Epica em Recife: metal, profissionalismo e excelência
Banda holandesa faz show memorável e explica porque Recife deve ser parada certa para os representantes do gênero que vem ao Brasil
Neste domingo (18), os fãs de metal melódico que foram ao Clube Português para o show da banda Epica conheceram a pontualidade holandesa. A apresentação, marcada para as 20h30, começou exatamente no horário proposto. Antes, o grupo chegou ao local por volta das 16h. Uma hora depois, às 17h, eles, integrantes da maior safra do metal sinfônico/power metal das últimas décadas, chegaram ao recinto, passaram o som com três músicas (suficiente, após sete shows da turnê no Brasil) e seguiram para o "Meet & Greet", com as dezenas de fãs que pagaram caro para tanto. Em tempo, o preço dos ingressos para o evento na casa de show recifense foi tudo, menos convidativo. Mas, que se desconte o fato de que foi a primeira vez da banda em terras pernambucanas e que, talvez, nem o mais entusiasta dos fãs imaginava a excelência que haveria de testemunhar. Ainda assim, o espaço ficou pequeno para tanta ebulição no último show da turnê "The Ultimate Principle" no Brasil.
Cerca de duas mil pessoas lotaram o Português e acompanharam o espetáculo do Epica. Com 16 anos de estrada e 12 álbuns gravados, a banda é uma das mais triunfantes de seu gênero. E, ao vivo, deixa claro o porquê. Seus integrantes detém um carisma que, independente do conhecimento do inglês ou holandês, é facílimo, para o público, se deixar levar - sempre num casamento com o que a música quer comunicar. A vocalista, Simone Simons, mostra-se irretocável. Quem sonhou em vê-la executando os falsetes presentes em grande parte dos discos da banda, saiu regozijado. Houve momentos de plena esteria como quando a holandesa anunciou o hino "Cry For The Moon", do disco "The Phantom Agony" lançado em 2003, e perfomou-a de forma indiscritivelmente fidedigna. Todos os instrumentistas também fizeram questão de externar a alegria da passagem por Recife e destilaram bom humor e simpatia no palco. Destaque para o tecladista Coen Janssen e o guitarrista Isaac Delahaye, num intenso jogo de interação que fez muito metaleiro sorrir em meio ao bate cabeça.
O setlist não poderia ser mais do que acertado. Há quase 10 mil quilômetros de sua terra natal, o Epica não se furtou de apresentar alguns de seus maiores sucessos do outrora e do recente. Então o público explodiu com hits como "Universal Death Squad", "Fight Your Demons", "Storm the Sorrow", "Victims of Contingency" e "Beyond the Matrix". A emoção também circundou o ambiente com a supracitada "Cry For The Moon" e outras "baladas pesadas" como "Unchain Utopia" e "Solitary Ground", com direito a balé de lanternas na plateia.
Tudo contribuiu para a perfomance memorável da banda. Além do extremo profissionalismos dos integrantes, o som impecável, o público entusiasmado e expressivo e o jogo de luzes arrojado tornou a experiência ainda mais aprazível. Para fechar com chave de ouro, já na hora do "biz" (e na última música, mais precisamente), a vocalista Simone Simons chamou quem estava na área da "pista convencional" para adentrar na área da "pista premium" (lê-se front) para que se formasse uma roda punk autêntica, pedido que perdurou por toda a apresentação do grupo, sem respostas positivas do público. Mas nesse momento, quem ainda não tinha se entregue deixou-se levar por "Consign to Oblivion" e viu o metal - lírico, melódico, gutural, pesado - ressoando aos quatro cantos, e a roda disforme se fez, para a alegria do grupo que se despedia do Brasil.
O show do Epica em Recife mostra que, com planejamento e senso, é possível trazer mais shows de tal envergadura à capital pernambucana. Basta aos organizadores o feeling para não perderem a oportunidade em quando as bandas vem em turnê na América do Sul. Recife é pólo certo no Nordeste e a presença massiva de fãs dos mais variados locais, ontem, deixou isso mais do que evidente. O Epica volta à Holanda mas deixa, aqui em Recife, sobretudo, a lição do profissionalismo e excelência que muitos da cena do metal - e das demais - ainda precisam aprender. Ganha o público, que agora sonha com o próximo show.