Dois nadadores americanos deixam o país após confissão
Um terceiro nadador americano que ainda está no Brasil poderá deixar o país depois de fazer uma doação a uma instituição de aproximadamente 11 mil dólares
As autoridades olímpicas americanas pediram desculpas ao Brasil nessa quinta-feira (18), após um escândalo envolvendo um assalto falso na cidade, enquanto dois dos nadadores envolvidos no caso foram autorizados a voltar para casa, após esclarecerem a história.
Um terceiro nadador americano que ainda está no Brasil poderá deixar o país depois de fazer uma doação a uma instituição de aproximadamente 11 mil dólares, informou a rede de televisão americana NBC nesta sexta-feira (19) citando seu advogado.
Os quatro nadadores americanos, incluindo o detentor de seis medalhas de ouro em Olimpíadas Ryan Lochte, estiveram no centro de uma tempestade midiática depois de alegarem ter sido roubados por homens armados ao deixar uma festa na madrugada de domingo (14). "Pedimos desculpas aos nossos anfitriões no Rio e ao povo do Brasil por esta provação que nos desvia a atenção do que deveria justamente ser uma celebração da excelência", disse o chefe do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, Scott Blackmun, em um comunicado.
Blackmun se pronunciou depois que a polícia brasileira deixou que Gunnar Bentz e Jack Conger deixassem o país. "Seus passaportes foram liberados e eles partiram do Rio recentemente", disse. Um terceiro nadador, James Feigen, deu à polícia uma "declaração revisada", disse Blackmun.
Ele concordou com um acordo no qual faria uma doação para um grupo não especificado em troca de permissão para viajar, disse a NBC. "Depois de uma longa deliberação, foi alcançado este acordo... ele doará 35.000 reais (US$ 10.800) a um instituto, e com isso o caso está resolvido", declarou a emissora citando o advogado de Feigen, Breno Melaragno. "Depois que esta doação for feita, o passaporte será devolvido, e ele estará livre para voltar para casa", completou.
Lochte já estava nos Estados Unidos quando o escândalo veio à tona. O nadador declarou no domingo que os quatro foram vítimas de um assalto lançado por ao menos um homem armado que se passou por um policial. A alegação forçou os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio a fazer um pedido de desculpas pela suposta falha na segurança.
No entanto, em meio às crescentes dúvidas uma juíza brasileira emitiu na quarta-feira a ordem de que os quatro atletas permanecessem no Brasil enquanto a história era investigada. Na quinta-feira a polícia brasileira informou que os atletas estavam bêbados e entraram em confronto com funcionários da segurança de um posto de gasolina depois de vandalizar o banheiro do local durante a madrugada.
Blackmun indicou que os atletas, interrogados pela polícia na quinta-feira, confirmaram a versão da polícia. "Eles pararam em um posto de gasolina para usar o banheiro, onde um dos atletas cometeu um ato de vandalismo", disse o comunicado dos Estados Unidos. "Começou uma discussão entre os atletas e dois seguranças do posto de gasolina, que exibiram suas armas, ordenaram que os atletas saíssem do veículo e fizessem um pagamento em dinheiro. Quando os agentes de segurança receberam o dinheiro dos atletas, eles foram autorizados a ir embora".
Mentiras e câmeras de segurança
O chefe da polícia civil, Fernando Veloso, pediu aos atletas que se desculpem. Segundo ele, imagens do circuito interno do posto de gasolina mostravam um segurança puxando sua arma para contar Lochte, que estava bêbado e irritado, e seus colegas porque eles tentavam deixar o local depois de vandalizar o banheiro. "Não houve roubo da forma relatada pelos atletas", disse Veloso em uma coletiva de imprensa. "As imagens não mostram qualquer tipo de violência contra ele", acrescentou.
Segundo Veloso, a polícia acredita que os nadadores entregaram o equivalente a 50 reais em dinheiro para pagar os danos antes de deixar o local. Veloso disse que ainda não foi decidido quais acusações, se alguma, serão apresentadas contra os nadadores. "Em tese, eles podem vir a responder por falsa comunicação de crime e dano ao patrimônio", disse. Nenhuma delas é passível de prisão. "Seria nobre e digno pedir desculpas. A única coisa sobre a qual disseram a verdade é que estavam bêbados", completou.
O porta-voz do Rio-2016, Mario Andrada, que havia pedido desculpas aos atletas após o suposto roubo, tentou acalmar os ânimos na quinta-feira. "Vamos dar um tempo a estes meninos", disse Andrada em uma coletiva de imprensa. "Esses meninos estavam tentando se divertir... Eles cometeram um erro, faz parte da vida".
Escândalo internacional
Lochte, um dos rostos mais conhecidos da equipe olímpica dos Estados Unidos, contou que ele e seus três colegas foram assaltados à mão armada por homens vestidos de policiais que pararam seu carro quando saíam de táxi de uma festa na Casa da França, na madrugada de domingo, rumo à Vila Olímpica.
Lochte disse que teve uma arma apontada para sua cabeça durante o assalto, enquanto o taxista foi obrigado a abandonar o veículo e os criminosos ordenaram que deitassem no chão para roubá-los. "O homem sacou a arma e apontou para a minha cabeça dizendo: deita", contou Lochte. "Ele levou meu dinheiro e minha carteira, deixou meu celular e minhas credenciais", acrescentou.
O aparente crime provocou constrangimento entre as autoridades olímpicas e ofuscou as competições esportivas na segunda semana dos Jogos. Cerca de 85.000 policiais e militares, o dobro dos mobilizados em Londres-2012, foram convocados para os Jogos Olímpicos, que terminam no domingo.