Dois cavalos morrem em competições de hipismo nos EUA
Casos reacendem debate sobre maus-tratos
O fim de semana foi de tristeza para o hipismo nos Estados Unidos. Dois cavalos morreram em corridas competitivas, sendo uma delas no Kentucky Derby, uma das mais famosas da modalidade no país, e se somaram a uma série de outras tragédias do último mês. Ambas as fatalidades ocorreram no sábado, 20, e se deram por conta de lesões inoperáveis sofridas pelos animais, as quais levaram os veterinários nos eventos a optarem pela eutanásia.
Em Baltimore, o cavalo Havnameltdown, guiado pelo jóquei Luis Saez, sentiu um problema físico durante o certame e, ainda assim, a terminou, com relativo sofrimento. Ao examiná-lo, os médicos disseram que sua pata dianteira esquerda tinha um problema irreversível e sacrificaram-no. Horas depois, em Churchill Downs, a égua Swanson Lake teve um destino parecido, mas já no final da corrida; outra pata lesionada, a traseira esquerda, e novo abate por não ser resolvido com uma operação. Casos do tipo são discutidos desde os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
Os episódios reacendem, mais uma vez, um alerta sobre maus-tratos e condições severas a que parte desses animais são expostos. Somando todos os fatos recentes desde abril apenas no Kentucky Derby, o número de mortes chega a nove, por diversas causas: lesão durante as competições, incidentes de treinamento ou exaustão.
O último motivo resultou até em banimento de praticantes do esporte, com o treinador Saffie Joseph Jr sendo um deles. No começo de maio, ele foi suspenso por tempo indefinido do evento em questão após dois de seus cavalos desmaiarem na pista e falecerem na sequência; e não somente impedido de participar como também barrado do local de disputa.
De acordo com Bob Baffert, que treinava Havnameltdown, todos os envolvidos serão transparentes com os que acompanham os ocorridos, e isso pode trazer ainda mais polêmica na discussão. Em 2020, entrou em vigor uma lei, chamada "Horseracing Integrity and Safety Act (Lei de Integridade e Segurança em Corridas de Cavalos)", que garante a segurança dos animais na modalidade, mas ainda não implementada rotineiramente ou de forma correta, o que traria problemas ao Kentucky Derby e seus atletas se fosse o caso por lá.
Tragédias do tipo não se restringem apenas ao evento americano, mas também a competições de nível mundial e até Olimpíadas. Em Tóquio-2020, três casos chamaram a atenção da comunidade internacional. O mais repercutido foi o do cavalo Saint Boy, montado pela alemã Anikka Schleu, do pentatlo moderno. Ela não conseguiu controlá-lo para fazer os saltos do percurso e, após isso, sua técnica, Kim Raisner, foi vista dando um soco no equino, o que a fez ser expulsa dos Jogos pela União Internacional do Pentatlo Moderno (UIPM).
Os outros dois foram o de Jet Set, montado pelo suíço Robin Godel, que precisou ser sacrificado após uma lesão inoperável na pata traseira direita durante o concurso completo de equitação, muito parecido com os casos recentes, e o de Kilkenny, que teve um sangramento na narina enquanto fazia um percurso com o irlandês Cian OConnor.
Isso fez com que reacendesse o debate se o hipismo deveria ser mantido como um esporte olímpico. A ONG PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais, na sigla em inglês), encaminhou uma carta ao Comitê Olímpico Internacional (COI) pedindo a retirada da categoria, além da saída da modalidade que é disputada com outras quatro provas no pentatlo moderno.
"Ganhar uma medalha não é desculpa para machucar animais. Os esportes evoluem com o tempo, e já passou da hora dos Jogos terminarem a exploração dos cavalos", afirmou Kathy Guillermo, vice-presidente sênior da organização, em entrevista ao Estadão em 2021.
No Brasil, a CBH (Confederação Brasileira de Hipismo) criou a Comissão e Ouvidoria do bem-estar do cavalo após os Jogos de Tóquio, que visa criar mecanismos de proteção ao animal. Não somente isso, também é utilizada como canal de denúncias a maus-tratos, que podem ser feitas de forma anônima.