O mensalão foi denunciado por um dos participantes, que hoje, ironicamente, não pode testemunhar o início do julgamento, acometido de câncer que lhe submeteu à cirurgia do pâncreas. O ex-deputado Roberto Jefferson foi a figura central das acusações que culminaram em investigações exaustivas do esquema pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso e pela Polícia Federal, em 2005, e na peça de denúncia formal apresentada pelo Procurador Geral da República da época, Antonio Fernando de Souza.
O procurador não se calou diante do que seus olhos viram, e montou uma peça consistente, apontando o ex-chefe da Casa Civil, e até hoje manda-chuva do PT, José Dirceu, como chefe de uma quadrilha que atuava descaradamente de dentro do Palácio do Planalto. Há quem acredite que, não fosse Jefferson e a CPI, que forçaram a sua demissão, Dirceu seria hoje o presidente da República, no lugar de Dilma Rousseff. O seu sucessor, Roberto Gurgel, indicado pelo ex-presidente Lula, também manteve as acusações que vão desde formação de quadrilha, passando por corrupção ativa, passiva, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Vê-se assim a importância do julgamento que domina a cena política de hoje até o seu encerramento, sem previsão de data. É possível que se arraste por mais de um mês, abrindo a cicatriz que o PT e seus aliados prefeririam não mexer, sobretudo às vésperas das eleições municipais. Na TV, nas rádios, nos jornais e revistas, o assunto não poderia ser outro, e a memória de depoimentos que chocaram e fizeram história será relembrada, como tem que ser. O mensalão será o maior teste de nossa democracia. Nos ombros do STF, a culpa ou isenção dos réus, a condenação ou encobrimento de crimes cometidos à sombra do poder, e a esperança de que a impunidade não tenha contaminado a última instância da Justiça nacional.
De qualquer modo, me parece claro que, independentemente do resultado, somente o fato de 38 réus estarem sendo julgados da acusação desses crimes mostra o amadurecimento das instituições republicanas e talvez aponte para uma nova mudança de conceitos no páis. E o principal deles, a de que ninguém pode – independente de sua condição financeira ou status social e político – fugir de responder por seus atos.
Será um degrau a mais para se acabar com um do maiores males do Brasil: a corrupção impune dos poderosos.