Enem: pais também enfrentam desafios em meio à pandemia

Na complexa preparação para o Enem 2020, em pleno cenário pandêmico, pais sentem a luta dos candidatos que enfrentam o ensino remoto

por Aurilene Cândida sex, 23/10/2020 - 14:53
Cortesia Viviane Roberto e sua filha, Mariane Marinho, estudante do segundo ano do ensino médio Cortesia

Inúmeros desafios são enfrentados pelos estudantes, em especial os que irão realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), diante de um cenário de incertezas e mudanças no setor da educação. No entanto, os pais e responsáveis pelos alunos também afirmam passar por momentos de angústia, boa parte deles preocupada com o aproveitamento dos filhos no ensino remoto.

No início da pandemia de Covid-19, Andréa de Aquino, mãe de Maria Eduarda, de 17 anos de idade, pensou que o ensino remoto não daria certo. “Em um primeiro momento, eu achei que não iria dar muito certo, mas minha filha está dando conta do recado. Mesmo assim sinto que não dá para aproveitar ao máximo, pois além de ser algo novo, também tem a questão do interesse, e por ser em casa acredito que não chega a ser um bom aproveitamento nos estudos, como seria no modo presencial, sem contar na dedicação que tem que ser dada aos assuntos do Enem”, diz. 

Maria Eduarda está no último ano do ensino médio, fará Enem na modalidade impressa, tem aulas de 8h às 12h, e no turno da tarde participa de um curso para reforçar os estudos. “Muitas vezes tenho que ficar alertando ‘olha a aula’, ‘vai começar a aula’, coisa de mãe. Eu pensei que as aulas on-line não iriam durar tanto tempo e ela iria desistir”, acrescenta Andréa.

Andréa Aquino e sua filha, Maria Eduarda. Foto: Cortesia

“Eu não gosto muito do ensino on-line, porque fico muito dispersa, acho que não dá para entender, não dá pra tirar dúvidas da mesma forma que tirava antes. Vejo a situação como uma forma que as autoridades quiseram ajudar, mas em alguns pontos acabou atrapalhando”, comenta a estudante.

A educadora Cristiane Pantoja explica que a educação é um processo cheio de etapas. Muitos conceitos que são apresentados aos alunos tal ano, só serão entendidos plenamente no decorrer dos anos escolares. “Aprender também requer experiências e está ligado ao desenvolvimento da maturidade cognitiva do aluno. Vejo que a Covid-19 ressalta as problemáticas na educação, mas também oportuniza as reinvenções pedagógicas. A tecnologia é importante e necessária, mas a postura do aluno diante o empenho em estudar é algo particular”, opina a professora.

O LeiaJá também entrevistou a mãe Viviane Roberto, mãe de Mariane Marinho, 17 anos, que está cursando o segundo ano do ensino médio e vai realizar o Enem como treineira. As aulas de Mariane são das 7h30 às 17h. 

De acordo com Viviane, a estudante sempre se mostrou esforçada para aprender, mas ela acredita que há estresses e desafios enfrentados. “Não acompanho muito a rotina de estudos da minha filha por trabalhar praticamente o dia inteiro, o que me preocupa, mas já cheguei a vivenciar momentos em que ela estava estressada e chegando até a chorar por não entender algum assunto ou pensar que não iria conseguir passar por tudo isso”, revela Viviane. “Isso acaba refletindo em mim também, pois sei e imagino o quanto está sendo difícil passar por tudo isso”, acrescenta a mãe.

Para a professora Cristiane Pantoja, quando se estuda há sempre ganhos, independente do formato. “Não acredito em um ano perdido para a educação, mas reconheço que o desenvolvimento do aluno tende a melhorar numa situação de aulas presenciais. A palavra é tender mesmo, pois o processo de aprendizagem requer compromisso. Tem aluno que desenvolve esse compromisso, outros não. Independente se em casa ou em sala de aula”, analisa Pantoja.

Mariane relata que é difícil não haver um professor presencialmente e ter que aprender por meio de aparelhos eletrônicos. “Os professores fazem de tudo para aprendermos, mas o assunto parece que não entra, sabe? Fica muito complicado, por exemplo, as chamadas por vídeo, às vezes, ficam difícieis de entender”, comenta a aluna.

“Após as aulas da escola, sempre busco estudar um pouco para o Enem. Mesmo realizando a prova como treineira, tenho em mente que o meu esforço irá me ajudar em algum momento”, relata Mariane.

“Acreditei que as aulas remotas iriam durar apenas uns três meses e voltar tudo ao normal, no início também achei que não iria dar certo o ensino nesta modalidade, mas com o empenho dela as coisas foram se alinhando”, acrescenta. Viviane.

Cristiane Pantoja ressalta que, apesar das dificuldades, o ensino remoto oferece meios de aprendizado. Ela destaca: “A relação entre a postura do aluno diante do próprio compromisso de estudar e o respeito familiar quanto ao momento de estudos, me ocupam mais o pensamento. Se aulas em casa não funcionassem, não haveria diplomados e profissionais competentes em países que têm, em sua tradição, a possibilidade de escolha por esse modo de ensino”.

A mãe de Maria Eduarda, Andréa, diz que o ambiente também influencia no momento dos estudos e que enxerga a situação como um obstáculo. “Em casa, ela se distrai,  então sempre acaba fazendo algo que não é para fazer, ambiente propício para dar uma escapulida; de repente está dormindo”, conta.

Andréa ainda opina que, "infelizmente", não foram tomadas atitudes concretas e certeiras no setor da educação. ”Acredito que o ensino não está sendo priorizado, se um nível escolar for autorizado para voltar às atividades presenciais, todos têm que ser autorizados também, apesar de que eu acho muito cedo para todos os estudantes voltarem”, comenta.

Por fim, a professora Cristiane Pantoja deixa um recado para os pais e estudantes: “Quanto mais diálogo, equilíbrio e empenho, melhor. Relembrando que educação é um processo. Se foi mais dificultoso em um ano, há sempre como buscar equilíbrio e ganhos nos outros que virão”.

A prova impressa do Enem será realizada nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021. Já a versão digital está marcada para 13 de janeiro e 7 de fevereiro.

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