Arena de PE recebe Copa de Imigrantes e Refugiados

A entrada custará 1 kg de alimento não perecível, que será destinado a uma entidade que cuida da causa

qui, 12/09/2019 - 10:02

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Foram semanas e mais semanas de treinamento. Integração entre diferentes nações. Haitianos treinando com senegaleses. Angolanos, com venezuelanos. A equipe de Cabo Verde interagindo com um jovem de Benin. Em campo, diferentes formas de se comunicar: crioulo, espanhol, francês, árabe. Todos unidos, porém, por uma só língua universal: a do futebol. Os 80 atletas de diferentes rincões do planeta estarão juntos no próximo domingo (15), a partir das 8h, na Arena de Pernambuco, para a primeira Copa de Imigrantes e Refugiados do Recife.

A entrada custará 1 kg de alimento não perecível, que será destinado a uma entidade que cuida da causa em questão. Além dos jogos, uma série de atrações promovidas pelos imigrantes e refugiados circundará o evento como, por exemplo, barracas com comidas típicas de diversos países, danças culturais nos intervalos dos jogos e desfile de moda africana, com o estilista senegalês Lassana à frente. A Copa terá o lançamento oficial na próxima sexta-feira (13), às 9h, na sede da Federação Pernambucana de Futebol. Mais de 40 voluntários foram recrutados para ajudar na organização, que contou com uma verdadeira corrente do bem para acontecer. Corrente que também trouxe a cantora pernambucana Erica Natuza, finalista do último The Voice Brazil, para perto do evento. Ela também se apresentará na Arena. 

Os confrontos já estão definidos. Angola x Senegal abrem a competição de um lado do chaveamento. Do outro, estão Cabo Verde x Venezuela. Serão dois tempos de 15 minutos. Os vencedores farão a grande final, que dará ao vencedor a chance de disputar a etapa nacional da Copa, em novembro, no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro. Eles terão direito a passagem aérea, hospedagem e alimentação para viver o sonho de jogar no maior palco do futebol nacional.

Criada em 2014, em São Paulo, pela primeira vez a Copa de Imigrantes e Refugiados chega no Nordeste, mais especificamente em Pernambuco, graças a voluntários e organizações como o Gade (ONG pernambucana), de entidades como o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a Defensoria Pública da União (DPU) no Recife, de clubes como Sport (com grande apoio, doações de materiais esportivos e camisa autografada), da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), do Escritório de Assistência à Cidadania Africana em Pernambuco (EACAPE) e do Governo do Estado, através da liberação de toda a estrutura da Arena de Pernambuco (com excelente disposição da administração em colaborar), além da força da sociedade civil.

A Copa surgiu como uma iniciativa da organização não governamental (ONG) África do Coração, com o apoio da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). De pronto, a disputa tornou-se um sucesso porque, além de promover o protagonismo de quem usualmente é visto como antagonista, ainda pôde mostrar as realidades dessas vidas para o público brasileiro, e, assim, dar mais um passo para romper os preconceitos, as discriminações e lutar contra a xenofobia. 

Senegal, Angola, Cabo Verde e Venezuela foram as seleções escolhidas para o torneio. Apesar dos nomes, todavia, as equipes são mistas, com competidores de diversos países compondo cada bandeira. Na edição atual, estarão presentes atletas amadores representantes de Haiti, Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola, Senegal, Venezuela, Colômbia, Israel e Benin. Cada equipe terá 20 jogadores, totalizando 80 imigrantes e refugiados.

O objetivo é simples: promover a integração a partir do esporte e a inclusão dos diferentes povos. O gesto, em contrapartida, é nobre, de significado ímpar. Constrói-se um espaço de união e confraternização para livre expressão dos refugiados e das refugiadas que têm em comum o destino que escolheram para viver: o Brasil.  

“Eu, como imigrante, há nove anos no Brasil, sei a diferença que é ser bem acolhido, receber um sorriso, ser bem tratado. Ajuda muito. Essas pessoas têm importância na sociedade e essa Copa é muito valiosa para mostrar que imigrantes e refugiados também podem ser respeitados. E o esporte tem o poder de integrar a sociedade a se unir e a acolher quem está longe de casa. Psicologicamente isso tem um impacto muito grande”, afirmou o engenheiro haitiano Jean Baptiste, presidente do Grupo de Embaixadores para o Desenvolvimento (Gade, sigla que significa "olhar" em crioulo), ONG que colabora diretamente na organização do evento em Pernambuco.

O tema da Copa dos Refugiados e Imigrantes 2019 é “Reserve um minuto para ouvir uma pessoa que deixou o seu país”. Ao todo, a competição envolve aproximadamente 1.120 atletas de 39 nacionalidades, reunindo pessoas em situação de refúgio e migrantes. As disputas regionais acontecerão ainda no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Curitiba, além do Recife. As seis cidades poderão enviar um representante cada para a fase final, no Maracanã.

“O evento reflete um projeto de integração de pessoas refugiadas por meio do esporte, envolvendo refugiados que representam seus países de origem que buscam promover suas culturas, talentos e conhecimentos no Brasil. Para o ACNUR, ganham os refugiados, imigrantes e a população brasileira”, defende José Egas, Representante do ACNUR no Brasil.

Programação:

Sexta-feira

9h - Lançamento oficial da Copa dos refugiados, na FPF

Domingo

Jogos na Arena de Pernambuco

8h30 - Angola x Senegal

9h30 - Cabo Verde x Venezuela

11h - Decisão

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