Infectologistas se dividem sobre realização do Enem

Profissionais de saúde reconhecem o risco de infecção, mas divergem sobre o adiamento da prova

por Katarina Bandeira sab, 16/01/2021 - 15:53
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Primeira prova do Enem está marcada para este domingo (17) Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Faltando menos de 24 horas para a primeira parte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), infectologistas pernambucanos voltaram a alertar para o risco de contaminação, principalmente, durante o trânsito aos locais de prova. Apesar de concordarem no que diz respeito aos cuidados necessários para evitar a disseminação da Covid-19, os especialistas em saúde divergem sobre o adiamento do exame, marcado para os dias 17 e 24 de janeiro. 

'O correto seria que o exame fosse adiado'

"Essas provas devem ser adiadas por inúmeros motivos. Um deles é o fato de aumentar a exposição desses jovens, em um momento extremamente crítico da pandemia", afirma a infectologista Marcela Vieira Freire. "Ainda que existam inúmeras medidas, serão milhares de jovens que vão sair de suas casas, pegar transporte, aglomerar e depois retornar às suas casas podendo infectar suas famílias", explica, a especialista em saúde destacando que, com a pandemia em um de seus piores momentos, realizar o certame não seria uma decisão responsável.

“As medidas são uma tentativa de reduzir as chances de transmissão, mas não isentam que, se um jovem contaminado estiver na sala, ele possa contaminar vários outros. Mesmo que haja um distanciamento adequado, são muitas horas de prova. O uso da máscara ajuda a reduzir, mas o risco existe e não só na prova”, assevera.

'O Enem não deve deixar de ser realizado por conta da pandemia'

Porém, nem todos os profissionais concordam que adiar o exame seria uma medida eficaz para frear a disseminação do novo coronavírus. Para o infectologista e hepatologista, Lucas Caheté, com os cuidados necessários é possível realizar o Enem de forma segura. “É considerado um risco relativamente baixo se tiver as precauções de isolamento de contato. Uso de máscara obrigatório durante a prova toda, cada estudante deveria ter seu próprio álcool em gel e ter o cuidado do distanciamento na sala”.

Para ele, o risco maior é durante a entrada e saída da prova, onde há a maior probabilidade de aglomeração e o transporte público. Porém, com a ausência do Lockdown no Estado, a abertura das praias e do comércio, a prova teria um peso pequeno na rotina dos estudantes. “Essas pessoas não estão em isolamento completo. Elas estão saindo de casa, estão se encontrando, por isso estamos tendo um aumento de casos. O Enem não mudaria muito essa rotina, ao meu ver”.

Riscos infecciosos e psicológicos

Mas o problema do Enem não se resume apenas aos riscos de infecção. Para a infectologista Marcela Freire, o efeito psicológico também deveria ser levado na hora de adiar o exame. “Não é somente a questão da transmissibilidade, esses jovens estão sob uma pressão altíssima para fazer a prova, além de tudo com os riscos todos de poder infectar suas famílias, sem contar com o fato de que muitos jovens perderam familiares, estão abalados emocionalmente, estamos vivenciando uma semana terrível com todos esses casos. O aumento das lotações das UTIs no Brasil inteiro e a manutenção dessas provas para mim é hediondo”, pontua. 

Caso os estudantes ainda assim decidam realizar o exame, a médica alerta para os cuidados durante e após a prova. “As medidas continuam as mesmas: utilização de máscaras que precisam ser trocadas a cada duas horas, ao chegar ao prédio, ir direto realizar o exame e depois se deslocar sem formar grupinhos, como costuma acontecer. E ao chegar em casa colocar logo a roupa para lavar e evitar ao máximo contato com a família pelos próximos sete dias subsequentes à realização da prova”, indica.

Enem 2021

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), nesta edição, estão inscritos 5,8 milhões de participantes, sendo 5.687.271 de inscrições para o Enem impresso e 96.086 para o Enem Digital. 

A abertura dos portões será realizada às 11h30 e os participantes só podem sair dos locais de aplicação a partir das 15h30. Para as medidas de proteção, o texto do edital obriga os participantes a utilizar a máscara corretamente, ou seja, cobrir do nariz ao queixo. De acordo com a regra “o participante que não utilizar a máscara cobrindo totalmente o nariz e a boca, desde sua entrada até sua saída do local de provas, será eliminado do Exame”. 

Durante a prova os candidatos são autorizados a levar máscaras extras para realizar a troca durante o certame e, em caso de precisar descartar o equipamento de proteção, as lixeiras dos locais de prova deverão servir para este fim. Estudantes terão acesso a álcool em gel e deverão ficar distantes 1,5 metro um do outro, durante a realização do Enem.

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