Iraque: manifestantes estão determinados a manter protesto

Desde que o poderoso Al-Sadr virou as costas para o movimento de contestação e pediu a seus seguidores que não participassem mais dos protestos iniciados em outubro, a mobilização popular iraquiana se dividiu

qui, 06/02/2020 - 12:54
Haidar HAMDANI Iraquiano protesta no sul do Iraque, em 5 de fevereiro de 2020 Haidar HAMDANI

Os manifestantes hostis ao governo iraquiano enterraram sete colegas nesta quinta-feira (6), mortos em confrontos com apoiadores do líder xiita Moqtada al-Sadr em Najaf, no sul do Iraque, e disseram que seguem determinados a continuar os protestos.

Desde que o poderoso Al-Sadr virou as costas para o movimento de contestação e pediu a seus seguidores que não participassem mais dos protestos iniciados em outubro, a mobilização popular iraquiana se dividiu.

Os seguidores de Al-Sadr apoiam o novo primeiro-ministro, Mohamed Alaui, que assumirá suas funções depois que o gabinete obtiver a confiança do Parlamento em um mês.

Os manifestantes antipoder rejeitam Alaui, que foi duas vezes ministro em um sistema, do qual querem se livrar. E continuam com os protestos, mesmo que a repressão tenha deixado 490 mortos e 30.000 feridos desde 1º de outubro. Segundo uma contagem da AFP, a maioria era manifestante.

O primeiro-ministro designado, que prometeu esclarecer as mortes, falou nesta quinta-feira à tarde na televisão estatal para afirmar que o assassinato de manifestantes era uma "linha vermelha".

"Não poderei continuar com minha missão, se os jovens continuarem sofrendo", acrescentou.

Há vários dias, os dois lados se enfrentaram em várias cidades. Um manifestante foi esfaqueado até a morte em Al-Hilla na segunda-feira, ao sul de Bagdá.

Na noite de quarta-feira, em Najaf, sete manifestantes morreram depois que os apoiadores de Al-Sadr invadiram um acampamento. Todos os mortos foram baleados na cabeça, ou no peito, conforme relatos dos médicos, que estimaram os feridos em dezenas.

Os "bonés azuis", como são conhecidos os apoiadores de Moqtada al-Sadr, foram acusados de violência, enquanto as forças de ordem não fizeram nada para evitá-la.

- "Mais determinados" -

"Em Najaf, as máscaras caíram", disse Mohamed, estudante de engenharia que protestava nesta quinta-feira na praça Tahrir, em Bagdá.

Nos arredores desta praça emblemática, epicentro da revolta, os seguidores de Al-Sadr continuam a manter barricadas de segurança, que datam de quando disseram que eram responsáveis pela segurança dos manifestantes frente às forças de segurança e grupos armados.

Hoje, porém, não há diálogo entre os dois lados, diz Mohamed.

"Dissemos aos seguidores de Sadr que eles estavam aqui para tornar o local seguro e (proteger) nossos companheiros, mas ele não nos escutam", afirma.

Em Diwaniya, uma cidade do sul, os estudantes gritam: "Nem Moqtada, nem Hadi, nosso país deve ser livre", em referência às facções armadas pró-iranianas da Hashd al-Shaabi, lideradas no Parlamento por Hadi al-Ameri.

Nesta cidade, os manifestantes agora temem o que aconteceu em Najaf, um dos lugares mais sagrados do xiismo.

Eles garantem, porém, que a violência não reduzirá sua determinação.

Em Tahrir, Tayba, um estudante em Bagdá, diz que todo o mundo "acaba se acostumando".

"Estamos ainda mais determinados", afirma o jovem, com uma bandeira iraquiana nos ombros. "Antes os estudantes faziam uma manifestação por semana, agora fazem três", relata.

Alaui prometeu que "ele proporá um ou dois ministros surgidos da mobilização". Desde outubro, este movimento denuncia a corrupção e o nepotismo no país.

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