Show Especial do Recife apresenta a arte da inclusão
Música e teatro dão a tônica do evento que carrega mensagens contra o preconceito e em favor da aceitação de pessoas com deficiência no meio artístico
Se a carreira da música, ou do teatro, já não é das mais fáceis, os obstáculos são ainda maiores para quem tem algum tipo de deficiência e sonha em fazer arte e viver dela. Realizado há nove anos, o Show Especial do Recife carrega a proposta de romper fronteiras e ir além dos espaços reservados às pessoas com deficiência. A edição 2015 do evento foi aberta neste sábado (12), com direito a maracatu, forró pé de serra, frevo e dramaturgia, no teatro da Caixa Cultural. No palco, não deficientes, mas sim artistas em busca de mostrar que suas características especiais não os diminuem, perante os demais.
Sob a produção da ONG Integrarte, o Show Especial receberá ainda neste domingo (13) e no próximo final de semana (19 e 20), um total de 12 atrações. A abertura foi de momentos marcantes e envolveu o público. A primeira apresentação foi do grupo Maracaarte, formado por batuqueiros com Síndrome de Down. A cadência musical continuou com o show da Banda Segnos, dos irmãos Sivonaldo e Sivanildo Silva, ambos deficientes visuais. O primeiro, vocalista da banda desde 2009, afirmou que artistas com algum tipo de deficiência são, diariamente, postos em prova. "Muitos não acreditam em seu potencial. Quando você sobe no palco, sabe que muita gente não espera nada de você", desabafou. Tecladista, Sivanildo tira das provas, o incentivo para manter aceso a pulsão artística. "Nós fazemos o nosso trabalho, nossa arte e damos sempre o nosso melhor. Ouço muitos se perguntarem: meu Deus, mas como ele consegue? E isso acaba me incentivando a fazer sempre mais e melhor", concluiu.
A festa do sábado contou ainda com a participação especial de um dos maiores compositores e intérpretes de frevo do Estado. Getúlio Cavanti, além de cantar alguns de seus sucessos, fez questão de ressaltar a importância da realização de eventos que promovam a inclusão no cenário artístico. "A gente precisa ter a oportunidade de conhecer essas pessoas, de conversar com elas, de trabalhar com elas. É muito bonito vê-las se apresentar. Sinto que a sociedade precisa mais disso, até para desfazermos pensamentos errados, preconceitos existentes com relação às pessoas com deficiência", explicou.
A luta contra os "pré-conceitos" e a aceitação da "igualdade diferente" em cada um foi o mote da última atração do dia de abertura. A peça "Quatro variações sobre o mesmo tema", de elenco formado por atores com Síndrome de Down, arrancou lágrimas da plateia. Segundo a administradora Weruska Lima, 49, o choro farto ao fim do espetáculo veio de um sincero reconhecimento de que ela, e alguns de seus semelhantes, ainda precisam evoluir o olhar e enxergar além de qualquer deficiência. "É como eles falam na peça, não é? 'Nós temos braços, pernas, mãos, coração e queremos ser vistos como todos são'. Isso me mexeu, porque eu acredito que muitos de nós já perdermos a oportunidade de olhar uma pessoa com deficiência como nós também queremos ser vistos, cheios de sonhos, cheios de vida e arte".
E quem ainda não conhece a arte da inclusão pode comparecer aos próximos dias do Show Especial, sempre à partir das 16h. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 e as apresentações contam com sistema de áudio-descrição para deficientes visuais.