Som das aparelhagens, tecnomelody quer conquistar o Brasil

Líder da banda AR-15, um dos fenômenos da música paraense, Harrisson Lemos fala dos altos e baixos do ritmo contagiante que tenta conquistar o Brasil

sex, 14/12/2018 - 18:10
Caroline Monteiro/LeiaJáImagens O vocalista Harrisson Lemos deu entrevista ao LeiaJá Caroline Monteiro/LeiaJáImagens

Quando se fala em tecnomelody, uma das bandas mais lembradas pelos paraenses, e que representa muito bem esse ritmo, é a banda AR-15. Músicas que fazem muito sucesso até hoje, as chamadas “marcantes” como “Eu e o mar”, “Anjo Bom”, “Galera do Rock” podem ser ouvidas em qualquer ponto da cidade, desde um show de aparelhagem até dentro de um ônibus na capital.

A banda surgiu no final de 2006, e é uma das pioneiras do tecnomelody, o ritmo que estava começando nessa época. ”Eu parei a minha carreira para montar a banda, e dar início ao novo projeto que queríamos realizar. Tinha aquele melody mais lento, e aí começou o tecnomelody com o Dj Maluquinho, e depois veio a banda AR-15”, contou o cantor e compositor Harrisson Lemos, também empresário da banda.

 O tecnomelody carrega a essência do brega, da música eletrônica e do romantismo. Em muitas das músicas da banda é possível notar a referência a equipes, aparelhagens e Djs. “Vou dançar, curtindo o som do Águia de fogo, amor. Dj Elison a tocar e Juninho a metralhar os nossos corações, com lindas canções”, diz um trecho da música “O Show do Águia”.

Harrisson Lemos explica que as aparelhagens cumprem um papel fundamental de divulgação das músicas. “As aparelhagens têm várias equipes, e todas elas querem músicas. Então no auge da banda, quando a gente iniciou, todo mundo queria uma música com a AR-15. Elas ajudam a divulgar o nosso trabalho”, afirmou.

O cantor também revela uma curiosidade sobre um dos hits da banda, chamado “Eu e o Mar”, ao contar que a música foi inspirada em uma história real vivida por um fã que terminou um relacionamento. “A gente recebeu uma mensagem de um fã contando que se deixou da namorada, e ficou em frente ao mar pensando nela, pedindo pra ela voltar, ouvindo o barulho das ondas. A gente pegou as estrofes principais e foi adaptando na melodia”, disse.

Há mais de 13 anos no mercado, a banda continua lançando músicas novas e fazendo sucesso tanto na capital quanto no interior do Estado. O cantor faz um balanço da trajetória da banda: “Graças a Deus continuamos fazendo muito sucesso, tendo uma aceitação muito grande do público, das pessoas que gostam do nosso trabalho e que curtem a nossa música”, destaca.

 Apesar da grande repercussão e apelo popular, no inicio o ritmo sofreu preconceito pela população local por ser um movimento que nasceu na periferia da cidade e ter a nomenclatura “brega”. Harisson Lemos faz uma comparação com o funk no Rio de Janeiro. “O que acontece com o brega hoje é a mesma coisa que aconteceu com o funk no Rio de Janeiro. Antigamente o funk era um ritmo de favela. Só que o funk foi crescendo, e quando se viu já estava na alta sociedade. O brega também nasce na periferia, só que ele se expande, daqui a pouco todo mundo tá cantando, dançando. O brega chegou a um nível que todo mundo gosta de curtir. Tanto o filho do rico quanto o filho do pobre gostam de brega”, argumentou.

Além de ter se tornado um ritmo popular, o tecnomelody quebrou barreiras quando artistas, bandas e aparelhagens passaram a se apresentar em casas de shows elitizadas da cidade, que anos atrás não cediam espaço a esse segmento. “Hoje as aparelhagens tocam nessas casas tops, elas entraram junto com as bandas para expandir esse ritmo. Isso é legal, porque a gente busca essa valorização do público que a gente não tinha antigamente”, explica.

Mesmo fazendo parte do dia a dia do paraense, o tecnomelody não conseguiu se  expandir para o resto do Brasil. A falta de incentivos do governo estadual contribui para que o ritmo continue limitado e não ganhe projeção nacional, como o sertanejo de Goiânia, o forró do Ceará e o funk do Rio de Janeiro. ]

Harrisson avalia o futuro do ritmo caso não haja uma mudança nesse cenário triste da música paraense: “Eu espero que venha surgir alguém com uma proposta nova para poder dar seguimento nesse ritmo, e um incentivo do Estado para valorizar o nosso tecnomelody. A cultura paraense é muito rica, só que infelizmente é pobre em investimento. Se não vier um ‘salvador’ do tecnomelody, mais na frente esse ritmo pode virar apenas uma música de saudade, para o pessoal relembrar”, concluiu.

Por Caroline Monteiro, Fernanda Cavalcante e Adrielly Araújo. Vídeo: Fernanda Cavalcante.

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