Yane é referência brasileira no pentatlo em Londres

Pernambucana é a única brasileira da modalidade garantida na edição nas Olimpíadas deste ano

por Thiago Graf sex, 20/04/2012 - 18:20

 

Carismática, de sorriso fácil e sempre solicita à imprensa e aos fãs. Todas essas características nos leva a pensar que estamos falando de uma artista, alguém na qual o glamour está sempre em volta. Na verdade, a pessoa em questão trata-se de uma pernambucana simples, nascida no interior e que com muita dedicação se tornou uma multiatleta. Uma pentaatleta.

Nascida no dia 7 de janeiro de 1984, na cidade sertaneja de Afogados da Ingazeira, localizada a 390 km do Recife, Yane Marques acumula essas e outras características que fazem dela uma vencedora. A pernambucana nunca teve vida fácil e precisou deixar o seu município natal com apenas 11 anos. “Nesse período, minha irmã iria prestar vestibular e viemos todos para a capital, eu, minha mãe e os três irmãos. Eu vim meio que de carona”, brinca. Ela conta ainda que se adaptou à vida no Recife. “Dei continuidade a minha vida. Comecei a nadar aos 12 anos e com quase 20 foi que eu comecei no pentatlo”, explicou.

Yane nadava na Nikita Natação. Em outubro de 2003, o auxiliar técnico da equipe, Nuno, convidou a nadadora para conhecer um pouco mais sobre o Biatlo (que mescla natação e corrida), através da Federação de Pentatlo - que acabara de ser criada por Alexandre França – que tinha sido transferido para o Exército do Recife. Ele futuramente se tornaria o primeiro e único treinador da pernambucana. A Afogadense participou e venceu a seletiva, iniciando a sua trajetória no novo esporte.

O pentatlo é conhecido como o esporte que procura o atleta perfeito. Os relatos indicam que ele foi criado na Grécia Antiga e tinha corrida de 200m, arremesso de disco e dardo, salto em distância e luta livre. Posteriormente, o Barão de Coubertin daria uma nova roupagem à modalidade, durante a realização dos Jogos modernos, à partir de 1896. Ele a denominou de Pentatlo Moderno e a partir deste momento as provas se configuravam com: natação e corrida, que enfatizam a questão física, além do tiro (aspecto emocional), esgrima (inteligência) e hipismo (coragem, adaptação e auto-controle), uma vez que os competidores montam cavalos desconhecidos.

Yane só nadava. A partir deste momento precisaria aprender e desenvolver os outros quatro esportes. “Foi um desafio, mas gratificante. São modalidades totalmente distintas e sensações diferentes a cada treino. Então, isso é interessante e você não se cansa de fazer a mesma coisa todo dia”. Ela ainda contou os problemas do início da carreira. “Minha maior dificuldade foi a adaptação à prova de corrida. É engraçado, né? Principalmente partindo do princípio que quem anda também corre. Consegui desenvolver bem em todas, mas a corrida era mais complicada. Eu vi que tinha muito para melhorar, estava deixando a desejar em relação ao avanço das demais. Mas hoje consigo manter um bom equilíbrio”, analisou.

Depois da adaptação, Yane mantém a humildade e conta a sensação de hoje ser o principal nome do pentatlo moderno no país, além de aparecer como referência para atletas e futuros esportistas. “É uma responsabilidade muito grande, sinto isso. Reconheço que minha história está escrita nos livros, mas acho que o pentatlo vive um momento muito bom. Independente da minha participação, das minhas medalhas, acho que o apoio e essa dedicação das pessoas envolvidas para que o esporte se desenvolva e seja difundido no país está sendo fundamental. Ver uma competição como o 3º biatlo moderno, aqui no Recife, com mais de uma centena de inscritos, é uma sensação muito boa. É importante olhar seu esporte tão divulgado e praticado como os mais tradicionais”, comemora.

Hoje, Yane lidera o ranking nacional da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM), com 5372 pontos, seguida da conterrânea Priscila Oliveira (5060) e da paraibana Larissa Lellys, com 5000.  Além disso, a pernambucana, de 1,66m. ainda é a 10ª melhor do mundo, segundo a Union International de Pentathlon Moderne (UIPM), com um escore de 150 pontos.

Mantendo a rotina puxada de treinamentos, a atleta acumula marcas importantes como o ouro no Sul-americano de 2006, nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e no Campeonato Pan-americano de pentatlo 2010. Ela também ficou com o segundo na grande final das etapas da Copa do Mundo de 2009, no mundial militar de 2010 e no Pan-2011, no México. Ela, agora, se prepara para a sua segunda Olimpíada, em Londres, esse ano.

A pernambucana reforça a importância do maior evento esportivo mundo e conta como está a preparação. “Não preciso nem dizer que a Olimpíada é a competição alvo deste ano. Todo trabalho feito está sendo voltado para essa disputa. Todas essas competições: Copa do mundo, Campeonato mundial, Aberto da França, eu estou fazendo como preparatórias, testando novas coisas e confirmando outras que não valeram a pena. Enfim, quero chegar nas olimpíadas nos ‘cascos’ mesmo”, brincou.

Quando perguntada sobre suas principais oponentes, Yane destaca o equilíbrio. “É difícil definir. São todas muito qualificadas. Para se ter uma ideia, todas as etapas realizadas da Copa do mundo foram vencidas por pentaatletas diferentes. Meu primeiro objetivo é estar entre as 36 que vão para a final e tentar o título em seguida”, explicou.

Se já era complicado se dividir entre as cinco modalidades do pentatlo, Yane ainda arruma tempo para namorar o também pentaatleta pernambucano Aloísio Sandes, sexto melhor do país, além de cursar o 8º período da faculdade de educação Física. Ela explica como faz para dar conta de todas as atividades. “Estou cursando uma disciplina por semestre. É difícil, quase não assisto aula, mas a instituição onde eu estudo (Faculdade Mauricio de Nassau) dispõe de um sistema interessante via internet que me ajuda bastante. Já estou na terceira disciplina do período, faltam apenas mais duas. Aos pouquinhos eu vou concluir sim”, detalhou, revelando que após se aposentar pretender trabalhar com iniciação esportiva junto às crianças.    

Yane realmente tem um fôlego invejável. Mesmo utilizando as etapas da Copa do mundo como preparatória, ela segue com 100% de participação em finais. Neste sábado (21) ela vai tentar o título da competição, que está sendo realizada no Hipódromo da cidade de Rostov, na Rússia.

Com essas conquistas e posturas, a pernambucana se tornou referência e por onde passa, o público aproveita para ter um momento com atleta. Antes do Portal LeiaJá conseguir entrevistá-la, foram varias as interrupções de fãs querendo uma foto ou autógrafo. Ela afirma que curte esse carinho. “Eu confesso que gosto muito desse reconhecimento. Independentemente da área que a gente atue, nós buscamos fazer um trabalho bem feito para ser reconhecido, isso é fato. Se eu estou tendo este reconhecimento, tenho que retribuir da melhor forma possível. É o que tento fazer, não sei se tenho conseguido, mas quero sempre dar atenção a todo mundo, tirar foto”, finalizou. 

Por fim, Yane deixa um recado para os pernambucanos:

COMENTÁRIOS dos leitores