Portinari, o homem que não conseguiu parar de pintar

Telas do artista Cândido Portinari são umas das mais importantes heranças do Modernismo brasileiro

seg, 06/02/2012 - 17:17
Reprodução Criança Morta, 1944, Cândido Portinari Reprodução

O jeito introspectivo, por vezes tímido e de olhar complacente, guardava um talento inconfundível que seria, mais tarde, reconhecido por todo o mundo. Este é o traço singular, de uma realidade fragmentada e realista, do pintor Cândido Portinari, que revolucionou as artes visuais no Brasil e fez de seus painéis e telas pontos de partida para retratar/denunciar questões sociais.



O gênio da pintura brasileira nasceu pobre, no interior São Paulo, na cidade de Brodowski, em 1903. Filho de imigrantes iltalianos, Portinari teve uma educação deficiente, sequer completou o ensino primário. Seu entrosamento com as tintas e os pincéis começou aos 14 anos, quando uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas passava por sua cidade e resolveu recrutar o menino como ajudante.



Nesta mesma época, ele assistiu aos funerais de imigrantes nordestinos que, para fugirem da seca que assolava sua região, procuravam emprego nas fazendas do interior de São Paulo. Essas imagens ficaram na memória do pintor e, mais tarde, ganharam vida e cores em representações cubistas.



Decidido a aprimorar seus dons, o garoto que achava bonito o azul do mar, saiu de São Paulo e partiu para estudar na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Durante seus estudos chamou a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa, o que o facilitou, aos 20 anos, a realizar diversas exposições, obtendo elogios em artigos de vários jornais.



Mas, mesmo com toda essa badalação, ele passa a se interessar por um movimento artístico que para a sua época era considerado marginal: o Modernismo. Pablo Picasso, de certa forma, impulsionou Cândido Portinari com o seu estilo cubista de pintar. É que Portinari percebeu na estética geométrica, que sugere a estrutura dos corpos e dos objetos, uma maneira de atrelar às temáticas sociais.



De fato, a influência do espanhol Picasso é inegável na vida do pintor brasileiro, assim como a preocupação social em suas obras. Telas que retratavam a vida dura de trabalhadores do campo e da cidade. Mas que, também, dialogava com a cultura brasileira e suas representações: o samba, o chorinho, a alegria, o carnaval e as festas do morro.



Modernista tardio, Portinari consolidou a renovação da arte brasileira e a tornou popular. Nenhum pintor brasileiro conseguiu a projeção que ele alcançou. Ele foi o primeiro artista modernista a ganhar uma premiação internacional com o quadro “Café”.



Encruzilhadas - Suas pinturas se aproximam também do surrealismo e dos pintores muralistas mexicanos, sem, contudo, se distanciar totalmente da arte figurativa e das tradições da pintura. O resultado dessa fusão de escolas e pintores é uma arte de característica moderna, que aposta em obras monumentais e em grandes painéis.



Em um de seus trabalhos, o artista foi convidado para colaborar com o novo edifício do Ministério da Educação, marco da arte moderna do País. No prédio de Oscar Niemayer e Lúcio Costa, ele fez painéis com temas infantis e baseados nos ciclos econômicos do Brasil.



O mais importante deles foi o mural “Guerra e Paz”, feita nos anos 1950, sob encomenda para presentear a sede das Nações Unidas em Nova York. Em 2010, uma reforma no prédio da ONU foi uma desculpa perfeita para que a obra voltasse a ser exposta no Rio, no Theatro Municipal, depois de muitos anos restrita ao público. Agora, ela será exposta no Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo, de terça-feira (7) até 21 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h, com entrada gratuita.



Para Portinari, o amor pela arte era maior e mais importante do que sua própria saúde - o artista chegou ao ponto de desobedecer as ordens médicas e permanecer trabalhando freneticamente, mesmo após ter recebido o diagnóstico de uma grave intoxicação por chumbo (material presente nas tintas que usava).



Amante dos pincéis e da arte, ele não conseguiu parar de pintar e, já, nos últimos dias de sua vida, apesar de surdo e debilitado pelo veneno, realizou, em 1962, em Milão, na Itália, uma exposição de 200 telas. No mesmo ano, no dia 6 de fevereiro, o envenenamento por chumbo começa a tomar proporções fatais e tragicamente ele morre envenenado pelas mesmas tintas que o consagraram.

Conheça um pouco mais sobre a vida e obra do artista:

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