Couro e lã invadem a moda do inverno à carioca
mesmo numa cidade tradicionalmente quente, o gosto pelo frio vem da vontade de seguir as tendências europeias
Couro, veludo e lã dominam as coleções de inverno da Semana de Moda do Rio de Janeiro, uma cidade com temperaturas que neste inverno chegaram aos 40ºC, mas onde as pessoas adoram usar botas altas e cachecóis não tão frescos.
Para Daniele Schuwartz, estilista da Oh, Boy!, marca que participou nos desfiles do Fashion Rio nesta semana, buscar um equilíbrio entre o clima e as novas tendências é uma tarefa complicada.
"Sabemos que a marca é carioca, então temos a preocupação de mostrar as tendências da moda mundial, mas temos que balancear. Se o material é mais quente, não fazemos um casaco tão pesado; se o tecido é mais leve, podemos fazer algo mais fechado. Tentamos achar um meio-termo que é muito difícil", afirmou à AFP.
Outros defendem que as criações não têm apenas o Rio como destino. De acordo com Alessa Migani, estilista da Alessa, as marcas devem pensar cada vez mais em uma mulher do mundo.
"Toda vez que começamos a criar uma coleção, pensamos em uma mulher cosmopolita. O mundo gira cada vez mais rápido e, neste mundo globalizado, a gente viaja entre as estações", destacou.
O estilista da TNG, Enrico Paschoal, acredita que a saída é explorar tecidos e texturas que passem a sensação de inverno sem provocar tanto calor.
"A gente não tem um frio rigoroso, então pode usar, por exemplo, a lã de camelo, que esquenta, mas não é realmente pesada, ou mesmo o jeans. Não é porque é inverno que tudo tem que ser longo ou fechado. Nossa mulher é sensual, com isso, podemos fazer uma roupa com cara de inverno só que mais justa, mais curta", explicou.
As tecnologias ligadas à moda muitas vezes exercem um papel fundamental nesta cidade, onde o dia mais frio do inverno teve uma temperatura de 14ºC e o mais quente, de 41,2ºC.
"O Fashion Rio não é para os cariocas, é para a moda, e quem faz moda pensa em inovação. Você tem que fazer sempre coleções novas e a tecnologia têxtil favorece o design e permite que você não precise criar uma coleção pesada", disse à AFP Paulo Borges, diretor da Luminosidade, empresa responsável pelas Semanas de Moda do Rio e de São Paulo.
Contudo, a moda inverno não abandona seus clássicos. Couros, veludos, moletons e até mesmo peles foram vistos nas passarelas, além de botas e muito preto e vinho, cachecóis e trench coats, mas sempre misturados a tecidos como linho e organza.
Ainda assim, a estilista da Espaço Fashion, Camila Bastos, indica que é importante pensar nas particularidades de cada região na hora de investir no mercado.
"Nossa coleção é a mesma para o sul do país ou para o Rio, mas as quantidades mudam. Aqui, sabemos que funciona melhor uma moda praia de janeiro a janeiro, mas para outros lugares já podemos enviar mais peças de inverno", afirmou.
Prova disso, é que as coleções de verão ainda fazem mais sucesso na cidade. Segundo dados da coordenadora comercial da Ellus 2nd Floor, Íris Costa, a marca ainda tem 55% de sua produção voltada para o verão e 45% para roupas de inverno.
A portuguesa Ana Rita Frazão está há cerca de quatro meses no Brasil para um intercâmbio. Quando chegou ao Rio, a estudante usava roupas frescas nas temperaturas amenas do inverno carioca, mas não entendia como as outras pessoas vestiam trajes mais quentes.
"Eu saía na rua com roupas leves, vestidinhos, e via as pessoas usando roupas de frio. Parece que, para o carioca, basta não estar sol que já é inverno", comparou a estudante de 22 anos, que assistiu aos desfiles.
Amanda Leal, de 18 anos, explica, por outro lado, que o gosto pelo frio vem da vontade de seguir as tendências europeias.
"Acabamos às vezes exagerando porque gostamos desse visual europeu. Lá é o centro da moda, então queremos poder seguir esse estilo", comentou.
A estilista da Alessa disse que o carioca sempre dá um jeito de tirar as roupas de inverno do armário.
"A gente liga o ar-condicionado no máximo e veste o casacão!", brincou.