Teatro do Parque: 20 meses fechado à espera de reforma
Um dos maiores teatros do Recife está fechado desde 2010
A rede de teatros municipais do Recife está banguela. Um dos seus maiores e mais antigos teatros não abriga um espetáculo há quase dois anos, e está fechado à espera de uma reforma que ainda não começou. O Teatro do Parque completou, na última sexta-feira (24), 97 anos de inauguração com os portões fechados para o público. Apenas atividades administrativas estão acontecendo nas suas dependências, na Rua do Hospício, Centro do Recife.
O Teatro do Parque foi construído pelo comerciante português Bento Luís de Aguiar e inaugurado como um anexo do Hotel do Parque em 1915. Além de abrigar apresentações de teatro e ópera, desde cedo promoveu sessões de cinema, quando os filmes ainda eram mudos. Seu jardim convidou as pessoas a realizarem ali saraus e diferentes eventos, e o Parque ainda abrigou exposições de arte em suas décadas de existência, sem contar com os inúmeros shows de música.
Tal riqueza de acontecimentos culturais – e o tamanho do teatro, que comporta mais de 900 espectadores, além da sua localização central – faz do fechamento do Parque uma grande perda para a vida cultural do Recife. “É uma pena este espaço não existir mais para a cidade”, reflete o ator e jornalista Leidson Ferraz, autor da série de livros Memórias da Cena Pernambucana. “O teatro do Parque é o mais popular dos teatros do Recife”, completa.
O caráter popular do Parque tem sido reforçado nos últimos anos com as sessões de cinema a preços simbólicos, além da apresentação de espetáculos com roupagem mais popular, geralmente de comédia. Mas porque o Teatro é também um lugar de convivência. “Tivemos a notícia (o fechamento do teatro) enquanto estávamos em cartaz”, conta Ulisses Dornelas, criador do Palhaço Chocolate. Ele apresentou por muitos anos seus espetáculos infantis no teatro do Parque, sempre enchendo a casa aos fins de semana e precisou encontrar uma nova casa para seus espetáculos.
Ulisses encontrou o Teatro da Boa Vista, que hoje administra. Foi necessária uma grande reforma para fazer o teatro funcionar. Apesar de ter solucionado seu problema de local para seus espetáculos, sente pelo fechamento do Teatro do Parque: “Espero que abra o mais rápido possível, cada teatro que fecha é uma tristeza. Teatro é feito para funcionar”, afima Ulisses Dornelas.
Para Leidson Ferraz, a demora na realização da reforma “Mostra o descaso que essa gestão tem pelo teatro do Recife”. Ele opina que não é uma questão de falta de verba, mas de vontade política, e aponta problemas em outras casas de espetáculos, como o Centro Apolo-Hermilo, que recentemente fizeram com que artistas convocassem uma reunião com a Prefeitura do Recife para mostrar a situação e cobrar providências.
Inicialmente, a reforma do Parque estava prevista para custar cerca de R$ 1,5 milhão, e R$ 500 mil viriam de uma emenda parlamentar, mas em 2011 esta verba foi contingenciada pelo governo federal. Em 27 de julho deste ano, a prefeitura concedeu ao complexo arquitetônico do Teatro do Parque o título de Imóvel Especial de Preservação - IEP, o que inclui novos padrões para qualquer reforma ou restauração ao teatro.
É o que explica André Brasileiro, presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife: “Agora que o Teatro do Parque é um Imóvel Especial de Preservação não podemos fazer qualquer obra. Tivemos que fazer mais de dez projetos complementares e todos os projetos estão em fase de licitação”. Os projetos incluem aspectos como acessibilidade, instalações elétricas, de telefonia e internet, drenagem, a modernização da caixa cênica, iluminação, climatização, acústica, sonorização, detecção e combate a incêndio e a sinalização.
“Queremos comemorar os 100 anos do Teatro do Parque tendo feito uma reforma do nível da que foi feita no Teatro de Santa Isabel, que demorou, mas foi uma intervenção importante, em que foram feitas todas as adequações”, afirma André Brasileiro. O gestor chama atenção para a classificação do Parque como IEP, o que abre possibilidades de parcerias e financiamentos específicos para imóveis considerados patrimônio. A intenção é iniciar efetivamente as obras no início do próximo ano.
Enquanto as intervenções não acontecem, o Teatro do Parque sofre com o abandono pela falta de manutenção, segue de portões fechados há quase dois anos e com uma cratera na sua entrada, causada pela drenagem inadequada. E a cidade segue carente de um de seus mais importantes espaços culturais. Para Leidson Ferraz, além da inércia do poder público, o Parque tem mais um problema, a falta de interesse coletivo: “A própria população não cobra”, resume.