Julgamento de Trump se encaminha para absolvição

O presidente poderá ser absolvido nesta sexta (31) à noite em seu julgamento político se o Senado rejeitar a possibilidade de convocar testemunhas

sex, 31/01/2020 - 16:50
SAUL LOEB Presidente americano, Donald Trump, durante um encontro em 30 de janeiro de 2020, em Des Moines em Iowa SAUL LOEB

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, poderá ser absolvido nesta sexta-feira (31) à noite em seu julgamento político se o Senado rejeitar a possibilidade de convocar testemunhas, abrindo caminho para o veredicto do processo.

Muito provavelmente, Trump, o terceiro presidente da história do país que enfrenta um processo de impeachment, será declarado inocente das acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso que a Câmara dos Deputados, a maioria democrata, o acusou.

A Constituição dos EUA exige uma maioria de dois terços, 67 dos 100 senadores, para destituir um presidente. A oposição democrata, entretanto, conta somente com 47 assentos no Senado.

A única questão agora é saber quando Trump pode fechar esse episódio que divide a classe política e os cidadãos.

O bilionário, que lançou sua campanha à reeleição, tem pressa para se livrar do julgamento. Segundo seus parentes, ele espera ser absolvido antes de fazer seu discurso tradicional sobre o estado da União, na terça-feira à noite antes do Congresso.

Talvez ele espere o julgamento terminar antes de domingo, quando planeja dar uma entrevista ao canal conservador Fox News antes do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, um evento que normalmente reúne cerca de 100 milhões de espectadores e durante o qual será feito o anúncio da campanha presidencial.

A menos de 300 dias das eleições presidenciais de novembro, os democratas tentam obter novas informações comprometedoras do presidente republicanos.

Nessa sexta-feira, eles apresentarão uma moção para obter o direito de convocar testemunhas. Se obtiverem os 51 votos necessários, o que significa convencer quatro senadores republicanos a se unirem a eles, o julgamento será prolongado.

- Uma votação importante sobre as testemunhas -

A aposta democrata parece complicada. Quatro senadores republicanos mostraram nos últimos dias, após declarações do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, seu interesse em vê-lo testemunhar na Câmara Alta.

Entretanto, um deles, Lamar Alexander, disse na noite de quinta-feira que finalmente votaria contra a convocação de testemunhas. "Não precisamos de provas adicionais" para provar as acusações, disse ele em comunicado.

"Foi inapropriado o presidente pedir a um líder estrangeiro que investigasse seu rival político e reter a ajuda dos EUA para levá-lo a investigar", acrescentou Alexander. "Mas a Constituição não dá ao Senado o poder de destituir o presidente e vetá-lo simplesmente por ações que não são apropriadas".

A republicana moderada Susan Collins decidiu, no entanto, votar a favor da convocação de testemunhas, e seus colegas Mitt Romney e Lisa Murkowski poderiam fazer o mesmo.

Se a votação for resolvida com um empate (50-50), os democratas planejam pedir ao chefe da Suprema Corte, John Roberts, que preside o julgamento, para votar a favor de sua moção.

O magistrado, que geralmente é meticuloso em relação à independência da justiça, poderia, no entanto, recusar-se a entrar na disputa partidária, e a moção não teria efeito.

Os 100 senadores poderiam então votar rapidamente no veredicto, talvez nesta sexta-feira à noite ou sábado. Uma absolvição seria "a melhor do país", disse o advogado da Casa Branca Pat Cipollone na quinta-feira.

Os democratas "tentam retirar o nome do presidente das cédulas de votação poucos meses após as eleições", lamentou.

Segundo o jornal The New York Times, citando um livro ainda não publicado de Bolton, Trump ordenou que seu então assessor organizasse uma reunión entre o presidente ucraniano Volodimir Zelenski e seu advogado privado, Rudy Giuliani.

A ordem, não divulgada anteriormente, foi dada em maio de 2019, dois meses antes do telefonema feito em julho por Trump a Zelenski. O presidente americano negou nesta sexta-feira ter ordenado que Bolton se envolvesse no suposto complô secreto.

"Nunca disse a John Bolton que organizasse uma reunião para Rudy Giuliani, um dos maiores lutadores contra a corrupção nos Estados Unidos e o maior prefeito da história de Nova York, para se reunir com o presidente Zelenski", disse Trump em comunicado. "Essa reunião nunca aconteceu", acrescentou.

- "Insignificante" -

Para o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, um processo sem testemunhas não faz sentido.

"Se meus colegas republicanos se recusarem a considerar testemunhas e documentos, uma absolvição seria insignificante porque seria o resultado de uma farsa de julgamento", disse ele a repórteres na sexta-feira.

Aproveitando a maioria na Câmara dos Deputados, os democratas acusaram Trump em 18 de dezembro, iniciando seu processo de impeachment.

A investigação foi realizada em um clima severo e resultou em trocas muito tensas entre os representantes democratas e republicanos.

A estrutura do julgamento no Senado, muito mais rigorosa e formal, baixou o tom das discussões sem impedir o surgimento de dois discursos conflitantes.

Os democratas acusam Trump de abuso de poder e obstrução do Congresso por pedir à Ucrânia que investigue Joe Biden, seu possível rival nas eleições presidenciais de novembro, e até mesmo congelar uma ajuda militar a Kiev para obter apoio.

Após o escândalo vir à tona por uma denúncia anônima, o presidente fez o possível para bloquear a investigação do Congresso, o que, segundo a acusação, violaria a Constituição.

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