Unesco remove carnaval belga da lista de patrimônios
Festa da cidade de Aalst é acusada de ter expressões antissemitas e racistas
A Unesco retirou o carnaval belga da cidade de Aalst de sua lista de Patrimônio Imaterial da Humanidade após denunciar suas expressões antissemitas e racistas, anunciou o organismo da ONU nesta sexta-feira, no âmbito da reunião que realizou em Bogotá.
O carnaval, na lista desde 2010, estava na mira da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde sua última edição, em março.
"O Comitê baseou sua decisão no fato de que suas repetições recorrentes (...) de racismo e representações antissemitas são incompatíveis com os princípios fundamentais da Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial", justificou a Unesco.
É a primeira vez que a Unesco aplica uma medida tão drástica.
A comunidade judaica da Bélgica havia reagido com indignação à presença no desfile de um carro que caricaturava os judeus ortodoxos com narizes aduncos e sentados em sacos de ouro.
Em seu comunicado, o órgão das Nações Unidas considerou que o carnaval havia exibido em várias ocasiões "mensagens, imagens e representações" estereotipadas que insultam a memória de "experiências históricas dolorosas que incluem genocídio, escravidão e segregação racial".
"A Unesco tinha que estar atenta e firme sobre os excessos de um festival classificado como Patrimônio da Humanidade, e isso viola seus valores básicos", disse a diretora-geral da organização, Audrey Azoulay.
"Além disso, não é a primeira vez que carros racistas e antissemitas desfilam nesse festival", acrescentou.
A reunião anual do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial é realizada nesta semana na América Latina pela primeira vez.
Azoulay fez referência à edição de 2013, quando a sociedade carnavalesca teve a ideia de fazer desfilar um carro que mostrava como um oficial nazista o líder do partido independentista flamengo N-VA, que se supunha favorável à deportação de francófonos.
Irina Bukova, então diretora da organização, afirmou que era "um insulto à memória dos seis milhões de judeus que morreram durante o Holocausto".