viagem, “todos os estudantes que retornaram, receberam materiais específicos com orientações sobre o isolamento que devem ter neste retorno ao Brasil, no período de sete dias, e também dicas de prevenção e cuidados de higiene de acordo com as recomendações da Secretaria Estadual de Saúde”.

A intercambista diz ter realizado todos os procedimentos, que iniciou nos EUA até chegar em Pernambuco. Ao chegar no Brasil, sua temperatura foi aferida e, mesmo não apresentando alterações, a jovem foi encaminhada para isolamento social, em sua residência em Pernambuco, conforme recomendação da Secretaria Estadual de Saúde (SES).

Relação com a familia

Agora em casa, cumprindo o isolamento recomendado, a estudante segue com aulas online e com os estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Thaís pretende tentar uma vaga para medicina, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Em casa, a família é o ponto essencial para manter uma rotina que contribui neste processo de isolamento social necessário. Para a família de Thaís, a “ficha só caiu” quando o vírus chegou aos EUA. Através de aplicativo de mensagens, a estudante pôde tranquilizar a família, sempre mantendo contato durante todo período que esteve em quarentena em terras norte-americanas.

O irmão de estudante, Thiago Souza, 25, destaca que a preocupação maior era “saber como ela estava com relação à pandemia". "Porque como ela estava em outro país, querendo ou não, o sistema de saúde é totalmente diferente do Brasil”, desabafou Thiago em entrevista ao LeiaJá.

Agora, a mãe da pernambucana, Lucia Maria de Souza, 47, e o pai, Orlando Alves Barbosa, 47, e o irmão respiram aliviados com retorno da estudante e expressão gratidão por ter ela em casa. Para a família norte-americana, que inicialmente recebeu a intercambista, também ocorreram mudanças.

A estudante recebeu a comunicação de que teria que mudar para outra casa. A medida previa isolamento antes do retorno ao Brasil. Após o período de isolamento que durou sete dias, a estudantes trilhou o caminho de volta para casa.

O sonho interrompido

Ao saber do retorno, a estudante conta que a decepção acaba sendo inevitável. Mas, analisando a situação de forma crítica, a pernambucana entende que foi necessário retornar ao Brasil.

“Eu sempre procurei me precaver dessa situação de uma forma tranquila, de uma forma calma, sem ficar frustrada, porque é assim quando você amadurece”, desabafou a intercambista.

Ao todo, são 591 intercambistas da rede estadual de ensino público distribuídos nos países: EUA (236), Canadá (161), Austrália (84), Nova Zelândia (48), Argentina (27), Colômbia (20) e Inglaterra (15). Do total informado, retornaram 157 intercambista do Canadá (12), EUA (6), Espanha (23) e Chile (116).

A Secretaria de Educação esclarece que todos os pais foram devidamente informados sobre a decisão de trazer os estudantes para o país de origem, mas informa que o retorno dos grupos restantes está a critério da avaliação de acordo com situação de cada país.

Desfecho

Em nota, a SEE reforça que “neste  momento, a decisão é de manter no intercâmbio os estudantes que ainda estão no exterior”, devido às complicações em conseguir voos nacionais ou internacionais, reduzidos em prevenção a propagação do coronavírus.

A Secretaria afirma que todos os estudantes passam bem e são monitorados diariamente pela equipe do Programa Ganhe o Mundo e pelas instituições internacionais parceiras do programa. A nota ainda explica que está em licitação para a seletiva do PGM 2020 e que qualquer definição sobre o PGM 2019.2 serão tomadas após o período da pandemia do coronavírus.

Enquanto isso, Thaís e outros 156 intercambista pernambucanos aguardam com esperança um retorno positivo do programa que proporcionou tantas  “experiências inexplicáveis”.

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