Ex morador de rua é aprovado na OAB

Sérgio Pereira, 36 anos, natural de Imperatriz, no Maranhão, alcançou o feito com determinação e empenho

seg, 30/01/2023 - 11:56
Reprodução/Instagram Sergio Chaves, ex-morador de rua aprovado na OAB Reprodução/Instagram

A 34ª edição do Exame de Ordem Unificado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) teve um membro aprovado que traz consigo uma grande história de empenho, determinação e superação. A trajetória de Sergio Chaves Pereira (36) até a aprovação na OAB começa quando ele, ainda criança, decidiu fugir de casa e passou a viver nas ruas com 11 anos de idade. Nascido em Imperatriz (MA), após o divórcio dos pais, o menino não se adaptou ao “vai e vem” de morar no Pará com a mãe por um tempo e no Maranhão em outro, com o pai. Não aceitando a separação dos pais, mesmo ainda sendo apenas uma criança, ele decidiu passar a viver por conta própria.

Em uma das viagens entre a casa da mãe e do pai, o maranhense desviou o caminho e ficou na cidade de Jacundá no Pará. De Jacundá (PA), com apenas 4 reais no bolso, ele foi para Teresina (PI) onde morou nas ruas por aproximadamente um ano até que, por não conseguir oportunidade de trabalho ou abrigo, conseguiu carona com um caminhoneiro até Fortaleza (CE).

No Ceará, Sergio cuidava de carros em troca de moedas e lavava pratos por um de comida. Foi quando no estacionamento do supermercado onde cuidada dos veículos dos clientes que chegavam para as compras, ele conheceu o senhor Nonato que o acolheu em sua casa e lhe deu uma oportunidade de emprego em um lava-jato.

Depois do lava-jato, Sergio foi trabalhar como entregador em três lugares para buscar sua estabilidade financeira, foi quando conheceu sua esposa, ainda estudante do ensino médio. Priorizando os estudos de sua amada, o motoboy a ajudou a pagar um curso de técnica de enfermagem e depois, um curso superior de enfermagem, para aí então retomar sua vida acadêmica.

Os estudos retornaram 20 anos depois, já com a vida estabilizada no Ceará e família construída. Com a terceira série do ensino fundamental, Sergio concluiu o Ensino Fundamental e o Médio em 2017 através do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), criado em 2002 para aferir competências, habilidades e saberes de jovens e adultos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio na idade adequada.

Certificado com ensino médio completo, Sergio deu início ao curso de Direito em 2018 e passou por algumas dificuldades durante a graduação. Tendo que trabalhar e estudar simultaneamente, para driblar a correria ele usava as ferramentas que podia para fortalecer os estudos, desde post its na moto que usava para trabalhar, até anotações na parede de casa, que ele usava para sempre ter acesso aos assuntos que precisava na faculdade.

De acordo com o recém aprovado na OAB, a escolha pelo curso de Direito veio devido a todas as dificuldades que passou enquanto morador de rua. Sergio relembra uma vez que foi a um supermercado e os seguranças o acusaram de furto, mesmo ele estando com a nota de compra para comprovar que pagou pelo item que ele estava na sacola.

Ele relata que foi levado até o banheiro pelos seguranças e lá foi constrangido e acuado.

“Estava com a sacola do supermercado, com a nota de compras, mas mesmo assim os seguranças me acusaram de furto, me levaram para dentro do banheiro perguntando o que eu estava roubando, foi uma vergonha muito grande que passei, me obrigaram até a tirar a roupa para verificar se não tinha nada escondido”, relembrou.

E completou: “Tudo que eu passei na minha vida, todas as humilhações, despertaram em mim a vontade de conhecer os meus direitos, de saber me defender”.

Hoje, já formado, com data de colação de grau marcada para o próximo dia 3 de fevereiro, o homem de infância difícil que conseguiu se tornar membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB torce para que sua história se torne inspiração para outras pessoas.

“Eu torço muito que minha história sirva de inspiração para outras pessoas, para que elas vejam que é possível. Todos têm sua realidade, outros podem estar na mesma realidade, outras nem tanto, e muitos podem achar que não é possível, que já é velho para estudar, mas sempre há tempo, nunca é tarde para recomeçar os estudos e eu sou uma prova viva disso”, colocou.

 

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