Tatuadora marca nas peles o amor por Pernambuco

Entre xilogravura e blackwork, a artista recifense Maria Júlia Miranda eterniza o bairrismo através de tatuagens regionais

seg, 22/05/2023 - 13:00
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Inspirada pelo amor ao regionalismo, a artista e tatuadora recifense Maria Júlia Miranda (@juba.ttt), que começou a trabalhar com tatuagens em 2019, tem desenvolvido um trabalho voltado a eternizar essa identidade local na pele dos recifenses. As tatuagens se enquadram no estilo blackwork (estilo de tatuagem que utiliza somente tinta preta) e algumas têm inspirações na xilogravura nordestina (desenhos populares da literatura de cordel, com forte traço preto). Mas as inspirações regionais vão além do estilo e se estendem para as temáticas.

Recife Antigo, Mercado de São José, Cinema São Luiz, Ponte de Ferro, Torre Malakoff, Forte das Cinco Pontas e Torre de Cristal são algumas das paisagens feitas pela artista e escolhidas pelos recifenses para representar a paixão pela cidade. Alguns desses cenários, no desenho, aparecem em releituras da famosa pintura do artista holandês Vincent Van Gogh. “Quando eu trabalhava com fotografia, fiz uma foto de Olinda à noite e chamei de ‘A noite estrelada de Olinda’. Disso veio minha inspiração para as releituras de Van Gogh, com pontos turísticos famosos de Recife e Olinda”, explica a artista.

Todas as artes de Júlia são autorais ou co-autorais (quando o cliente dá sugestões e participa do processo criativo). “A minha arte tá muito voltada para o que eu sou, para o que eu consumo, e é incrível ver que tem muita gente se identificando e querendo eternizar isso. Cada pessoa tem um olhar amoroso por Recife de uma forma completamente diferente”, afirma Júlia, que também expressa na arte a sua religiosidade. As releituras das cartas de tarot com um toque nordestino são marcas registradas das suas tatuagens.  

Uma dessas releituras é a do arcano “O Louco”, na qual Júlia faz uma mesclagem da carta de tarot com uma La Ursa “louca por Olinda” dançando carnaval (no tarot, o personagem representa um pedinte, podendo ser relacionado à La Ursa que pede dinheiro no folclore nordestino). “Chamo isso de misticismo local. É uma mistura de religiosidade com sentimento de identidade pernambucana, e tem muito a ver com o que eu sou”, explica Juba. Outra arte com essa inspiração é a releitura do arcano “A Torre”, na qual a Casa Deus no tarot é substituída pela Torre Malakoff, famoso ponto turístico do Recife Antigo.

As carrancas e figas de guiné feitas sob forte inspiração estética da xilogravura também fazem referência à religiosidade local, e são alguns dos desenhos mais pedidos, além da famosa La Ursa, que aparece nas tatuagens sob as mais diversas formas. Outras artes fazem referência à música regional, como a carta “Pavão Misterioso”, que também tem inspiração na xilogravura e faz referência à música do cantor cearense Ednardo, ou mesmo o desenho “Cabeça doida, coração na mão”, referência à música “Espumas ao vento” do cantor cearense Fagner. “Eu consumo muita arte local, seja cinema ou música. Então muitas das artes que eu crio tem essa referência, não só pernambucana, mas nordestina. Outras artes representam a vivência que tenho como recifense, como a representação da mesa de bar, da cachaça Pitú e da cuscuzeira, por exemplo”, diz Juba.

*Via assessoria de imprensa. 

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