China denuncia nova 'Guerra Fria' por coronavírus

Novas tensões entre as superpotências surgiram à medida que as restrições impostas para conter o vírus continuam afetando a todos e de várias maneiras diferentes

seg, 25/05/2020 - 07:23
EVARISTO SA Jair Bolsonaro cercado por apoiadores em 24 de maio de 2025 em Brasília EVARISTO SA

A China alertou neste domingo (24) que suas relações com os Estados Unidos estão "à beira de uma nova Guerra Fria", ainda mais tensa pela pandemia da Covid-19 que levou Washington a proibir voos provenientes do Brasil.

Novas tensões entre as superpotências surgiram à medida que as restrições impostas para conter o vírus continuam afetando a todos e de várias maneiras diferentes.

A pandemia, que afetou mais de 5,4 bilhões de pessoas em todo o mundo, silenciou a celebração muçulmana do fim do Ramadã e deixou imagens de banhistas com máscaras nas praias americanas.

Em grande parte da costa atlântica dos Estados Unidos, o dia frio e com vento reduziu a frequência nas praias, um dia depois de uma grande movimentação no sábado.

"Ficamos trancados em casa por 70 dias, 10 semanas", declarou Lisa Sklar, que caminhou com o marido e a filha pela praia de Conney Island, onde não era permitido entrar no mar. "É muito bom para a nossa saúde estar aqui", acrescentou.

Enquanto isso, mais nações europeias reduziram suas medidas impostas a restaurantes, bares e hotéis que devastaram o turismo. A Europa ultrapassou dois milhões de infectados e continua sendo o continente com mais mortes, registrando 173.500 falecimentos.

Essa pandemia também corroeu as relações já duras entre a China e os Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que Washington se infectou com um "vírus político" que aproveita "todas as oportunidades para atacar e difamar a China".

"Algumas forças políticas dos Estados Unidos estão tomando como reféns as relações China-EUA e levando nossos dois países à beira de uma nova Guerra Fria", declarou o ministro para a imprensa.

Wang também acusou os políticos americanos de "espalhar boatos" para "estigmatizar a China", onde o novo coronavírus surgiu no final do ano passado. No entanto, garantiu que a China está "aberta" à cooperação internacional para identificar a origem do vírus.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa Pequim de má gestão da crise, por demorar muito para comunicar dados cruciais sobre a gravidade da doença e de não ser transparente em suas ações.

Os Estados Unidos são o país mais atingido pela Covid-19, com 1.676.364 casos e mais de 98.000 mortes.

- O epicentro latino-americano -

Enquanto isso, os países latino-americanos se tornaram "um novo epicentro" do coronavírus, segundo a OMS. Em toda a América Latina, mais de 40.000 pessoas faleceram entre cerca de 741.000 infectados, segundo a contagem da AFP nest domingo.

O Brasil, com 363.618 portadores do vírus e 22.716 óbitos, é de longe o país mais atingido da região e já superou a Rússia, tornando-se o segundo país com o maior número de infecções no mundo, atrás dos Estados Unidos.

Por conta deste cenário, Trump anunciou neste domigo a proibição da entrada no território americano de viajantes do Brasil.

A medida vale para todos os não-americanos que estiveram no Brasil no período de 14 dias antes da data para desembarque no território americano, informou a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany.

"A ação de hoje ajudará a garantir que os estrangeiros que estão no Brasil não se tornem uma fonte de infecções adicionais em nosso país", destacou McEnany no comunicado encaminhado à imprensa.

Apesar da escalada da Covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, novamente desafiou as medidas de distanciamento social durante uma manifestação em Brasília.

Ele chegou usando máscara, mas depois abandonou a proteção para cumprimentar apoadores, apertar mãos e até pegar uma criança no colo.

O México, o segundo país da região com maior número de mortes, registrou até este sábado 65.856 casos confirmados e 7.179 falecimentos.

Na Argentina, a aceleração das infecções, que em Buenos Aires aumentou cinco vezes nas últimas duas semanas, levou o presidente Alberto Fernández a estender o isolamento social obrigatório até 7 de junho.

Na Bolívia, onde o departamento amazônico de Beni, na fronteira com o Brasil, foi declarado em"desastre de saúde", a justiça ordenou neste domingo a detenção preventiva de Marcelo Navajas, ex-ministro da Saúde e de outras autoridades pela compra superfarurada de respiradores para pacientes com coronavírus.

No Peru, o segundo país da região em infecções (115.754) e o terceiro em mortes (3.300), o governo estendeu o confinamento até 30 de junho, embora tenha autorizado a retomada de alguns serviços, como salões de beleza.

- Final do Ramadã -

Os muçulmanos comemoram neste domingo o fim do mês de jejum do Ramadã, marcado em muitos países por restrições.

No Paquistão, desconsiderando as medidas de distranciamento físico, os muçulmanos foram aos mercados para comprar em massa antes do Aid al Fitr, um dos festivais mais importantes do calendário muçulmano.

"Por mais de dois meses, meus filhos ficaram em casa", disse Ishrat Jahan à AFP em um mercado de Rawalpindi. "Esta festa é para as crianças e se elas não podem comemorar com roupas novas, não faz sentido trabalhar tanto o ano todo".

Vários países como Egito, Iraque, Turquia e Síria proibiram orações coletivas por medo da propagação do coronavírus. A Arábia Saudita, que possui os locais mais sagrados do Islã, impôs um toque de recolher de cinco dias desde sábado.

Já o Irã, com o maior número de mortes devido à pandemia no Oriente Médio, pediu a seus cidadãos que evitem viajar durante o Aid, que acontece nesta segunda-feira neste país predominantemente xiita.

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