Duo paraense Ctrl+N celebra a arte queer em videoclipe

O performer Gabriel Bacury dá vida à personagem Madame Dagadá em projeto audiovisual e musical com tom de manifesto

ter, 22/09/2020 - 17:40

Embed:

O duo Ctrl+N, criado em 2018 e composto pelos artistas paraenses Nigel Anderson e Haroldo França, lançou o videoclipe de Madame Dagadá, uma das músicas do EP Vrá, lançado no início de 2020. A personagem Madame Dagadá é interpretada pelo performer Gabriel Bacury, também belenense.

"Madame Dagadá é um manifesto queer, como quase tudo o que a gente faz. No videoclipe, você vê uma pessoa que se sente à vontade com o seu lado feminino, empodera esse lado feminino e afirma esse lado feminino com força", explica Haroldo França. Segundo ele, a personagem Madame Dagadá foi elaborada de forma glamourosa e sensual para falar de liberdade e da possibilidade de ser quem você quiser.

Gabriel Bacury, artista que deu vida à personagem do clipe, se preparou durante meses em conjunto com a dupla, discutindo ideias, escolhendo passos de dança, técnicas corporais e figurinos para atender às expectativas deles e do público. Além disso, o trio também fez diversas atividades para ajudar Gabriel a entrar na personagem, já que era a primeira vez que o dançarino fazia algo desse tipo. "Aprendi muita coisa com eles. Foi uma honra e uma responsabilidade muito grande ser chamado para participar, porque um videoclipe é um reconhecimento e tanto, ainda mais sendo personagem principal. Agora a sensação é de alívio por tudo ter saído lindo. É uma felicidade imensa", diz Gabriel.

Para Nigel Anderson, uma das principais coisas que o Ctrl+N leva em consideração ao escrever e compor músicas é a preocupação em compartilhar o olhar de mundo e as inquietações dos integrantes, trazendo no trabalho o olhar crítico deles, principalmente voltado para o universo LGBTQIA+, que é com o qual eles se identificam e é onde eles estão inseridos. Nigel afirma que a dupla faz música de uma forma leve e com uma sonoridade própria, inspirada nas músicas paraenses, principalmente no technobrega.

"Quando a gente lançou a nossa primeira música, em 2018, o que alimentou muito a nossa vontade de continuar produzindo foi o retorno que a gente teve do público. É uma mistura de gratidão e orgulho por a gente ter tido a coragem de colocar esse projeto para fora. O carinho que vem do público faz a gente ter mais energia e força pra continuar tocando e fazendo o nosso trabalho", conta Nigel.

De acordo com Gabriel, a cultura nortista ainda é menosprezada pelo restante do Brasil, que não a enxerga por puro preconceito. "As pessoas acham que nada de bom vem do Pará e desvalorizam os artistas que vêm desses lugares. Nosso estado tem muita coisa para mostrar, Belém tem um núcleo cultural muito grande e a gente é capaz de muita coisa. Não é questão de pedir para valorizar, mas sim de dar oportunidade e um olhar diferente para enxergar o que está na sua frente", exige o dançarino.

"Espero que a música Madame Dagadá possa inspirar as pessoas a se sentirem mais a vontade consigo mesmas, a acolherem melhor o próximo, a serem mais tolerantes, a se divertirem, a dançarem e a se soltarem. É para isso que a gente está fazendo música", conclui Haroldo. Gabriel diz que é importante cada pessoa descobrir a Madame Dagadá que existe dentro de si. "Madame Dagadá não tem medo de se mostrar, não tem medo de fazer aquilo que ela gosta, não tem medo de nada. A mensagem que queremos passar é: o outro não precisa nos aceitar, mas vai ter que respeitar", reitera Gabriel.

Por Ana Luiza Imbelloni.

 

 

COMENTÁRIOS dos leitores