Produção audiovisual de Belém sente impactos da pandemia

Apesar das alternativas oferecidas pelas plataformas digitais, muitos projetos ficaram parados

sab, 03/04/2021 - 11:09

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A pandemia do novo coronavírus comprometeu a vida e o trabalho de milhares de pessoas no mundo inteiro. Com os produtores de vídeos e filmes não foi diferente. Alguns precisaram buscar alternativas para dar continuidade às produções e, pensando nisso, o Circuito Cineclube – projeto idealizado pela produtora Mazô Lab – reuniu diversos cineclubes do Pará para promover debates, dar visibilidade aos trabalhos, além de exibir as produções audiovisuais paraenses.

James Silva, produtor executivo do Circuito Cineclube, afirma que a pandemia afetou muito o trabalho audiovisual, principalmente pela necessidade de as produções acontecerem de modo presencial. “Equipes técnicas, equipamentos, que precisam estar reunidos num mesmo local em busca da melhor qualidade, não puderam mais acontecer da mesma forma”, explica.

Apesar das circunstâncias, James cita que a união dos produtores em meio às dificuldades causadas pela covid-19 foi positiva e muitas pautas vieram à tona, contribuindo para o uso da criatividade como uma maneira de superação. O tema inclusive chegou a ser inspiração em produções educativas e artísticas.

“Em 2020, nós da produtora Mazô Lab produzimos uma série de videoaulas ensinando as pessoas a produzir dentro de casa, incentivando o isolamento social, mas também demonstrando alternativas para produções de todos os tipos, sejam de ficção, documentais, videoarte ou videoclipes”, complementa.

Quanto à exibição de trabalhos audiovisuais na internet, James explica que vários projetos têm realizado suas programações por meio de lives nas plataformas digitais. “No Circuito Cineclube, por exemplo, tivemos uma programação durante cinco dias. Fizemos a exibição de várias produções regionais independentes, além de debates diários com realizadores paraenses”, destaca.

O produtor comenta sobre a necessidade de os provedores de internet proporcionarem cada vez mais capacidade e qualidade de serviço para que a transmissão das produções seja possível. “Ainda mais importante, para que o público tenha acesso facilitado em qualquer lugar, principalmente nas periferias e áreas rurais”, salienta.

James afirma que a produção local é o reflexo da cultura de um povo e que ela serve para espalhar a cultura local nas demais regiões. Além disso, possibilita que paraenses de todos os cantos do Estado se vejam nas produções. “Nossa produção não pode ser resumida apenas em folclore paraense e amazônico, nossos produtores precisam ter cada vez mais espaço para realizar suas ideias”, ressalta.

Durante a pandemia, vários coletivos estiveram envolvidos em ações sociais e produções colaborativas. O produtor afirma ainda que “o Telas em Movimento é um exemplo de ação que reúne vários coletivos em torno de produções, oficinas, ações sociais e eventos on-line”.

James conta que produtores audiovisuais estão sendo beneficiados principalmente através dos editais da Secult – Secretaria de Estado de Cultura. “Além disso, houve muito apoio de plataformas como o site Benfeitoria, que ajuda os realizadores a captarem recursos através do financiamento coletivo”, disse.

Marco Antônio Moreira, mestre em Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), conta que a pandemia teve impacto em todos os segmentos e que por essa razão o meio audiovisual teve diminuição das atividades. Ele também afirma que muitos filmes migraram para canais de exibição na internet. “O YouTube tem sido usado com frequência até antes da pandemia, mas alguns títulos paraenses podem ser encontrados em alguns canais streaming”, comenta.

Segundo Marco Antônio, os cineclubes estão sem atividades desde o início da pandemia e devem continuar assim até o momento mais seguro para realizarem as sessões presenciais. Quanto aos filmes que estão sendo produzidos atualmente em Belém, ele diz que existem poucos, mas cita a continuidade da produção de clipes musicais. “Acredito que todas as produções aguardam momento mais seguro de se voltar às atividades”, analisa o crítico de cinema.

O jornalista e documentarista Nassif Jordy assegura que as circunstâncias da pandemia foram responsáveis pela adaptação do meio audiovisual, assim como todos os outros. Entretanto, ele menciona o desemprego de muitas pessoas e acredita que as produções estagnaram nesse período, mesmo com o auxílio da Lei Aldir Blanc, que foi importante para movimentar alguns trabalhos.

Nassif faz parte de um coletivo de jornalistas independentes, chamado “Coletivo Gó”, que produz documentários, filmes e vídeos contando histórias das sociedades indígenas, quilombolas, das periferias urbanas e dos demais povos tradicionais. O documentarista conta ainda que foram realizados trabalhos como podcasts e entrevistas, porém a produção de documentários e outros tipos de vídeos ficou parada.

Por Isabella Cordeiro e Valdenei Souza.

 

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