Ansiedade e pânico: efeitos psicológicos da pandemia

Mudanças bruscas na rotina e incerteza quanto ao futuro podem afetar a saúde mental; confira dicas para se manter mais tranquilo

ter, 07/04/2020 - 15:40
Pexels Isolamento social e excesso de informação têm aumentado os casos de ansiedade e pânico Pexels

Por Aliny Bueno

Diante da crise instaurada pela pandemia de Covid-19, como se manter emocionalmente saudável? Além dos fatores estressantes já presentes no cotidiano das grandes cidades, agora a preocupação com a pandemia e com seus impactos podem contribuir para desencadear ou agravar transtornos psicológicos como o estresse e a ansiedade. É um momento desafiador para todos. Sair de casa envolve o risco de se infectar. Por outro lado, passar semanas em isolamento e enfrentar uma quarentena também pode causar impactos na saúde mental do indivíduo.

A psicóloga Alessandra Dinelli explica que a mudança repentina na rotina social e pessoal pode provocar sentimentos como medo, ansiedade e fobia. Ela esclarece que o fenômeno do isolamento social ocorre por diversas situações, podendo ser voluntário ou involuntário. “Trazendo um pouco mais para o contexto que estamos vivendo, por ser uma situação atípica, esse isolamento faz com que a gente fique mais ansioso, ocioso também, e perca um pouco da noção de pertencimento, principalmente porque se vê em um cenário onde toda a sua rotina é mudada de forma repentina e não pode fazer nada”, diz.

Adaptação: difícil porém necessária

Encontrar maneiras de se adaptar à nova rotina e não criar pânico contribui para tornar o período de quarentena menos penoso. O universitário Gustavo Laia, 20 anos, diz que sua rotina mudou completamente, pois sempre teve uma vida muito ativa. “Meus dias vêm sendo um teste. Sou muito ativo e gosto de sair com meus amigos e conviver, como qualquer outro. Estudava antes de a quarentena chegar, não é fácil, porém, necessário”, comenta.

O estudante conta que tem buscado no entretenimento uma forma de evitar pensamentos negativos, sem deixar de lado a preocupação com a atual situação: “Fico imaginando como está o mundo e o que eu poderia fazer para ajudar. Aí penso que o melhor é ficar em casa, sendo distraído pelos filmes”, reflete. Um dos fatores que prejudicam a mente é a incerteza de não saber o que vai acontecer. A adaptação a uma nova forma de viver pode complicada, especialmente para pessoas que já sofriam com algum distúrbio psicológico antes de a pandemia se instalar.

Ansiedade 

A psicóloga alerta que a mudança de rotina repentina e forçada, a que toda a população está exposta, pode provocar diversos sentimentos, principalmente de ansiedade. “As pessoas se sentem presas e, por estarem acostumadas a viver em uma rotina corrida e ativa, pensar e ficar em casa sem nada aparentemente para fazer, sem saber exatamente o que fazer e quando tudo vai acabar, aumenta muito o nível de ansiedade, pensamentos negativos, preocupações e sentimento de tédio. A rotina em casa de repente se torna algo massivo e difícil”, descreve.

Alessandra explica que o período de quarentena pode desencadear um quadro de ansiedade em pessoas que não apresentavam o distúrbio antes da epidemia. “Estamos vendo um número alarmante de pessoas com quadros de ansiedade. Tanto pessoas que já lidavam com isso quanto pessoas que nunca passaram por nada do tipo. A quarentena e toda a situação relacionada à pandemia têm gerado também um sentimento de pânico. Muitas pessoas têm apresentado crises de ansiedade e ataques de pânico também, com sintomas como falta de ar, insônia, tremores, medo constante de que algo ruim está para acontecer”, diz a psicóloga.

"Tortura"

A universitária Juliana Macedo tem 21 anos e sofre de ansiedade há quatro. Com as rotinas profissional e de estudos suspensas, ela agora passa a maior parte do dia sozinha em casa, o que considera quase “uma tortura”. “É complicado porque a ansiedade para ser amenizada exige o contato, o convívio. A ansiedade é não conseguir ficar sozinha e em silêncio”, conta.

Segundo Juliana, a abundância de tempo livre desperta nela uma sensação de desespero. “No meu caso, eu me ocupo até não poder mais, para não ficar em silêncio. Estou sendo obrigada a me ouvir”, relata.

Estratégias

Criar uma rotina com afazeres foi a estratégia adotada pelo auxiliar de escritório Bruno Oliveira, 25 anos. Ele conta que tem buscado praticar atividades que preencham o tempo, como forma de não pensar tanto na pandemia e para manter mente saudável: “O primeiro dia de quarentena foi tranquilo, assistindo ao noticiário e me mantendo informado sobre os casos. Já no segundo e no terceiro dias, a mente já pede convivência com outras pessoas. A leitura e as séries têm sido importantes para manter a mente oxigenada”, afirma.

Para Bruno, limitar a busca por notícias sobre a pandemia ajuda a manter a calma. “Acho que ao mesmo tempo em que é importante, também se torna prejudicial, porque acaba submergindo demais as pessoas no assunto e acho que isso pode causar um ‘parafuso’ na mente”, conta.

Infodemia: um mal contemporâneo

Televisão, sites de notícias, redes sociais e até grupos de Whatsapp trazem constantemente uma avalanche de informações e notícias sobre a pandemia. A abundância de informação, que a princípio poderia ser uma coisa boa, pode acabar se tornando prejudicial à saúde mental das pessoas.

O excesso de informação sobre algum assunto pode deixar as pessoas aflitas, em pânico e confusas sobre as atitudes que devem tomar. Esse fenômeno recebe o nome de infodemia, termo que mistura “informação” e “epidemia”.

Formada em Gestão de Recursos Humanos, Jéssica Dallo, de 24 anos, afirma que o intenso fluxo de informações sobre a nova doença tem prejudicado o seu discernimento quanto ao que acreditar. “As informações me afetam, pois às vezes nem é caso para tanto, mas a quantidade de informações que você absorve acaba te colocando na dúvida. Será que estou me preocupando demais? Será que estou me preocupando pouco? Será que eu já estou com o vírus e estou espalhando? São muitos ‘se’”, desabafa.

Dicas

A psicóloga Alessandra Dinelli dá algumas dicas para se cuidar durante o período de isolamento social. Estabelecer uma rotina, evitar o bombardeio de informações, utilizar a tecnologia para manter contato com as pessoas e fazer terapia online. Ela também recomenda que as pessoas aproveitem a quarentena para se dedicar a alguma atividade que gostem de fazer. “As pessoas podem começar a melhorar a qualidade da rotina durante a própria quarentena e saber a lidar melhor com ansiedade e com o tempo durante o período de quarentena”, aponta.

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