Um elogio à loucura, da Cia Hiato

Montagem "Cachorro morto" fala sobre as aventuras mentais da síndrome de Asperger

seg, 21/11/2011 - 15:37
Val Lima/Divulgação Cia Hiato apresenta a montagem "Cachorro morto" nesta segunda-feira (21), às 19h, no Teatro Apolo Val Lima/Divulgação

Tic, tac, tic, tac: O que é, o que é, porque o mar é azul? Porque os peixes fazem “blue, blue, blue”. O que é, o que é, preto, branco, preto, branco, preto, branco? Uma freira caindo da escada. O que é, o que é, um pontinho amarelo no meio do mar? Uma Ruffles, a batata da onda.

É em meio a uma sequência de adivinhações como estas que o público da peça “Cachorro morto” inicia sua jornada pelo mundo complexo e agitado da síndrome de Asperger, um dos espectros do autismo. E este é o enredo da montagem que se apresentou ontem (20) e chega pela segunda vez nesta segunda-feira (21), às 19h, ao Teatro Apolo, como parte integrante da programação do 14° Festival Recife do Teatro Nacional.

Com direção de Leonardo Moreira, a peça conta com incríveis e refinadas atuações do quinteto Aline Filócomo, Bruno Freire, Luciana Paez, Maria Amélia Farah e Thiago Amaral que contracenam uma só história vivenciada, simultaneamente, em um esquema "rotativo", por todos eles. O trabalho de pesquisa desenvolvido pela Cia Hiato, que participa do festival com mais duas montagens além desta (Escuro e O jardim) é sensível à mente do espectador, que se impressiona com o quão à vontade os atores parecem estar mergulhados no mundo fantástico da síndrome de Asperger.

O enredo principal é a morte do cachorro da vizinha, adorado pela personagem em questão e que tenta solucionar o caso do assassinato através de pistas criadas pela sua própria mente  - Thiago sabe de cor todos os países do mundo e suas respectivas capitais, assim como os números primos até 7.507; já Aline odeia amarelo e marrom e, acima de tudo, ser tocada por alguém, e assim por diante.

Ao assistirmos a peça e nos julgarmos “normais” diante do diagnóstico de autismo dos personagens, vamos percebendo outros aspectos importantes e que nos fazem repensar as relações humanas cotidianas. Verificarmos, por exemplo, que os personagens sem a síndrome que aparecem no enredo, como o pai, a mãe e os vizinhos “incomuns” da história, são também “loucos” à sua maneira, e que ao menos o personagem com a síndrome de Asperger tem a coragem de dizer, de uma maneira verborragicamente invertida, a verdade. “Mentir é quando você é incapaz de dizer a verdade”, diz um dos personagens.

A peça foi inspirada no premiado romance inglês “The Curious Incident of the Dog in the Night-time”, de Mark Haddon.

 

Serviço

Peça "Cachorro morto"
Quando:Segunda-feira (21 de novembro), às 19h
Onde: Teatro Apolo (Rua Cais do Apolo, 1, Bairro do Recife)
Ingressos: R$ 5 (preço único)
Informações: 81 3355-3321 | 3355-3320

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