2019: empregos formais no último trimestre

Apesar das vagas serem fixas, o Indicador Coincidente de Desemprego apresentou piora no período e o número de desempregados no país é de 12,4 milhões de pessoas

por Caroline Nunes sex, 13/12/2019 - 16:58
Marcello Casal / Agência Brasil No último trimestre, entrevistados conseguiram empregos fixos CLT Marcello Casal / Agência Brasil

De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio do Indicador Antecedente de Emprego (Iaemp), em uma escala de zero a 200, houve alta de 2,6 na passagem de outubro para novembro no número de vagas disponíveis. A pesquisa mostra que o índice alcançou 88,4 pontos, sendo o maior nível desde abril deste ano (92,5 pontos). É importante ressaltar que o índice é calculado com base em entrevistas com consumidores e empresários da indústria e do setor de serviços, com o objetivo de antecipar a tendência do mercado de trabalho nos próximos meses.

No entanto, outro indicador sobre o mercado de trabalho da FGV, o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), teve piora no período: 96,1 pontos, dez a mais do que a média da série histórica iniciada em 2005 (84,2 pontos). O ICD é calculado com base na percepção dos consumidores sobre o desemprego atual e medido em uma escala invertida de zero a 200 pontos, em que quanto maior for a pontuação pior será o resultado. Para o garçom Deiviti Matias, 35 anos, o número de vagas disponíveis continua na mesma durante esse período. "Alguns setores, como o comércio, podem ter tido aumento por conta das festas, mas em uma situação geral, o ano todo foi ruim", diz. O profissional é casado e tem quatro filhas. Natural de São Paulo, mora atualmente em Goiânia e, com menos de um salário mínimo e meio, tem que arcar com as despesas da família, o que inclui o aluguel.

O garçom, que antes trabalhava em uma marmoraria, ficou desempregado por dois meses e começou a trabalhar há pouco, acredita que muitas pessoas não conseguem suprir a renda mensal apenas com um emprego e têm que complementar a renda com trabalhos freelance. Isso acontece com Patrícia Santos, 31 anos. Depois de dois anos sem registro em carteira, ela voltou a trabalhar neste último trimestre na antiga empresa em que foi mandada embora. Entretanto, a costureira não consegue manter a renda familiar apenas com o salário fixo, pois é a única provedora da casa.

Em 2018, o pai da profissional sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e não pôde mais trabalhar, fazendo com que a costureira precisasse muito de trabalhos freelance. Para complementar a renda, Patrícia atende clientes a domicilio em diversas regiões de Guarulhos (SP) com o serviço de cabelereira, manicure e depiladora. "Meu salário não é compatível com os meus gastos atuais e com as necessidades do meu pai, que teve a mobilidade reduzida. Eu preciso continuar atendendo as minhas clientes", afirma.

O volume de serviços no país avançou 0,8% na passagem de setembro para outubro deste ano. Essa é a segunda alta consecutiva do indicador, que acumula crescimento de 2,2% no período. Os dados fazem parte da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgada na última quinta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações mostram que serviços complementares e freelances aumentaram 0,1% no período.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), o Brasil possuía 4,703 milhões de pessoas em situação de desalento no trimestre encerrado em setembro de 2019. A população desalentada é aquela que estava fora da força de trabalho por diversas razões, principalmente por procurar trabalho durante longos períodos e não conseguir encontrar. A técnica agrícola Gleicyane das Graças, 26 anos, se enquadra dentro dessa estatística: a profissional permaneceu desempregada de janeiro a setembro deste ano, conseguindo uma vaga efetiva apenas em outubro e fora de sua área de formação. Após se mudar do interior de Minas Gerais para Maceió (Alagoas), a profissional precisou se sujeitar a outra modalidade de emprego – no caso dela, o call center.

 

Confiança do consumidor e perspectiva de futuro

Outubro registrou queda de confiança nas classes econômicas com menor poder aquisitivo. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) no período ainda apontou que a pretensão de gastos com viagens e presentes de final de ano neste mesmo recorte permanecerá em baixa e que a aplicação média de dinheiro será no pagamento de contas atrasadas.

Para o garçom Deiviti, que foi registrado em uma pizzaria em novembro, a renda adquirida neste último trimestre significa apenas uma coisa: quitação de débitos. "Até por conta do meu trabalho, não tenho como viajar, pois a pizzaria vai funcionar normalmente durante as festas. Essa estabilidade de ter conseguido um emprego agora no final de ano vai me ajudar a quitar as dívidas que ficaram pendentes", explica. Ele ainda afirma que está contente com essa oportunidade de emprego fixo e que pretende permanecer trabalhando neste local no mesmo período do ano que vem. Além disso, Deiviti diz que quer arrumar mais uma ocupação durante o dia para complementar a renda, já que na casa somente ele trabalha.

Já a costureira Patrícia pretende economizar o máximo que puder para que no mesmo período de 2020 já tenha conseguido concluir a construção de seu salão de beleza, que é um sonho da profissional. "Eu pretendo estar em outra empresa no ano que vem, no caso, na minha. Espero estar trabalhando só no meu salão", disse.

Gleyciane afirma que em 2020 quer trocar de emprego. A técnica agrícola está se preparando para prestar concurso público. "Estou estudando para mudar de vida. Tenho uma filha, que não mora comigo, e tenho que mandar dinheiro para pagar as contas dela todo mês, além das minhas. Não é fácil conseguir tudo isso com apenas um salário mínimo", conclui.

A taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,6% no trimestre encerrado em outubro, atingindo 12,4 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE).

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