China adia a grande sessão anual do Partido Comunista

O surgimento do novo coronavírus, que já matou 2.500 pessoas e infectou 77.000, alterou o calendário.

seg, 24/02/2020 - 13:20
GREG BAKER Pessoas com máscara, para se protegerem do novo coronavírus, perto de uma bandeira do Partido Comunista Chinês, em Pequim GREG BAKER

A China anunciou nesta segunda-feira (24) o adiamento, sem data prevista, da sessão anual de seu Parlamento por causa da epidemia do novo coronavírus, um problema incomum na mecânica bem engrenada do governo comunista.

A sessão plenária da Assembleia Nacional Popular (ANP) deveria começar, como todos os anos, no dia 5 de março. O evento tradicional serve para mostrar a unidade do país, com o apoio de enormes bandeiras vermelhas e votações que geralmente são encerradas com quase total unanimidade.

Mas o surgimento do novo coronavírus, que já matou 2.500 pessoas e infectou 77.000, alterou o calendário. A sessão será realizada em outra data, a ser anunciada posteriormente, conforme decidido nesta segunda-feira pelo comitê permanente da ANP, citado pela televisão nacional.

Reunir 3.000 deputados no Palácio do Povo em Pequim parecia algo impensável, pois há regiões inteiras em quarentena e muitos cidadãos estão trancados em suas casas por medo do contágio. Eles só podem pisar na rua se estiverem de máscara.

A capital também decretou uma quarentena de 14 dias em casa ou hotel para quem já esteve em outra região do país.

O adiamento é “necessário” caso se pretenda que “a atenção seja focada na prevenção e no controle da epidemia”, afirmou na semana passada um alto funcionário do Parlamento, Zang Tiewei.

Após os distúrbios da “Revolução Cultural” (1966-1976), a sessão plenária foi realizada todos os anos desde 1978.

Desde 1985 começa sistematicamente em março e, mais especificamente, no dia 5 desse mês desde 1998, como um símbolo da estabilidade do governo, que completou no ano passado 70 anos.

- Meta de crescimento em espera -

No entanto, para Dorothy Solinger, da Universidade da Califórnia em Irvine, a mensagem do governo pode ser obscurecida pela epidemia.

“Como se pode apresentar a mensagem necessariamente otimista [...] sobre o progresso e as realizações do país em meio a tanta incerteza?”, declarou à AFP.

Ao adiar a sessão, o governo pode explicar que “dedica todos os seus esforços à luta contra o vírus e não tem tempo para organizar a reunião, por enquanto”.

Embora as grandes decisões submetidas à ANP já tenham sido tomadas pelo Partido Comunista Chinês (PCC), a sessão anual dá lugar a alguns anúncios tradicionais, como a meta de crescimento econômico para o ano.

O primeiro-ministro, Li Keqiang, anunciou no ano passado um crescimento entre 6 e 6,5% do PIB para 2019. O valor final foi de 6,1%.

Com a economia em pleno declínio há um mês por conta da epidemia, o índice de 2020 poderá ser consideravelmente menor.

No sábado, a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que as últimas estimativas da instituição previam uma taxa de crescimento de 5,6% para a China em 2020, 0,4 ponto a menos do que as estimativas de janeiro.

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