Fotógrafo pernambucano integra mostra especial da ONU

Rennan Peixe expõe na '#TheWorldWeWant', mostra que celebra os 75 anos da organização internacional

por Paula Brasileiro qua, 21/10/2020 - 10:56
Reprodução/Instagram Além de Rennan, apenas uma outra brasileira integra a mostra: a fotógrafa Rosana Albuquerque. Reprodução/Instagram

Rennan Peixe poderia ter sido apenas mais um jovem negro e periférico a passar pela vida com poucas oportunidades e baixas expectativas. Crescido em uma comunidade do município de Paulista (Região Metropolitana do Recife) com o simbólico nome de Ilusão, o rapaz, no entanto, decidiu desprezar o roteiro pré-fabricado pela sociedade para pessoas como ele e se apropriar do protagonismo de sua história. 

E foi através da fotografia que Rennan mudou o curso de sua vida. Na ativa há 10 anos, com especialização na cultura popular pernambucana e forte foco nas questões sociais e raciais, o pernambucano começa a colher os louros de seus esforços. Peixe está entre os 75 fotógrafos de todo o mundo selecionados para a exposição online #TheWorldWeWant, que celebra os 75 anos da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Para entrar na exposição, Rennan competiu com outros 50 mil fotógrafos de todo o planeta.  Do Brasil, foram escolhidos apenas dois nomes, o dele e o da fotógrafa Rosana Albuquerque. A mostra, além de comemorar o aniversário da ONU, também promove uma reflexão acerca do futuro da Terra em um momento em que a humanidade parece ter sido colocada à prova. No site em que estão hospedadas as obras, o secretário geral da organização, António Guterrez,  falou sobre sua importância: “Nesse momento em que o mundo enfrenta uma pandemia global e outras ameaças, precisamos juntar forças além das fronteiras e gerações para trabalharmos juntos por um futuro melhor. Essa exposição pode nos ajudar a buscar inspiração para essa tarefa coletiva”.

A conquista internacional animou o pernambucano Rennan Peixe. O fotógrafo e realizador de cinema negro, que usa sua arte como ferramenta política no combate ao racismo e pelo empoderamento do povo preto, vê na oportunidade não só o reconhecimento do seu trabalho como uma maneira de incentivar outras pessoas. “Acho que essa exposição é um proesso de fortalecimento da minha jornada e acredito que possa vir mais trabalhos e possa abrir espaço para que outros fotógrafos negros se inspirem e nao se autosabotem dentro dessa estrutura racista. Que sua imagem saia do Instagram e ganhe esses espaços legitimadores da arte”, disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá. 

A foto de Rennan competiu com outras 50 mil de todo o mundo. Reprodução/Instagram

Sobre a foto selecionada para a mostra da ONU, um ensaio com mulheres  de um grupo de dança afro, Renan explicou: “Essa foto representa o estado de felicidade das mulheres negras que são a base da pirâmide social. Quando uma mulher negra se movimenta, o mundo se movimenta também”. Complementando sua fala, o fotógrafo faz referência à própria mãe, segundo ele, a grande incentivadora de seu trabalho que já chegou a tirar de onde não tinha para que o filho pudesse se dedicar à sua vocação. “Ela dividiu em 24 vezes minha primeira câmera, uma câmera básica, de entrada. Ela acreditou em mim e hoje consigo dar esse orgulho pra ela”. 

Tal esforço, agora, encontra sua recompensa. Mas, Rennan não quer gozar do êxito sozinho. O pernambuco deseja ser espelho e incentivador para que outros artistas e produtores de conhecimento negros possam desmontar uma estrutura que, como ele coloca, “diz que a gente não pode”. E é respondendo ao mote da exposição internacional que integra que o fotógrafo sintetiza o sentimento: “Eu quero um mundo onde as mulheres negras, como essas (da foto), como a minha mãe - que foi uma mulher que se anulou muito e que foi minha principal incentivadora - ; (apareçam diferente) das imagens que as mídias produzem; e onde os corpos negros sejam tratados numa condição de igualdade”. 

 

COMENTÁRIOS dos leitores