Na quarentena, quanta falta faz um abraço?

Na celebração do Dia do Abraço, histórias de quem sente falta da demonstração de carinho por meio do contato físico

por Alex Dinarte sex, 22/05/2020 - 18:00
Arquivo Pessoal Lembrança de um abraço entre as irmãs Daniela Resch e Ohana Resch Arquivo Pessoal

Nesta sexta-feira (22), celebra-se o Dia do Abraço. A data teria sido criada em 2004, quando o australiano Juan Mann idealizou uma ação denominada Free Hugs Campaign e saiu distribuindo abraços pelas ruas da cidade de Sydney.

Após a recomendação de isolamento social devido à pandemia, as demonstrações de carinho ficaram quase inviáveis. Como o risco de contágio pelo novo coronavírus é maior caso não haja distância entre as pessoas, a orientação é para que se evite aproximação. Contudo, entre nós brasileiros, a cultura do abraço vai além de ter ou não proximidade. A troca de afagos é quase um vício e há quem esteja sofrendo com isso. É o caso da artesã Daniela Resch, 44 anos. Para ela, os amplexos são mais que um simples contato. "Sentir o calor humano é trocar energia, sempre foi e continuará sendo fundamental para todos nós", considera.

De acordo com Daniela, a impossibilidade de estar perto dos pais e irmãos está sendo aliviada quando revisita algumas lembranças. "A arte salva vidas. Então ouço música e vejo algumas fotos para matar um pouco da saudade", aponta a artesã. "Acho improvável que exista outra demonstração de afeto com tanta intensidade como um largo abraço", sintetiza.

Já a consultora de viagens Daniela Bigas, 38 anos, conta os dias para voltar a esbanjar carinho aos entes queridos. Para ela, a precaução deve ser maior, mas nada vai substituir o afeto do contato físico. "Teremos mais cuidados com a higiene, mas os abraços e os beijos jamais vão perder espaço", declara. Segundo Daniela, o significado dos amplexos traduz sentimentos. "A intensidade do abraço diz muito mais que palavras e que olhares", indica.

A consultora de viagens Daniela Bigas | Foto: arquivo pesssoal

A emoção de Daniela aflora quando lamenta a impossibilidade de abraçar uma figura especial da família: sua avó materna, Joana."Ela é muito beijoqueira e adora um abraço, mas tem Alzheimer e não entende o que está acontecendo", conta. A consultora de viagens ainda destaca a saudade dos amigos. "Várias vezes, em festas e encontros, a gente se olha e, sem dizer nada, rola um abraço coletivo, lágrimas, várias declarações de quão abençoados somos por nos escolhermos", recorda.

Surpreendida pela chegada da pandemia, Daniela é otimista e crê que os afagos vão ser mais enaltecidos após o período crítico. "Nem imaginávamos o que estava por vir, mas acredito que a demonstração de afeto será mais valorizada", observa.

O abraço e os sentimentos verdadeiros

Para a psicóloga Gisele Mesquita, o abraço representa a expressão dos mais verdadeiros sentimentos. "É nele que nossas memórias afetivas se fazem presentes, abraçamos para compartilhar alegrias, para acolher, consolar uma dor, no reencontro. pois o abraço é o estar ali para o outro", realça.

De acordo com Gisele, a falta dos amplexos no momento de luto e medo que vivemos deve fazer com que a importância deste contato seja mais significativa. "Hoje podemos ressignificar o conceito do abraço e manifestar, mesmo a distância, nossos sentimentos mais profundos e verdadeiros de maneira empática, além de perceber que a vida é mesmo encantadora pela possibilidade das interações humanas", aponta. Apesar das incertezas, é necessário imaginar o futuro com positividade. "Que possamos visualizar nossos reencontros cheios de abraços, a retomada das rotinas e a valorização das relações humanas de uma maneira mais doce e gentil", conclui.

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