O funk como instrumento de redenção

MC Louco, artista pernambucano de 26 anos, reconstruiu a vida pelo amor à música e hoje divide sua história para inspirar outros jovens periféricos

ter, 20/12/2022 - 12:30
Reprodução MC Louco é artista integrante do Projeto Invasão. Reprodução

Muito se fala sobre amor na época do Natal e em como esse sentimento tem o poder de mover e mudar vidas. O cantor pernambucano MC Louco, integrante do Projeto Invasão, é uma prova viva disso. Após tropeçar em graves problemas sociais que o levaram à cadeia, onde ficou seis anos privado de sua liberdade, o jovem - hoje com 26 anos - encontrou o caminho da redenção não só pelo amor ao funk, mas por seus iguais; jovens periféricos que, como ele, podem ter um futuro diferente do que aquele pré-estabelecido pela falta de oportunidade. 

Wanderson da SIlva Souza, o MC Louco, conheceu a música ainda criança. O menino, nascido em Olinda, Pernambuco, frequentava a igreja evangélica com a família, na 4ª etapa de Rio Doce, bairro periférico da cidade, e lá participava do coral infantil e, em seguida, do juvenil. No entanto, aos 14 anos, acabou se “desviando da crença” e encontrando o crime.

Preso, Wanderson precisou encarar uma realidade dura. A privação da liberdade, violência, fome e pouca assistência dentro do presídio levou o jovem a desenvolver alguns transtornos psíquicos. “Passei um ano e 10 meses sozinho em uma cela, tomando remédio controlado, apanhei bastante, tinha convulsões. A galera dizia: ‘Esse cara é louco’. Eu tava entregue ao sofrimento, conversava com a parede, chorava o tempo inteiro, um verdadeiro sofrimento eu passei lá dentro”, relembra.

No entanto, nos momentos de maior angústia  durante o cárcere o que o acalmava era a música. Na cela, ele cantava hinos evangélicos e também criava suas próprias rimas. A voz potente e as composições logo chamaram a atenção dos companheiros e ele foi estimulado a gravar um vídeo. “Não podia ter celular lá dentro, mas mesmo assim, as pessoas que estavam comigo, os parceiros me incentivaram, e eu fiz. O vídeo repercutiu, teve mais de 500 mil compartilhamentos, se eu tivesse na rua eu tinha ficado famoso”, diz. 

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Ao terminar a sentença de seis anos, o MC Louco partiu em busca seu objetivo de vencer através da música. Enquanto isso, trabalhou em coletivos e com carroças pela rua, comercializando produtos diversos. A sorte e o talento do jovem músico o colocaram frente a frente com os empresários do Projeto Invasão: Queiroga e MC Anjo, que lhe estenderam as mãos e decidiram ajudá-lo na empreitada. 

Hoje, o MC Louco é uma das pratas da casa do Invasão. O artista, que se orgulha em representar as favelas do Recife e Região Metropolitana, já consegue viver exclusivamente de sua música e tem criado como nunca. O sofrimento enfrentado durante a jornada tem servido como inspiração e exemplo para outros jovens periféricos.

Até porque como ele mesmo faz questão de dizer, o que o mais lhe impulsiona, ao contrário do que muitos possam imaginar, é o amor. “Tudo que eu passei, que sofri, nada foi em vão. Já passei de morrer, e hoje tô aqui contando história, pra dizer que a música pode salvar vidas. Hoje eu vivo tranquilo sem ter medo de olhar pro lado, sou bem quisto onde eu chego, em qualquer quebrada, todo mundo sabe da minha história. Com ela quero mostrar que a favela tem sim uma porta de saída, tô aqui pra provar isso”. 

 

*Com informações da assessoria. 







 

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