Embalado, Federer mantém incógnita sobre aposentadoria

Enquanto mira a grande marca de 100 títulos, tenista suíço inspira o mundo esportivo e recebe o reconhecimentos dos veteranos do esporte

seg, 10/04/2017 - 08:09
Al Bello/Getty Images North America/AFP Al Bello/Getty Images North America/AFP

Apesar da vitalidade e dos títulos recentes, Roger Federer já reconheceu que não tem muito mais tempo de circuito pela frente. Mas uma data para aposentadoria ainda é uma incógnita. "Acho que nem ele sabe quanto tempo ainda poderá jogar. Em Indian Wells, ele disse para crianças que poderia jogar até os 40. Mas, se sofrer uma nova lesão, tudo poderá acabar muito rapidamente", afirmou René Stauffer.

O biógrafo de Federer acredita que o prazer de jogar e a "dosagem" na escolha dos torneios poderão render ainda algumas temporadas ao suíço no circuito. "É o amor pelo tênis que mantém ele seguindo em frente. E ele consegue dosar sua fome pelo jogo ao não jogar tanto, estimulando a si mesmo. É o que vai acontecer agora, com um longo descanso que vai ajudá-lo a chegar faminto em Paris [Roland Garros], em Wimbledon, em Nova York [US Open]", afirma o jornalista que acompanha a carreira do suíço desde a infância.

Federer decidiu, após vencer o Masters 1000 de Miami, que ficaria de fora da maior parte da temporada de saibro na Europa. Só deve competir em Roland Garros. A ausência, contudo, não deve preocupar os fãs. "O que mais chama a atenção no Federer hoje é que ele está curtindo o jogo. E a primeira coisa que faz um jogador parar é a cabeça, não o físico", disse Thomaz Koch. "A cabeça é que comanda o espetáculo. Quando ele cansar do circo, quando for um sacrifício treinar, aí sim ele vai cair fora."

Para René Stauffer, o que motiva Federer são os títulos importantes e a competitividade. "O ranking agora não é mais importante. Ele nunca foi muito de perseguir recordes ou estatísticas. Mas atingir a marca de 100 títulos poderia ser uma boa meta", afirmou. O suíço soma agora 91 troféus no circuito profissional.

Enquanto mira a grande marca, Federer inspira o mundo esportivo. "Essa nova fase dele é um bônus para o tênis e para o mundo do esporte em geral", diz Thomaz Koch. "Federer serve de exemplo para quem está dentro e fora do tênis. Um jogador que já obteve tantos títulos, o maior vencedor de toda a história da modalidade, continua disposto a melhorar, a aprimorar. Isso é absolutamente incrível", comentou Gustavo Kuerten.

De acordo com o biógrafo do suíço, Federer tem consciência de sua importância atual para o tênis. "Ele sabe que pode levar muita alegria para as pessoas e ajudar o tênis em geral, se continuar jogando", afirmou Stauffer.

Para veteranos do tênis brasileiro, a importância do suíço para o tênis atual é incalculável. "Hoje ele é um ícone que transcendeu a barreira do esporte, se tornou uma personalidade. E isso dá muita publicidade e exposição para o tênis", afirmou André Sá, que convive com o suíço no circuito. "São caras como ele que fazem as pessoas verem mais tênis na TV, que fazem o público consumir mais tênis", concordou Fernando Meligeni.

Força física e evolução técnica

Com melhor movimentação de pernas, o suíço conseguiu aperfeiçoar o backhand, o golpe que faz com a mão esquerda. "Ele já tinha a melhor direita do circuito, o melhor saque, o melhor voleio. E agora acertou a esquerda, que era seu calcanhar de Aquiles. Então, se tornou um rival muito indigesto para os rivais", apontou Fernando Meligeni.

Esta evolução toda, somada a uma raquete com cabeça maior, abriu espaço para uma mudança no estilo de jogo. "Ele já vinha tentando isso há uns dois anos, sem tanto sucesso, mas agora, com a esquerda muito melhor, consegue encurtar os pontos e vencer rapidamente os jogos, sem se desgastar muito", disse Thomaz Koch.

A alteração no jeito de jogar, na avaliação do ex-tenista, acompanha uma mudança mental. "A cabeça dele mudou demais. Está mais concentrado, mais agressivo, não deixa o adversário respirar. E essa confiança com a esquerda tem o dedo do treinador, com certeza", argumentou Koch, referindo-se ao croata Ivan Ljubicic, ex-Top 10 do ranking e dono de uma das esquerdas mais poderosas do circuito.

"Se você não está confiante, você hesita e bate atrasado na bola. Deixa a bola entrar um pouco mais na quadra e ela te agride ao invés de você ir em direção a ela. Isso também é uma mudança estratégica: agora ele está pegando a bola mais na subida", explica Koch. "Com certeza há muita influência do treinador. O Ljubicic tinha uma esquerda absurda no circuito. E é muito mais fácil ensinar com o que você sabe, né", ponderou Meligeni.

A confiança elevada também faz a diferença fora da quadra, na opinião de Gustavo Kuerten, que assim como Federer já ocupou o topo do ranking. "Ele encara tudo com muita tranquilidade e simplicidade, tanto dentro quanto fora da quadra, na rotina do dia a dia. Isso economiza muito esforço, empenho. Só dessa forma ele consegue chegar tão longe", disse o catarinense ao Estado.

 

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