Os raros casos de promoção no trabalho durante a pandemia

Crise econômica ocasionada pelo novo coronavírus travou aumentos salariais nas empresas brasileiras. Raras exceções são comemoradas pelos profissionais

por Maya Santos sex, 11/09/2020 - 17:04
Cortesia A jovem Mercedes comemorou promoção no seu emprego Cortesia

Suspensão de contratos. Redução salarial. Desligamentos. Esses fatos estão sendo comuns durante o período de crise econômica brasileira em meio à pandemia do novo coronavírus. Até junho deste ano, a taxa de desemprego subiu para 13,3% no País, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa taxa ganha proporções maiores quando há um recorte regional. No Nordeste, há uma estimativa de 34,1% de pessoas desempregadas no primeiro trimestre de 2020. Enquanto isso, Pernambuco conta 13,5% de pessoas desocupadas até julho deste ano, ou seja, sem nenhum tipo de trabalho. Os dados são do IBGE.

“As empresas, com a pandemia e com a crise, não têm pra quem vender [produtos ou serviços]; elas têm um comprometimento com sua receita e terá que honrar com seus custos fixos”, analisa o economista Daniel Campelo. “Um desses custos é justamente com mão de obra. Uma empresa despreparada, por exemplo, ela corta mão de obra e assim corta custos”, completa.

De acordo com Daniel, os dados econômicos apontam que, “durante a pandemia, as empresas, de forma geral, têm dado uma segurada nas promoções e nos aumentos salariais dada a inconsistência do mercado financeiro e do consumidor”. Apesar dessa movimentação desfavorável, há alento para alguns trabalhadores como Mercedes Nayara, 20 anos, que foi promovida ao cargo de analista financeiro no primeiro semestre deste ano.

“Em meados de 2019, comecei meu primeiro emprego como jovem aprendiz no cargo de aprendiz de auxiliar administrativo”, relata Mercedes. “No início de janeiro de 2020, fui contratada por tempo integral como assistente administrativo. Logo em março, entramos na pandemia e muitos colegas tiveram seus contratos suspensos, mas eu fiquei trabalhando em home office”, relembra.

Posteriormente, Mercedes alcançou a primeira promoção. “Logo após o retorno das atividades presenciais, recebi a notícia que seria promovida à analista financeira e fiquei muito feliz com a notícia, pois mesmo em tempos de pandemia, as portas para mim se abriram”, explica a analista em entrevista ao LeiaJá.

Depois disso, Mercedes conseguiu uma segunda promoção neste ano, assumindo novas responsabilidades. “Tem sido bem puxado, mexer com financeiro é uma responsabilidade muito grande”, diz a profissional.

A entrevistada é moradora da Zona Oeste do Recife, e está no quarto período do curso de enfermagem da UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau. Mercedes revela que recebia em média R$ 500 como jovem aprendiz e que, agora, na nova função, esse valor praticamente triplicou.

Se comparada com a taxa de desemprego (27,1%), entre jovens brasileiros de 18 a 24 anos, a história da jovem é uma exceção diante da atual realidade frente à pandemia. O economista Daniel Campelo explica que casos como esses “podem acontecer”, mas são específicos, levando em consideração a própria reação do mercado diante da crise, resultando em um “recuo”. O especialista reitera que “a tentativa é de manter empregos”.

Tendências do mercado de trabalho

O economista reforça que as empresas que resistiram melhor à crise são as que oferecem serviços essenciais. No entanto, o especialista ressalta algumas estratégias adotadas pelas companhias, de produtos ou serviços, para manter os empregos. “Nos casos possíveis, houve a liberação da equipe para realizar o trabalho a distância, o home office”, explica o profissional.

Daniel ainda aponta que esse movimento é uma tendência que “vai apresentar nos próximos meses e anos, uma nova dinâmica para as organizações”. Com isso, o profissional ressalta que é possível observar impactos no mercado financeiro e no laboral - esse último refere-se a aqueles que oferecem força de trabalho.

A especialista em gestão, qualidade e produtividade, Lu Bazante, diz que as “organizações precisam se manter observando e avaliando os seus colaboradores, num fluxo natural da relação entre eles” e que “escolher a melhor pessoa para um cargo ou funções, é algo desafiador não apenas em período de pandemia”. Ela também explica que “se essa promoção traz consigo aumento salarial, para este momento atual, isso pode ser um alívio para aquele colaborador”.

Nesse sentido, e com as incertezas no mercado mencionadas pelo economista Daniel Campelo, Lu Bazante explica que pode haver “insegurança em muita gente e pode ser que traga como efeito secundário o aumento da competitividade dentro das organizações”. 

“A formação de um indivíduo também é muito relevante para os resultados da organização. Por isso, definir requisitos básicos e buscar pessoas que os tenham impacta sim nos resultados", acrescenta a especialista.

Para entender melhor os efeitos causados nas pessoas pós-promoções, conversamos com a psicóloga Márcia Karine Monteiro. “Hoje, você receber uma promoção é uma valorização e reconhecimento ainda maior do trabalho realizado”, diz a profissional, que também é coordenadora do curso de psicologia da UNINASSAU. Com isso, a autoestima do colaborador será elevada.

Além desse fator, a piscologa alerta sobre a importância de um clima organizacional, que deverá contribuir para o melhor desempenho desse colaborador ante as circunstância atuais. 

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