Campanha informa sobre câncer de cabeça e pescoço

Julho Verde divulgou alerta sobre a propagação da enfermidade no Brasil. Números do Pará preocupam. Fumo e álcool estão entre os principais causadores da doença.

sex, 02/08/2019 - 11:21
Divulgação Médica Amanda Gomes: prevenção e diagnóstico precoce salvam vidas Divulgação

O Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço foi celebrado em 27 de julho. Pela data, estabelecida pela International Federation of Head and Neck Oncologic Societies (IFHNOS), a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) promove durante todo o mês de julho atividades de conscientização e informação no combate a esses tipos de câncer, que atingem boca, língua, palato mole e duro, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe, esôfago, tireóide e seios paranasais.

O slogan da campanha deste ano é “O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê!”.

Em todo o mundo, o câncer de cabeça e pescoço é o quinto de maior incidência. São mais de 780.000 casos por ano. De acordo com o INCA, no Brasil, é o quinto de maior incidência entre os homens (cavidade oral e laringe). Hoje, no Brasil, em 60% dos casos a doença já está avançada quando é descoberta.

O câncer de cabeça e pescoço afeta diversas áreas e funções do corpo humano, como a respiração, fala, deglutição, paladar e olfato. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, os principais sintomas são nódulo persistente no pescoço, lesão na boca que não cicatriza (por mais de 20 dias) e rouquidão por mais de três semanas.

Adilson de Souza, 71 anos, se incomodava com uma espinha que crescia na orelha direita. Ao consultar um dermatologista, descobriu que era câncer de pele (carcinoma) e precisou fazer uma cirurgia para retirar o tumor e reconstruir a orelha em outubro de 2012. Mas apenas um mês após a cirurgia, durante uma consulta a um dentista, percebeu um nódulo no queixo. 

O câncer de pele havia progredido para a mandíbula e ele precisou fazer mais duas cirurgias – para a retirada do nódulo e depois para retirada das glândulas salivares – em novembro e dezembro de 2012. A quimioterapia e radioterapia foram feitas em fevereiro de 2013 e, desde então, Adilson faz exames de acompanhamento a cada ano. 

Ele conta que foi fumante desde os 18 anos e só parou depois de descobrir o câncer. “Graças a Deus, o tratamento foi tranquilo, apesar dos efeitos colaterais da quimioterapia serem fortes. Hoje, as únicas sequelas são uma perda parcial do paladar e a diminuição da salivação. “Tenho que beber bastante água. Me cuido para me manter livre do câncer”, diz Adilson.

Cigarro, álcool e o vírus HPV estão no topo da lista dos causadores dos cânceres de cabeça e pescoço. São cerca de 41 mil novos casos anualmente, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer. Os números correspondem a 4% de todos os tipos de câncer.

Estima-se que cerca de 15 mil novos casos de câncer de cavidade oral surjam por ano no Brasil, sendo 80% em homens e caracterizando-se como o 5º tumor de maior incidência no país no ranking geral. No Pará, em 2019, a estimativa do Inca apontou 220 novos casos de câncer na cavidade oral, sendo 140 em homens e 80 em mulheres. A taxa estimada é de 3,88 casos para cada 100 mil homens e de 2,01 para cada 100 mil mulheres.

Para o câncer de laringe, estima-se 8 mil novo casos no país, sendo que 97% dos diagnósticos são provenientes do tabagismo. O consumo de álcool associado ao tabagismo aumenta o risco em 140 vezes esse tipo de câncer.  No Pará, a estimativa do Inca para 2019 apontou 110 casos novos de câncer de laringe, sendo 80 em homens e 30 em mulheres. A taxa estimada é de 2,69 caso casos para cada 100 mil homens e de 0,88 casos para cada 100 mil mulheres.

Em pacientes jovens, a infecção pelo HPV (papilomavírus humano) tem ampliado o número de novos casos de orofaringe devido à prática do sexo oral sem preservativos. Além disso, a utilização do narguilé (cachimbo de água utilizado para fumar tabaco aromatizado) e o consumo excessivo do álcool também têm correlação com o aumento do número de casos em jovens de 18 a 30 anos.

O perigo que o álcool e o tabaco associados representam é significativo. Alguém que fuma e bebe tem chances até 10 vezes maiores de desenvolver algum tipo de câncer de cabeça e pescoço. Por causa dos "hábitos sociais" de beber e fumar, os homens são mais acometidos em relação às mulheres, numa proporção de oito homens para duas mulheres, nos casos do câncer de boca, faringe e laringe.

Apesar de atingir principalmente fumantes e pessoas que consomem bebidas alcoólicas, já é possível verificar um aumento na incidência entre pessoas com menos de 40 anos por causa do HPV, que pode ser prevenido com a vacina e o uso de preservativos nas relações sexuais.

O Ministério da Saúde estima que cerca de 7% da população brasileira, mesmo sem saber, podem ter o vírus HPV na boca. Esse percentual representa cerca de 14 milhões de indivíduos em risco de desenvolver câncer por causa do HPV. “Estudos recentes demonstram que a infecção oral pelo HPV é um fator de desenvolvimento do câncer de faringe e de boca. Uma das formas de contágio é por meio da prática do sexo oral sem proteção”, explica a médica Amanda Gomes.

Como são fatores de risco que podem ser eliminados, esses tipos de câncer são considerados evitáveis. Além da prevenção, a atenção para o diagnóstico precoce também é fundamental. “Além de ficar longe do cigarro e bebidas alcoólicas e de não esquecer a prevenção ao HPV, todos devem lembrar que a higiene bucal é importante na prevenção. O dentista é um profissional com papel fundamental no diagnóstico precoce e deve ser visitado regularmente. O exame clínico do pescoço, feito por um médico, também é essencial”, alerta a oncologista clínica Amanda Gomes. “No caso do câncer de boca, o papel do cirurgião-dentista é importante porque pode garantir a identificação de lesões pré-cancerígenas ou tumores em fase inicial”, destaca a médica.

Por Dina Santos, especialmente para o LeiaJá.

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