É adequado debater política no trabalho? Entenda

Segundo especialista em recursos humanos, a expressão política não será responsável por prejudicar a imagem do funcionário, mas sim, seu comportamento e o caminho escolhido para manifestar sua opinião

por Thaynara Andrade qui, 07/07/2022 - 10:20
Freepik Pessoas discutindo em ambiente de trabalho Freepik

A polarização política é uma realidade notória no Brasil e que tende a se intensificar às vésperas do período eleitoral. Neste momento bastante acalorado, além das manifestações nas redes sociais e nas ruas, muitas pessoas podem se sentir à vontade para expressar suas posições ideológicas e apoio a determinado candidato ou partido no ambiente de trabalho.

Contudo, por mais que a liberdade de expressão seja um direito, o ambiente profissional por ter suas próprias regras de conduta e um certa exigência de discrição pessoal, pode nem sempre ser tão aberto para manifestações como debates políticos com colegas, uso de acessórios como bonés ou roupas que indiquem uma posição política ou mesmo decorações na mesa de trabalho com itens que demonstram a adesão a um partido ou candidato.

Em entrevista ao LeiaJá, a CEO de recrutamento e seleção da i9hunter, Ana Chauvet, sintetizou que não há uma rigidez a respeito se é permitido ou não que os funcionários se expressem politicamente no trabalho. A especialista em recursos humanos esclarece que há ambientes profissionais mais abertos a essas discussões, enquanto outros não são tão favoráveis a isso, sendo melhor evitar.

“Naturalmente, o assunto já possui opiniões diversas. Entendo que debater sobre o tema e expor a opinião pessoal é uma linha tênue e o cuidado precisa estar exatamente aí. Óbvio que a liberdade de expressão prevalece, temos esse direito e precisamos olhar para isso, porém em um grupo, seja ele qual for, é preciso entender sobre limites, sobre as regras do ambiente corporativo, pois em alguns momentos essa pluralidade de opinião pode ser extremamente rica, por outro lado, pode ser destrutiva”, explica.

De acordo com Ana, a expressão política não será responsável por prejudicar a imagem do funcionário, mas sim, seu comportamento e o caminho escolhido para manifestar sua opinião. “O que prejudica a imagem de um profissional na empresa é a forma como ele expressa e não o que ele expressa. Ter opinião, seja ela qual for, é algo que faz parte do ser humano, mas como isso é exposto que é o grande problema", salienta.

A CEO da i9hunter exemplificou algumas atitudes que podem fazer uma opinião política que poderia ser dita de forma mais respeitosa, se tornar uma inconveniência. “São vários os comportamentos inadequados em um ambiente profissional como fofoca, comunicação grosseira e mentira. Entender sobre regras, limites é fundamental para um bom clima existir. Desse jeito, o profissional saberá como fazer e quando se expor", diz.

Debates no WhatsApp

Se pessoalmente, boa parte das pessoas tendem a evitar conflitos e preferem ficar caladas enquanto suas visões ideológicas, por meio da internet parece ser bem mais fácil se expor e sair dando opiniões até mesmo quando não é o momento ou o lugar mais adequado para isso. Ana Chauvet ressalta que por meio da internet o cuidado com esses debates políticos deve ser redobrado:

“Qualquer discussão em grupos de WhatsApp, seja ela qual for, normalmente são mais difíceis do que pessoalmente. A rede social não retrata 100% do que o outro está querendo dizer, não mostra o tom de voz e muito depende de quem recebe do outro lado a informação”, esclarece.

A especialista em recursos humanos relembra que a internet é um território muito perigoso, já que permite um certo anonimato, que por vezes facilita a disseminação de comentários extremistas e até mesmo agressivos. No caso de grupos de trabalho, ela destaca a importância da delimitação de regras e limites:

“Além disso, dependendo de qual canal está sendo utilizado, a participação on-line pode ser anônima e as pessoas sentem que não irão ser punidas, por esse motivo não usam a razoabilidade nos seus discursos e, muitas vezes, se tornam até agressivas. Acredito que grupos de WhatsApp precisam ter regras e, independente do tema, essas regras precisam ser claras, assim as pessoas possuem a livre escolha de permanecer ou não”, afirma.

Líderes que impõem sua inclinação política

A transgressão do limite entre o direito à liberdade de expressão e a imposição de sua visão pessoal é um erro que também pode ser cometido por chefes, supervisores e pessoas que estão em lugar de liderança em uma empresa. De acordo com a CEO, uma companhia não pode levantar uma bandeira política e muito menos incitar a adesão dos funcionários a um candidato.

“Ainda que o líder possua sua intenção política, ele naturalmente possui uma influência sobre o todo e é preciso ter cautela em como ele irá se posicionar. O funcionário não pode se sentir coagido e nem ameaçado por pensar diferente. Todos temos o direito de pensar diferente. Nesse momento, precisamos pensar em como manter um relacionamento saudável e ponderar como será essa construção é o primeiro passo para saber se vai se posicionar, expressar ou ficar calado”, finaliza.

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