Pesquisa aponta menos violência no ensino médio integral

Pela visão dos educadores, a ampliação da carga horária está ligada aos resultados positivos

por Jennifer Buarque seg, 03/01/2022 - 11:13
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A pesquisa do Instituto Sonho Grande, realizada a partir da análise de informações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e divulgada em dezembro, constatou que estudantes matriculados em escolas públicas de ensino médio integral (EMI) têm menos episódios de violência comparados com o ensino médio regular.

O estudo, que avaliou a perspectiva dos gestores e professores em relação ao assunto, verificou que o índice de violência geral chega a ser 8,6% menor e o índice de violência velada 13,5% inferior quando comparado com escolas que não são integrais. Dentro de violência geral foram incluídas: violência explícita, com atentados à vida, roubos e agressões físicas, e a violência velada, que diz respeito às ameaças, ao consumo de drogas e à presença de armas.

A pesquisa reforça que a violência é um problema sistêmico no Brasil. Dados do Atlas da Violência (Ipea 2020) mostraram que a situação é ainda mais preocupante entre os jovens, sendo o homicídio a principal causa de morte entre pessoas de 15 e 29 anos. Nessa mesma faixa etária, em 2018, 30.873 vidas foram perdidas sendo a grande maioria de negros. “Um ambiente escolar violento traz consequências negativas, como maiores taxas de absenteísmo, abandono e evasão, rotatividade entre professores e gestores, mais dificuldade de concentração e piores níveis de aprendizado e desempenho acadêmico”, registrou o documento do Instituto Sonho Grande.

O estudo comparou escolas parecidas em várias dimensões (como infraestrutura, número de estudantes, desempenho no Ideb), com a principal diferença sendo o tipo de ensino ofertado. Também buscou observar se existe distinção no nível de violência entre as escolas que aumentam a carga horária com atividades complementares e aquelas que ampliam a jornada escolar para conseguir implementar um modelo pedagógico de ensino integral.

Outros dados constatados pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/ IBGE) revelaram que a proporção de estudantes que faltaram às aulas por se sentirem inseguros dentro da escola passou de 5,5% em 2009 para 9,5% em 2015. Para os gestores, a violência, medo e insegurança fazem parte da rotina. 46,3% desses profissionais registraram a ocorrência de eventos violentos no ambiente escolar, entre eles atentados à vida, roubos com uso de violência ou mesmo ameaças a profissionais por algum estudante.

Ampliação da carga horária e qualidade da educação  x redução da violência escolar

A pesquisa constatou que investir num modelo educacional que promove maior aprendizado, que foca no desenvolvimento socioemocional e na melhoria na relação entre os indivíduos da escola, como o modelo do Ensino Médio Integral, tende a diminuir que os jovens se envolvam em episódios de violência dentro das escolas.

O estudo levou em consideração grande parte da literatura sobre os impactos de curto prazo da educação na violência que se preocupa mais com a quantidade de horas que os jovens passam na escola do que com a qualidade desse tempo. Os resultados do estudo foram na contramão dessa literatura apontando que é mais importante avaliar como o tempo adicional é utilizado, e não apenas ampliar a carga horária, para obter redução na violência.

No Brasil, já são cerca de 3720 escolas no modelo e 778 mil estudantes. Entre os trabalhos realizados pelo EMI estão: tutoria, nivelamento, protagonismo juvenil - com a criação de clubes juvenis e líderes de turma - acolhimento, além de componentes curriculares específicos, como orientação de estudos e práticas experimentais, que promovem a formação completa do estudante, junto às disciplinas tradicionais já previstas.

Apesar de apresentar crescimento exponencial no último IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e média nacional do IDEB de 4.7 pontos, enquanto a média nacional foi de 3.7 pontos, o modelo, que é uma proposta pedagógica multidimensional e moderna, ainda é pouco conhecido.

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