Recife sedia Festival Nacional de Teatro

Evento irá até o próximo dia 27, com a mostra de 16 espetáculos nacionais em teatros, praças e escolas públicas da cidade

qua, 16/11/2011 - 14:50 Atualizado em: qui, 17/11/2011 - 09:22
Divulgação Peça "Cachorro morto" conquistou melhor espetáculo no Festival Nacional de Teatro do ano passado Divulgação

Após a maratona da 7ª edição da Festa Literária Internacional de Penambuco, a Fliporto, realizada no grande feriadão em Olinda, agora é a vez de Recife - cidade irmã - receber um evento que vai movimentar ainda mais a sua rotina.  Teve início nesta quarta-feira (16) o 16º Festival Recife de Teatro Nacional, promovido pela Prefeitura da cidade do Recife.

O Festival, que vai até o próximo dia 27, oferece ingressos a preço simbólico de R$ 5.  Grupos teatrais de seis estados brasileiros farão a mostra de 16 espetáculos, em 36 apresentações  distribuídas nos palcos do Apolo-Hermilo, Barreto Júnior, Santa Isabel, Luiz Mendonça e Marco Camarotti, e também em praças e escolas localizadas em diversos bairros, em uma programação descentralizada. 

Companhias como a paulista Hiato (que apresenta as peças "Escuro", "Cachorro Morto" e "O jardim") e o grupo recifense Magiluth, com "O Canto de Gregório" estão entre os destaque da mostra, que homenageia a trupe "Vivencial Diversiones", atuante em Pernambuco nas décadas de 1970 e 1980.

Conifira a programação completa do do 16º Festival Recife de Teatro Nacional:

Abertura
Homenagem: Grupo de Teatro Vivencial (Olinda, 1974-1983)
Local: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
Dia: 16/11 (quarta-feira)
Horário: 20h

Espetáculo: Escuro / Companhia Hiato (SP)
Local: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
Dias: 16 e 17/11 (quarta e quinta-feira)
Horário: 21h
Sinopse: Um menino míope com uma estranha capacidade de ouvir segredos passa suas tardes mergulhando na piscina de um clube. Uma senhora recebe a costureira para aulas de natação – sem uma piscina, elas usam pequenas tigelas cheias de água. Um homem convive com a perda da fala enquanto ensaia seu discurso em aquários vazios. Uma professora prepara sua aluna para um torneio esportivo para deficientes. Nele, esses personagens incomuns se cruzam, ameaçados pela chuva iminente e prestes a compartilhar uma pequena tragédia. O segundo espetáculo do núcleo paulista fundado em 2007 se utiliza de uma estrutura bastante comum na dramaturgia audiovisual: narrativas ligadas em redes, fatos convergentes e vidas transpostas. Através de estranhamentos bem-humorados, a montagem de 2009 reflete sobre outras formas de percepção da realidade, outras perspectivas sobre o cotidiano e outras estratégias de comunicação entre as pessoas. O texto abre espaços de irrealidade em um dia de quatro núcleos de personagens, nos anos 1950, ligados por inadequação e perda da linguagem. (www.ciahiato.com.br)

Espetáculo: Oxigênio / Companhia brasileira de teatro (PR)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Dias: 17 e 18/11 (quinta e sexta-feira)
Horário: 21h
Sinopse: A montagem do final de 2010 introduz no Brasil a obra de Ivan Viripaev, dramaturgo russo de 37 anos nascido na Sibéria e até então inédito no país. A estrutura dessa peça escrita entre 2001 e 2002 tem forte identificação com o trabalho do núcleo em atividade em Curitiba desde 1999. A musicalidade da palavra expressa no texto e a revisão do teatro como forma de contato com a plateia são alguns dos elementos convergentes. A narrativa aborda uma espiral de assuntos contemporâneos como violência, terrorismo, racionalidade, consumismo. Discute tudo isso investigando sobre o que é essencial na existência. A trama parte de um crime passional. Acusado pelo assassinato da própria mulher, um homem do campo é condenado juntamente com sua amante que conhece na cidade. O homem e a amante atendem pelo mesmo nome: Sacha. São eles que estão em cena. Os dois atores surgem acompanhados por dois músicos. Eis a “banda” à qual toca dar conta dessa fábula que discute polêmica e poeticamente os dramas de geração e o que é o “oxigênio” de cada habitante deste planeta. (www.companhiabrasileira.art.br)

Espetáculo: Áfricas / Bando de Teatro Olodum (BA)
Local: Teatro de Santa Isabel
Dias: 18 e 19/11 (sexta-feira e sábado)
Horários: às 19h no dia 18 e às 16h30 no dia 19
Sinopse: Há 21 anos, o núcleo tem construído obras que revelam elementos e estéticas impregnados da riqueza cultural africana, da qual o Brasil é um dos principais herdeiros. O primeiro espetáculo infanto-juvenil do grupo, estreado em 2007, traz à cena o continente africano por meio de suas histórias, seus povos, seus mitos e religiosidades. A peça visita esse universo mobilizada por suprir a escassez de referenciais no imaginário infantil, povoado de fábulas e personagens eurocêntricos. Os personagens revelam o modo de ser, a inerência espiritual, as formas de se relacionar com a natureza, com o sagrado. São características ancestrais que unem o território brasileiro, em especial a Bahia, ao continente negro. Música, dança e cores conjugam um espetáculo poético que tem encantado adultos e crianças por onde circula, despertando em cada um o orgulho da afrodescendência. A encenação deseja despertar a curiosidade de todos para conhecer mais sobre essas raízes fundamentais. O Bando é um dos fortes braços do bloco Olodum na resistência e afirmação da comunidade negra em Salvador. (www.bandodeteatro.blogspot.com)

Espetáculo: Madleia ou – Doida / Companhia do Chiste PE
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Dias: 19 e 20/11 (sábado e domingo)
Horário: 21h
Sinopse: O Espetáculo apóia-se na colagem teatral, composição de cenas com fragmentos e citações textuais, visuais ou musicais de diferentes épocas e estilos. O ponto de partida é o mito grego Medeia, a neta do sol e rainha de uma terra bárbara que, apaixonada, entrega o tesouro de seu povo ao navegante Jasão. Traída, ela se vinga sacrificando o reino e seus próprios filhos. A fonte primária dessa trama que hoje instiga várias releituras é a obra-prima de Eurípides, cerca de 2.500 anos atrás. Seu texto, mais o da dupla Paulo Pontes e Chico Buarque (a versão Gota D´Água) são estilhaçados pela vizinhança de letras do cancioneiro popularíssimo, os pendores tragicômicos e melodramáticos. O roteiro de Celibi, artista que iniciou a carreira em 1979 no Grupo de Teatro Vivencial, converge para essa modalidade historicamente cara aos palcos brasileiros, pois permitia às companhias apresentar cenas de autores diversos à altura da economia de suas produções ou de acordo com a urgência da época. Um exemplo desse recurso é a peça Liberdade, Liberdade (1965), de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, na gênese da ditadura civil-militar no país. (www.companhiadochiste.blogspot.com)

Espetáculo: Cachorro Morto / Companhia Hiato (SP)
Local: Teatro Apolo
Dias: 20 e 21/11 (domingo e segunda-feira)
Horário: 19h
Sinopse: O espetáculo de 2007 é fundador do núcleo interessado em investigar diferentes formas de comportamento, pensamento, compreensão e sensação do mundo como matéria-prima artística. Um autista sabe tudo sobre matemática e quase nada sobre seres humanos – assim como seus pais e professores definitivamente não sabem lidar com suas necessidades especiais. Thiago conhece de cor todos os países do mundo e suas capitais, assim como os números primos até 7.507. Luciana gosta do estado de Massachusetts, mas não entende nada de relações humanas. Maria Amélia adora listas, padrões e verdades absolutas. Aline odeia amarelo e marrom e, acima de tudo, ser tocada por alguém. Sob os próprios nomes, atores mergulham na ficção para emprestar corpos e emoções a uma outra vida e, ao confundir realidade e ficção, nos contam a história de um portador da Síndrome de Asperger. Certo dia, eles encontram o cachorro da vizinha morto no jardim. São acusados de assassinato e presos. Após uma noite na cadeia, decidem descobrir quem matou o animal montando “uma peça de mistério e assassinato”. (www.ciahiato.com.br)

Espetáculo: Descartes com Lentes / Companhia brasileira de teatro (PR)
Local: Teatro de Santa Isabel
Dias: 21 e 22/11 (segunda e terça-feira)
Horário: 17h
Sinopse: Durante a pesquisa para a criação da peça Vida, o núcleo se deparou com o conto homônimo de juventude do poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989). Passou a decifrar as estruturas de linguagem, o emaranhado de referências arcaicas, indígenas e filosóficas. Por trás do seu eruditismo, despontam as veias popular, bem-humorada e crítica essenciais ao escritor. Nesse conto-fluxo, ele imagina uma hipotética visita do filósofo francês René Descartes (1596-1650) ao Brasil, convidado pelo conde Maurício de Nassau (1604-1679), de origem alemã e governador da colônia holandesa no Nordeste. Com sua comitiva de cientistas, naturalistas, desenhistas e pintores, Descartes desembarca em Vrijburg, atual Recife, no afã de desvendar e descrever as excentricidades e belezas nativas em contraste com o pensamento cartesiano. Concluído nos anos 1960, o conto é considerado embrião de Catatau, obra-prima do autor. O solo mergulha como náufrago nessa narrativa desenfreada e exercita as interseções com o teatro; a possibilidade de contar essa história através do corpo da atriz e da sua presença manifesta. (www.companhiabrasileira.art.br)

Espetáculo: Vida / Companhia Brasileira de Teatro(PR
Local: Teatro de Santa Isabel
Dias: 21 e 22/11 (segunda e terça-feira)
Horário: 21h
Sinopse: Exilados numa cidade imaginária, dois homens e duas mulheres fazem parte de uma banda que ensaia para uma apresentação comemorativa do jubileu da cidade. Fechados numa sala vazia, eles convivem entre si e revelam comportamentos, relações, conflitos e histórias. Resultam erupções de suas existências prosaicas, repletas de humor, sensibilidade e um sentido de transformação. A partir da relação dos quatro personagens em mutação – transformando a si próprios e aos outros, assim como ao ambiente que os cerca –, brota e flui uma viagem para a mudança. Mudar ou não conseguir mudar e apenas ver. Com esse argumento simples, o espetáculo traz para a cena o resultado de um longo período de pesquisas sobre a obra do escritor curitibano Paulo Leminski. A peça não é a adaptação de uma obra literária, mas sim um texto original escrito a partir da experiência de leitura e de convivência criativa com os textos do autor e suas referências. Criada por André Abujamra, a trilha sonora promove o encontro de várias referências, em sintonia com o espírito do poeta e de toda a montagem. (www.companhiabrasileira.art.br)

Espetáculo: O Jardim / Companhia Hiato (SP)
Local: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
Dias: 22 e 23/11 (terça e quarta-feira)
Horário: 21h
Sinopse: O terceiro Espetáculo criado pelo núcleo estreou em maio deste ano. A narrativa tripartida aborda a memória humana sob os reflexos da perda (em particular o estudo da doença de Alzheimer), do apagamento e da invenção. Em cena, histórias de tempos e espaços diferentes se sobrepõem, criam fricções entre si, se completam ou se contradizem. Essas diferentes perspectivas criam um jogo fractal de reconhecimento e estranhamento das situações apresentadas e reapresentadas de forma vertiginosa. Propõe-se um jogo com a própria memória do espectador que, ao rever uma cena já vista – mas desta vez cheia de lacunas –, é levado a recriar em sua memória os diálogos, é conduzido a reinventar a cena sob seu olhar e lembrança intransferíveis: a subjetividade implícita em cada encontro.
O público é distribuído em três espaços distintos. Sua visão é parcial, já que o cenário de caixas de papelão é construído e reconstruído de modo a criar mundos imaginários, transformar momentos já vistos e fragmentar a fruição da fábula. Tudo isso para expressar, não só estética como dramaturgicamente, o ato criativo que é rememorar. (www.ciahiato.com.br)

Espetáculo: Por Que a Criança Cozinha na Polenta / Companhia Mungunzá de Teatro (SP)
Local: Teatro Apolo
Dias: 23 e 24/11 (quarta e quinta-feira)
Horário: 19h
Sinopse: O espetáculo de 2008 marca o encontro do núcleo paulista, formado dois anos antes, com o diretor – e de ambos com a escritora romena Aglaja Veteranyi (1962-2002). Trata-se de adaptação do romance de mesmo nome em que a autora recria sua memória de infância numa família de artistas de circo. As violências subliminares ou diretas do pai e da mãe, o álcool e a miséria corroboraram uma época de turbulências política e social sob a ditadura Ceausescu, o presidente executado em praça pública após insurreição popular no país do leste europeu, em 1989. Na peça, a mãe se pendura no trapézio pelos cabelos todas as noites. O pai é um palhaço e ateu, diz que “os homens acreditam menos em Deus do que as mulheres e as crianças por causa da concorrência”. A narrativa, por uma adolescente que se defende da degradação sob a ótica infantil, resulta lírica e cruel. No exílio, ao lado da irmã mais velha, ela vê seus ideais despedaçados. “A criança cozinhando na polenta” é um dito romeno equivalente ao “bicho papão” brasileiro. Não é uma obra sobre comida. Tampouco enredo infantil. Ou talvez seja ambos. Mas é diferente. Não é para crianças. (www.ciamungunzadeteatro.blogspot.com)

Espetáculo: Jaguar Cibernético / Coletivo de atores reunidos por Francisco Carlos (SP)
Local: Teatro Marco Camarotti
Dias: 23 e 24/11 (quarta e quinta-feira)
Horário: 21h
Sinopse: Dramaturgo conhecido de leituras realizadas no âmbito do próprio FRTN, em 2007, desta vez será possível conferir o amazonense Francisco Carlos na função cumulativa de diretor, ele que tem formação em filosofia. Da tetralogia filiada ao seu ciclo do “pensamento selvagem”, versando sobre temas indígenas e relações de alteridade entre culturas, são acolhidas aqui duas peças autônomas e encenadas na mesma noite. Em Banquete Tupinambá, um ritual acontece 500 anos atrás. Um sogro, uma noiva, um noivo prisioneiro e um cunhado, canibais, bebem cauim, o “suco-da-memória”, contagiados pela chegada do Jaguar entre trocas e alianças e guerras de vinganças. Em Xamanismo the Conection, uma reunião imaginária de drogados é mediada por um jovem Xamã à espera de cowboy, um traficante que não aparece nunca, enquanto Alice Ecstasy media a relação-inimiga do namorado e do irmão. Através de espelhos, essa figura conecta estudantes de maio de 1968, zapatistas cyborgues, latas de sopas Campbell´s, baile de humanos e animais, as Mademoseilles de Avignon, de Pablo Picasso, e um dândi Jaguar.

Espetáculo: Estar Aqui ou Ali? / Visível Núcleo de Criação (PE)
Local: Terminais de Integração Macaxeira e Barro
Dias: 25 e 26/11 (sexta-feira, Macaxeira e sábado, Barro)
Horário: 18h
Sinopse: Terceiro projeto solo do intérprete-criador pernambucano Kleber Lourenço. Funde as linguagens do teatro e da performance. O processo de elaboração se deu em etapas, desde 2008, através de residências e observações por cidades brasileiras. Foi contemplado no Programa de Candidaturas Internacionais do LAC – Laboratório de Actividades Criativas da cidade de Lagos, em Portugal, onde o artista desenvolveu residência. O espetáculo/intervenção teve cocriação e colaboração dramatúrgica do coreógrafo Jorge Alencar, diretor-artístico do grupo Dimenti, de Salvador. O trabalho busca o diálogo artístico entre corpo e espaço urbano. Maneja conceitos como ressignificação, deslocamento, diluição de fronteiras e territórios físicos e imaginários. Processa no corpo a experiência do trânsito e suas diferentes paisagens. Constrói uma dramaturgia estilhaçada, carnavalizada, já que se percebe (e se encanta) por meio de identificações culturais provisórias, vacilantes e confusas. Navega pelo espaço público e privado, invade corpos disponíveis para construir um guia prático, histórico e sentimental da ocupação. (www.visivelnucleo.blogspot.com)

Espetáculo: Luis Antonio – Gabriela / Companhia Mungunzá de Teatro (SP)
Local: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
Dias: 25 e 26/11 (sexta-feira e sábado)
Horário: 21h
Sinopse: O autonomeado documentário cênico abre no ano de 1953 com o nascimento de Luis Antonio, filho mais velho de cinco irmãos. Ele passa infância, adolescência e parte da juventude em Santos, no litoral paulista, até ir embora para a Espanha aos 30 anos. O segundo espetáculo desse núcleo, em cartaz desde março passado, foi construído a partir de acontecimentos e relatos de familiares e amigos do personagem homossexual. O diretor e coautor da peça é seu irmão caçula na vida real. Foi abusado sexualmente pelo próprio e o manteve na sombra por três décadas, até a sua localização no exterior, debilitado pelas drogas e pela Aids. Baskerville assume corajosamente a voz autobiográfica na cena e na dramaturgia, agregando pontos de vista da irmã Maria Cristina, da madrasta Doracy e do amigo do primogênito, o cabeleireiro Serginho. A narrativa avança até 2006, quando Luis Antonio morre em Bilbao, onde vivera até então sob o batismo artístico de Gabriela. A criação colaborativa transforma o espaço cênico numa instalação na qual os atores também manipulam a luz e o vídeo, além de cantar e tocar instrumentos. (www.ciamungunzadeteatro.blogspot.com)

Espetáculo: Minha Cidade / Teatro Marco Zero (PE)
Local: Teatro Barreto Junior
Dias: 26 e 27/11 (sábado e domingo)
Horário: 16h sábado e 10h domingo
Sinopse: Duas crianças constroem uma cidade imaginária a partir das peças do jogo Brincando de Engenheiro. Cada aspecto da vida desse lugar é posto em questão, como se correspondessem aos tijolos dessa obra: a paisagem natural, a paisagem transformada, a moradia, o transporte, o trabalho, a escola, o lazer etc. Na perspectiva do espaço de cohabitação como organismo social, o público acompanha o nascimento e o crescimento do indivíduo. Com essa comparação, pretende-se suscitar a reflexão de que cidadãos e cidadãs devem ser os verdadeiros alicerces de uma sociedade, costurando a narrativa pessoal à história do território onde vivem. O espetáculo decorre da pesquisa em dramaturgia desenvolvida pela também encenadora Ana Elizabeth Japiá, contemplada em 2009 com uma bolsa do Programa de Estímulo à Criação Artística, iniciativa da Funarte/MinC. À bibliografia relacionada aos tópicos “infância”, “teatro para infância”, “cidade” e “poética da cidade”, somou-se uma investigação de campo junto a oito turmas do ensino fundamental (crianças de 8 a 10 anos) em escolas públicas e privadas de Recife.

Espetáculo: Labirinto / Alfândega 88 Companhia de Teatro (RJ)
Local: Teatro de Santa Isabel
Dias: 26 e 27/11 (sábado e domingo)
Horário: 21h
Sinopse: A montagem debuta o núcleo carioca, em fevereiro de 2011, e realinha o diretor, 26 anos de ofício, ao teatro de grupo e à pesquisa continuada. Chaves é inclinado a rupturas dramatúrgicas utilizando-se de textos literários, poemas, autos de processos e escritos filosóficos na construção da cena. Aqui, o desafio é a enigmática obra do escritor gaúcho José Joaquim de Campos Leão, alcunhado por si mesmo Qorpo-Santo (1829-1883). O espetáculo reúne três textos desse gênio visionário: Hoje Sou Um, e Amanhã Outro; A Separação de Dois Esposos e As Relações Naturais – este, por exemplo, retrata prostitutas, algo incomum à época; usa imagens surreais, como a de personagens que perdem partes do corpo; e pespega uma das mais estranhas rubricas de sua lavra, como observa o pesquisador Flávio Aguiar: “Milhares de luzes descem e ocupam o espaço do cenário”. O autor antevê em décadas questões formais que só ecoariam no chamado Teatro do Absurdo (Beckett, Ionesco). É contundente em aspectos humanos e sociais como liberdade sexual e emancipação feminina, atuais. Não obstantes o indiscutível valor estético e o pioneirismo contextual, permanece pouquíssimo montado e praticamente desconhecido do grande público. (www.alfandega88.com.br)

Espetáculo: O Canto de Gregório / Grupo Magiluth (PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Dias: 26 e 27/11 (sábado e domingo)
Horário: 21h
Sinopse: Criado em 2004, por iniciativa de estudantes egressos do curso de artes cênicas da UFPE, o núcleo traça caminho consistente de investigação cênica borrando fronteiras da instalação e da performance. O espetáculo que estreou em abril tem texto de Paulo Santoro, o primeiro embrionário do círculo de dramaturgia do Centro de Pesquisa Teatral (CPT/SESC-SP), sob coordenação de Antunes Filho. O próprio o encenou em 2004. A obra superpõe mitos da religião e da filosofia nas ruminações de um sujeito face a face consigo e com Jesus, Buda, Sócrates e outros. Nesse que é um dia diferente em sua vida, Gregório vai a julgamento pelo crime de não ser um homem bom, mesmo quando lhe anunciam que “a bondade é logicamente impossível”. O pêndulo é o da ética pessoal/universal em detrimento da catarse, do alívio. A dialética reina e instiga partilhar sensações e angústias kafkianas. Quem sabe, apenas projeções da mente do protagonista, habitante de subterrâneos. Para estabelecer tal jogo, o espaço é conformado por um corredor e tomado pela cor branca, do linóleo do chão às paredes e cadeiras, além da ambientação sonora que desconforta. (www.grupomagiluth.blogspot.com)

DESCENTRALIZAÇÃO

Espetáculo: Flor de Macambira / Ser Tão Teatro (PB)
Horário: 20h
Local e dias:
RPA1 – Praça do Arsenal da Marinha – 19/11 (sábado)
RPA2 – Refinaria Multicultural Nascedouro de Peixinhos – 20/11(domingo)
RPA3 – Refinaria Multicultural do Sítio Trindade – 21/11 (segunda-feira)
RPA4 – Escola Municipal de Artes João Pernambuco – 22/11 (terça-feira)
RPA5 – Escola Municipal Antônio Farias – 23/11 (quarta-feira)
RPA6 – Escola Estadual Jordão Emerenciano – 24/11 (quinta-feira)

Sinopse: Em atividade desde 2007, o núcleo de João Pessoa prospecta a linguagem teatral em busca de uma cena tipicamente brasileira. O terceiro espetáculo do repertório estreou em fevereiro passado em turnê por dez cidades do rio São Francisco. É uma adaptação de O Coronel de Macambira, do pernambucano Joaquim Cardozo (1897-1978), que por sua vez se inspirou em figuras e brincadeiras da festa popular do boi. Catirina sucumbe aos vícios e tentações mundanas e, para salvar a si e a seu amado, mergulha nas profundezas da alma. Despontam tipos monologando em versos, vide o coronel sanguinário, o padre mercantilista, o bicheiro corrupto e o triunvirato do capitalismo: o economista ilusionista, o banqueiro especulador e o marqueteiro enganador, todos recebidos por Matheus, Catirina e Bastião. A peça-poema de 1963 se solidariza com as dificuldades do povo brasileiro, evidencia os exploradores e dá voz às vítimas. Ganha traços contemporâneos ao inserir personagens estranhos à festa, como o Aviador e a Aeromoça. O autor cita ainda o Soldado da Coluna em clara referência à utopia socialista que percorreu as estradas do Brasil.

COMENTÁRIOS dos leitores