“Tudo indica que o prédio estava em reformas”, diz CREA
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do órgão, Emanuel Maia Mota, informou que o profissional responsável pela obra registrou, junto ao conselho, a necessária Anotação de Responsabilidade Técnica (ART)
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE) afirma ter sido notificado de que o prédio que desabou nesta terça-feira (15) em Fortaleza passaria por obras de manutenção. Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do órgão, Emanuel Maia Mota, informou que o profissional responsável pela obra registrou, junto ao conselho, a necessária Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) – documento que define os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e agronomia.
Entrevistado por telefone enquanto se deslocava para o cruzamento das ruas Tibúrcio Cavalcante com Tomás Acioli, no bairro Dionísio Torres, onde o Edifício Andréa desabou, Mota disse aguardar informações para confirmar se a obra chegou a ser iniciada. Se confirmado que a manutenção já tinha começado, o conselho instalará um processo para verificar a conduta do profissional responsável, que também pode vir a responder criminalmente pelo ocorrido.
“O que sabemos é que, recentemente, ocorreu manutenção nos elevadores e que há poucos dias foi registrada a ART de uma reforma, sem muitos detalhes sobre o que seria feito. Ou seja, tudo indica que aquele prédio estava passando por reformas”, disse Mota, destacando ainda ser cedo para apontar a causa do desmoronamento. Uma equipe técnica do CREA-CE se encontra no local do desastre, realizando uma avaliação inicial no perímetro do desabamento.
Mais cedo, a assessoria da prefeitura de Fortaleza informou à reportagem que não tinha informações sobre a possível realização de obras no edifício. Para Mota, a prefeitura não tinha conhecimento do assunto porque, possivelmente, o profissional responsável registrou o ART no Crea, mas não solicitou ao Poder Público o alvará para realizar a reforma. “Já informei isso à prefeitura para que a devida análise seja feita”, comentou Mota, assegurando que a falta de alvará não é impedimento ao início de obras de manutenção.
Mota também não soube precisar há quantos anos o prédio foi construído, mas ponderou que, certamente, há não menos que dez anos. “É um prédio antigo, de uma época em que não havia registros de obras eletrônico. Como ainda não localizamos sequer a ART de construção dele, com certeza ele tem mais de dez anos”, comentou Mota, explicando que compete ao Crea fiscalizar o exercício da engenharia e da agronomia, zelando para que os serviços sejam realizados por profissionais qualificados e habilitados.
Além de destacar a importância de que, assim como a fase de construção de qualquer edificação, também os serviços de manutenção sejam acompanhados por profissionais competentes, o presidente do Crea-CE afirmou que o Poder Público precisa zelar pelo cumprimento da lei que exige atenção ao estado de conservação das construções.
“Em Fortaleza, temos a Lei de Inspeção Predial, mas ela não vem sendo cumprida. Temos registrado repetidos acidentes causados pela falta de manutenção das construções. E mesmo quando essas edificações tinham alvará, [o Poder Público] não detinha detalhes sobre o plano de manutenção da estrutura predial”, afirmou Mota, cobrando maior atenção ao cumprimento da lei.
“O Poder Público tem que ter consciência de que a cidade está envelhecendo e que diversos prédios estão precisando de manutenção. E estes serviços têm que ser acompanhados por profissionais qualificados. Precisamos inclusive conscientizar os síndicos sobre a responsabilidade que eles têm ao negligenciar a execução de uma reforma para consertar patologias de edificação. Os prédios exigem manutenção”, concluiu o presidente do Crea-CE.
A prefeitura de Fortaleza não comentou as declarações de Mota, mas o prefeito Roberto Cláudio prometeu “investigação rígida” sobre desabamento. Ao falar com a imprensa, após a Agência Brasil ter entrevistado o presidente do Crea-CE, Roberto Cláudio reafirmou que os órgãos de fiscalização urbana não tinham nenhuma informação sobre obras em andamento no edifício.