Polêmico, 'Coringa' agita a web e divide opiniões
Vencedor do Leão de Ouro em Veneza e sucesso de bilheteria mundial, longa é um dos favoritos ao Oscar 2020
Aclamado no Festival de Veneza com oito minutos de palmas ininterruptas e um dos favoritos ao maior prêmio do cinema na cerimônia do Oscar em 2020, o longa-metragem "Coringa" (2019) segue gerando polêmica na web. Sucesso de bilheteria, o filme dirigido por Todd Phillips e estrelado por Joaquin Phoenix é alvo de elogios por especialistas em cinema e está entre os assuntos mais comentados nas diferentes redes sociais.
No longa, Arthur Fleck é um humorista pobre e com problemas mentais | Foto: Divulgação/Warner
Contando a história de Arthur Fleck, um humorista que precisa fazer acompanhamento clínico por conta de seus problemas mentais, o "Coringa" fez sua estreia no início de outubro. Visto por uns como vítima da sociedade-estado que não presta o devido auxílio aos mais necessitados e por outros como alguém que apenas se diverte com o modo banal de sua vida no crime, a obra instaurou um debate.
Para a auxiliar fiscal Elisângela Lins, 27 anos, o filme faz refletir sobre a ausência de empatia entre as pessoas. "Saí do cinema muito impactada. Fiquei pensativa e triste, refletindo sobre o mundo em que vivemos e a forma como as pessoas são tratadas. É um filme muito forte", comenta ela, que já foi ao cinema duas vezes assistir ao longa. "Achei algumas cenas violentas, mas nada fora do comum, totalmente aceitável por vir de um personagem como o Coringa", complementa.
O ator Joaquin Phoenix em cena do filme "Coringa" | Foto: Divulgação/Warner
Outra que avaliou o conteúdo do filme como positivo foi a atendente Mariane Gonçalves, 21 anos. Para ela, o personagem principal agiu de maneira violenta apenas por questão de vingança. "Se ele não tivesse os problemas mentais talvez não seria tão violento. Vejo o personagem como uma vítima da sociedade e senti uma sensação boa, pois ele se vingou de quem tanto o fez sofrer", considera. Para a atendente, o filme trouxe polêmica por ser uma efetiva crítica social. "Por se tratar de um pobre com problemas mentais abandonado pelo Estado, a crítica recai sobre ele, ao Estado e reflete na sociedade em geral", complementa.
Já para o designer gráfico Tiago De Biasi, 21 anos, suas impressões ao sair da sala de cinema foram baseadas em uma reflexão sobre a violência. "Pensei durante dias sobre como até pequenos atos de violência como uma piada de mal gosto ou uma ofensa podem ser extremamente prejudiciais para algumas pessoas", ressalta. Para ele, as opiniões opostas a respeito do filme fazem o longa ainda melhor. "É possível enxergar o filme como uma forma de alerta ou reflexão sobre a realidade do personagem e, com visão negativa, observando-o como inspiração para quem enfrenta dificuldades similares e que pode ver os crimes como uma saída para a situação", explana o designer gráfico.
Segundo a psicóloga Ana Caroline Boian, as obras de ficção não podem ser consideradas gatilho para a violência cotidiana da sociedade. "Os conteúdos servem como forma de reflexão do comportamento humano e não para despertar aspectos violentos nas pessoas, a menos que esse indivíduo já possua características, comportamentos agressivos ou má índole", declara.
De acordo com a sócia-proprietária da Árvore da Vida Psicologia, apesar de não ser uma máxima, algumas obras devem ser evitadas em momentos mais críticos. “A uma pessoa que sofre com crises intensas de pânico não é apropriado assistir filmes de terror ou com forte apelo agressivo, assim como não é recomendado a alguém que faça tratamento para depressão assistir filmes com um tom mais dramático que permita reflexões sobre vida e morte", orienta.
Polêmicas na rede
O ator norte-americano Zacary Levi, intérprete do super-herói Shazam no filme homônico, aproveitou as redes sociais para elogiar "Coringa". Em sua conta no Instagram, Levi publicou: "Se você não tiver um coração fraco e apreciar cinema de verdade, corajoso, e excelente, vá assistir Coringa. Não é apenas um bom filme de quadrinhos. É um grande filme. Ponto. Um 'grande parabéns' para Todd Phillips, Joaquin Phoenix e todos que ajudaram a torná-lo realidade."
Na linha dos conservadores, uma das críticas partiu de Filipe Martins, assessor do presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) para Assuntos Internacionais do Brasil. Em seu perfil oficial no Twitter, Martins classificou o personagem fictício como "esquerdista" e "sem Deus". "É uma demonstração do que a anomia social e o ressentimento esquerdista podem fazer com uma mente perturbada. Um retrato desesperador das consequências do mundo sem Deus, sem propósito, sem transcendência e sem redenção", completou o assessor.