Futurismo: o casamento entre moda e tecnologia

O que no passado foi pensado como uma era de triunfo das máquinas, hoje se apresenta como uso eficiente da internet e busca pela sustentabilidade

por Junior Coneglian qui, 17/12/2020 - 17:32

Tratar o movimento futurista reduzido às passarelas era pensar em maxibotas, cores metálicas e estruturas não convencionais. Tendo sua estética impulsionada pelo avanço da tecnologia e pela ida do homem à Lua na década de 1960, era de se esperar que, pelo menos 50 anos após, o mundo estaria vislumbrando carros voadores, roupas espaciais e high-tech, entretanto, o caminho parece outro.

Desde seu advento, moda e tecnologia sempre desbravaram caminhos juntos.  "Hoje mais do que nunca necessitamos da tecnologia, para nos comunicar às coisas, às pessoas e ao mundo. Com o advento da pandemia do COVID-19 muitas coisas mudaram, hoje vivemos uma nova realidade e a indústria da moda foi forçada a se reposicionar e a repensar todo negócio, desde a cadeia de produção até as necessidades dos consumidores", analisa Juliana Peixoto, coordenadora de estilo e marketing da Cataguases, empresa têxtil referência em algodão. 

Na opinião dela, o futuro da moda está no que a marca tem para entregar ao consumidor. "Hoje não basta você ter um produto legal, uma peça com modelagem interessante, o consumidor mudou radicalmente e é preciso entender esse sentimento. As categorias de produtos desejados, por exemplo, deixaram de ter aspectos luxuosos e passaram a ser mais casuais, pijamas e moletons tiveram um boom nesse período, peças esportivas também cresceram significativamente. A experiência de marca hoje se tornou ainda mais relevante, pois o contato se tornou algo inteiramente virtual, e a necessidade de aproximação e de conhecimento de marca é ainda maior. Hoje o consumo foi repensado de uma forma geral, a tecnologia humanizada vem crescendo e dando lugar ao contato físico de forma sustentável’’, explica. 

Dessa forma, o futurismo na moda ganha nova proporção e significado. Onde antes era esperado o domínio da tecnologia através de uma robótica ácida e dominadora (pense, ‘'Ex-Machina’’, lançado em 2014), agora essa ferramenta percorre um caminho ligado à sustentabilidade, talvez, por seu senso de urgência, interligada em estéticas que se fundem como o cottagecore, ideologia que se apega ao simples, artesanal, nostalgia e agricultura, que dominou os maiores portais de moda e passarelas mundo afora, sendo responsável por impulsionar grifes como a francesa (e não parisiense) Jacquemus, que em seu último desfile presencial (pré-pandemia) contou com a presença do estilista e costureiro Pierre Cardin, 98 anos, na primeira fila.

"A sustentabilidade é um tema que vem tomando espaço nos últimos tempos e a busca por ela também. O consumidor tem procurado ser sustentável em todos os campos da sua vida, seja na coleta seletiva dentro de casa, seja na busca por bens de consumo sustentáveis.  Para alcançar esse nível de entrega aos clientes, as empresas precisam ser cada vez mais transparentes, cada vez mais responsáveis no que diz respeito a produtos e matérias-primas utilizados. Hoje eu não compro somente um produto, eu compro um serviço, ou seja, toda a cadeia por de trás dele, quero saber de onde vem, como foi feito, onde foi feito, enfim uma gama de informações que há um tempo atrás não fazia diferença. É visível essa relação que o cliente busca construir com a marca e podemos reforçar isso com o exemplo das cadeias de fast fashion - que tinham um histórico bem diferente do citado acima -, e que tiveram de se reinventar num cenário onde a personalização e a necessidade de informação se tornou algo tão intrínseco na moda e no consumo. E a tecnologia entra exatamente aí, impulsionando toda essa conexão entre moda e sustentabilidade, permitindo às empresas se comunicarem, se promoverem, se aproximarem de forma rápida, prática, segura e transparente com seu consumidor", aponta Juliana. 

Com a crise causada pela pandemia do COVID-19 todas as grandes grifes, sem exceção, precisaram se reinventar para permanecer no mercado. "Marcas consagradas tiveram que mudar o rumo não somente do seu mix de produtos, mas também da forma como ele seria pensado e apresentado ao consumidor/mercado. Vimos acontecer uma semana da moda toda virtual, onde eu brinco, que todos - que quiseram e puderam - tiveram acesso ao desfile da ‘primeira fila’ do celular. É a democratização da moda", diz a especialista. 

A tecnologia, afinal, não está tanto nos materiais e nas formas, mas no modo de produzir, comunicar e vender. "O futurismo está no olhar do momento social e contexto histórico no qual ele está inserido, muitas vezes se contrapondo aos padrões da época’’, assinala.

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