Nova tecnologia detecta zika em Aedes 18 vezes mais rápido

O procedimento, baseado em análises químicas por raios infravermelhos, também pode ser até 116 vezes mais barato

sab, 16/06/2018 - 19:58
Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas Os cientistas precisarão ainda incluir testes em mosquitos Aedes aegypti coletados na natureza já que, até o momento, foram realizados testes em mosquitos de laboratório Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) estudam uma nova técnica baseada em análises químicas por raios infravermelhos para agilizar em até 18 vezes e de baratear em até 116 vezes o monitoramento da presença do zika em mosquitos Aedes aegypti. Segundo a Fiocruz, a técnica, conhecida como 'espectroscopia no infravermelho próximo', é simples, tem alta taxa de precisão e dispensa uso de reagentes, o que a torna uma alternativa potencial ao tradicional método de análise genética chamado 'qPCR'.

O infravermelho é largamento usado pela indústria farmacêutica, na agricultura e na medicina. Ele tem sido alvo de estudos de cientistas da Fiocruz, da Austrália e Estados Unidos. Os resultados preliminares são considerados animadores e acabam de ser publicados na revista científica Science Advances.

A primeira etapa do estudo exigiu a calibração do equipamento de infravermelho para que fosse capaz de distinguir mosquitos Aedes infectados de mosquitos não infectados com o vírus. Foram utilizadas 275 fêmeas criadas em laboratório, com metade sendo alimentada com sangue com zika – proveniente da linhagem circulante no Brasil, isolada, em 2015, pelo Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC/Fiocruz. A outra metade das fêmeas, que funcionou como grupo controle, recebeu sangue não infectado.

A tecnologia de infravermelho foi usada para captar a intensidade de radiação da região do tórax e da cabeça dos mosquitos. “É no tórax que estão localizadas as glândulas salivares do Aedes. A verificação da cabeça permite constatar se ocorreu disseminação do vírus no corpo do mosquito depois da ingestão do sangue infectado. Isso é importante porque o Aedes apenas transmite o vírus na medida em que é capaz de liberá-lo na saliva durante a picada”, explica Rafael Freitas, pesquisador do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC/Fiocruz e coordenador da participação brasileira no estudo. Neste teste, a precisão do infravermelho ultrapassou 95%.

Na segunda etapa, foram utilizadas outras 412 fêmeas de Aedes. Enquanto metade recebeu sangue com zika, a outra metade cumpriu o papel de grupo controle. Neste segundo teste, além da análise na cabeça e tórax, também foi examinado o abdômen do inseto aos 4, aos 7 e aos 10 dias após a infecção. A verificação do abdômen é considerada importante visto que o intestino médio é o primeiro órgão do mosquito a entrar em contato com o vírus após sua ingestão durante a alimentação do inseto. Novamente, resultados positivos: a taxa de acurácia em relação à cabeça e ao tórax alcançou 97%; para o abdômen, 88%. “Notavelmente, a sensibilidade do ensaio é alta. O índice do abdômen pode ter apresentado uma taxa menor de acurácia, no entanto, precisamos levar em conta que esta parte do inseto não foi analisada no primeiro teste”, salienta Márcio Galvão Pavan, pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária que atua no mesmo Laboratório.

 Custo

  Em comparação ao método tradicional, considerado de alto custo, demorado e invasivo, a nova técnica apresenta características proporcionalmente opostas. Considerando o custo dos reagentes utilizados no RT-qPCR e a remuneração paga a um profissional que precise analisar, por exemplo, 100 amostras, a técnica de infravermelho – que dispensa o uso de reagentes – apresenta um custo 116 vezes menor. Ainda, o novo método pode processar o mesmo número de exemplares em apenas 50 minutos, contra 900 minutos do método tradicional, sendo assim, 18 vezes mais rápido.

 Futuro

 Antes da implantação da técnica na rotina de análises, os cientistas precisarão incluir testes em mosquitos Aedes aegypti coletados na natureza já que, até o momento, foram realizados testes em condições artificiais, com a infecção do mosquito provocada em laboratório. A previsão é de que a técnica também seja avaliada para outros vírus, como dengue e chikungunya, assim como para a detecção do parasito causador da malária. As mudanças químicas que influenciam as diferenças observadas em insetos infectados e não infectados é outro ponto a ser compreendido.

O trabalho foi financiado pela Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos; programa Stars in Global Health, do Canadá; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

 Com informações da assessoria

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