Pandemia faz narradores se adaptarem
A falta de ritmo, a ausência do público e as novas formas de trabalho são alguns dos obstáculos a serem superados para que os profissionais levem emoção aos fãs do "novo futebol"
Os narradores esportivos, assim como os atletas, também precisam se adaptar com as mudanças ocorridas nas transmissões dos eventos em razão da pandemia do coronavírus. A falta de ritmo, a ausência do público e as novas formas de trabalho são alguns dos obstáculos a serem superados para que os profissionais levem emoção aos fãs do "novo futebol".
Para Cesar Augusto, locutor da plataforma DAZN, a falta de público exige uma mudança no ritmo da narração. "Sem torcida, o futebol é um esporte novo para ser narrado. Este é o grande desafio do narrador. A voz é mais exigida neste sentido. É um ritmo novo de narração, não pode ter espaço em branco, que era preenchido anteriormente pelo grito de gol da torcida."
Segundo o ex-repórter da TV Globo nos anos 90, "não temos mais o respiro da comemoração da torcida após um gol. Em um jogo do Boca Juniors não existe mais o caldeirão de La Bombonera". "Eu narro futebol turco e a torcida é muito participante, mas não há mais isso", disse o jornalista.
Fernando Nardini, da ESPN, se sentiu "meio engessado, com ferrugem" com o longo período fora dos microfones e aponta o trabalho em casa como uma das adaptações a serem feitas. "A dinâmica é diferente. Você mistura o seu dia a dia doméstico com o profissional. Trabalha onde tem também lazer e descanso. Interditei minha casa, mudei a rotina, não pode haver grande barulho. Fechei a porta e trabalhei, com camisa da TV e bermuda por baixo, pois só apareço da cintura para cima."
Nardini também chama a atenção para a saúde mental neste período obscuro de confinamento. "O mais importante é controlar a cabeça e não pirar por conta do isolamento", disse o narrador, um dos melhores do País quando o assunto é tênis.
No Fox Sports, Eder Reis é a "voz" das lutas e também narra os diversos campeões europeus do canal. Para ele, a parte técnica é outro obstáculo a ser superado. "Por fazer as transmissões de casa, eu tenho de entrar no ar muito antes do que quando o trabalho era feito na sede. É preciso uma boa conexão para entrar com o link da transmissão, além de modular o microfone", disse o narrador.
Eder descreve como é feito seu trabalho. "Anoto todas as informações dos clubes e dos jogadores no papel, pois o computador é usado para receber as imagens. O celular também é um aliado na transmissão. Aí preciso acompanhar o jogo em uma tela de 15 polegadas, onde os lances não são tão detalhados."
O futebol mundial está de volta e tenta superar a pandemia, assim como os profissionais que contam a história para cada torcedor dentro de casa. E eles estão renovados e prontos para gritar: "Gooooooooool".