Justiça adia veredito de jornalistas detidos em Mianmar

Wa Lone, 32 anos, e Kyaw Soe Oo, 28, em prisão preventiva desde dezembro de 2017, podem ser condenados a penas de 14 anos de prisão

seg, 27/08/2018 - 09:17
YE AUNG THU O jornalista Wa Lone conversa com colegas após o adiamento do veredito YE AUNG THU

O veredito do processo contra dois jornalistas da agência Reuters acusados de "violação de segredo de Estado" em Mianmar, previsto para esta segunda-feira (27), foi adiado para 3 de setembro, anunciou a Justiça birmanesa, que citou o estado de saúde do juiz responsável pelo caso.

"O juiz Ye Lwin está doente e hospitalizado desde 24 de agosto. Por isto, o veredito será anunciado em 3 de setembro", afirmou o magistrado Khin Maung Maung em uma audiência.

Wa Lone, 32 anos, e Kyaw Soe Oo, 28, em prisão preventiva desde dezembro de 2017, podem ser condenados a penas de 14 anos de prisão.

"Pouco importa o que decidam a nosso respeito. Não temos medo", afirmou Wa Lone após o anúncio do adiamento.

"A verdade está ao nosso lado e nós não fizemos nada de errado", completou.

As autoridades birmanesas acusam os dois de posse de documentos confidenciais relacionados às operações das forças de segurança no estado de Rakhine, noroeste do país, cenário da crise dos rohingyas.

Os repórteres birmaneses investigavam o massacre de 10 rohingyas na localidade de Inn Dinn. Poucos dias depois de sua detenção, o exército reconheceu que soldados e membros budistas mataram a sangue frio pessoas desta comunidade em 2 de setembro. Sete militares foram condenados a 10 anos de prisão.

Os dois jornalistas afirmam que a polícia criou uma armadilha, ao ordenar o envio de um documento comprometedor. Em uma das audiências preliminares, um policial confirmou a tese.

O processo foi marcado por vários apelos da comunidade internacional a favor da libertação de ambos e pela defesa da liberdade de imprensa, muito ameaçada em um país no qual os militares continuam com muita influência, apesar da chegada ao poder poder, em 2016, do governo civil da vencedora do Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.

A ONU acusou o exército e as milícias budistas de limpeza étnica da minoria rohingya.

As operações do exército em 2017 forçaram mais de 700 mil pessoas da minoria rohingya, a quem o governo de Mianmar nega a cidadania birmanesa, a fugir para Bangladesh.

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