MPPE: demolição do Edifício Caiçara é crime ambiental
Promotor entrou com uma ação contra a construtora, além do embargo da demolição
Erguido na década de 40, o Edifício Caiçara é um dos últimos prédios antigos da orla de Boa Viagem, situada na Zona Sul do Recife. Ele, que estava em análise de tombamento, começou a ser demolido nesta sexta-feira (27). A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) enviou fiscalização ao local para registrar a ação e providenciou o embargo da demolição.
Segundo o promotor de justiça do Ministério Publico de Pernambuco, Ricardo Coelho, a atitude foi precipitada e criminosa, já que o órgão solicitou a preservação do imóvel. Ele só poderia ser derrubado após o decreto do governo homologando a resolução do Conselho Estadual de Cultura que também não está de acordo com a atitude tomada hoje.
O promotor Ricardo Coelho ainda publicou em sua rede social que houve improbidade administrativa e crime ambiental. “Estamos ingressando com uma Ação Cautelar para responsabilização civil e administrativa do Construtor além do embargo da demolição”, afirmou.
Segundo a Fundarpe, a Secretaria de Cultura recebeu a Resolução do Conselho Estadual de Cultura indeferindo o pedido de Tombamento do Edifício Caiçara, no último dia 19 deste mês, para que fosse encaminhada ao Governador do Estado para homologação. Como o processo não foi finalizado, o prédio não poderia ser demolido até a conclusão dele.
O porteiro do Edifício Nossa Senhora de Copacabana, situado ao lado do Caiçara, Eurico Souza, estava no momento da demolição e contou que as máquinas chegaram sem avisar, e quando os moradores foram tirar satisfações os funcionários afirmaram que tinham ganhado a causa na justiça. “Em relação a segurança do prédio que eu trabalho vai ser bom porque vai acabar com o terreno baldio, mas como morador do Recife é lamentável porque existem poucos edifícios com a estrutura e fachada como a dele”, disse. Segundo ele, o último morador do Caiçara saiu faz um pouco mais de um ano.
De acordo com o último vigilante do edifício, Jorge Benigno, de 58 anos, os proprietários dos imóveis não estavam se importando com o teor histórico da estrutura. “Trabalhei cerca de 14 anos no local, e na época não tinha esses prédios que hoje tomaram conta da orla", disse. "Os empresários chegaram oferecendo uma boa quantia para saírem. Aquela coisa manda quem tem dinheiro obedece quem é liso”, afirmou. Jorge trabalha como barraqueiro e lamenta por ver a atual situação do imóvel. “É horrível ver umas das estruturas da natureza sendo acabada do nada”, concluiu.