Prisão de homem negro por erro é denunciada nos EUA

A União Americana das Liberdades Civis (ACLU) afirmou que este é o primeiro caso conhecido de uma prisão ilegal baseada na tecnologia

qua, 24/06/2020 - 19:00
SAUL LOEB Imagem de arquivo mostra uma exibição da operação de um sistema de reconhecimento facial para uso policial durante uma conferência de tecnologia em Washington, em 1º de novembro de 2017. SAUL LOEB

Uma falha em um sistema de reconhecimento facial levou à prisão de um afro-americano em Detroit, segundo uma denúncia apresentada nesta quarta-feira (24) que destaca preocupações sobre o uso da tecnologia criticada por reforçar o preconceito racial.

A União Americana das Liberdades Civis (ACLU) afirmou que este é o primeiro caso conhecido de uma prisão ilegal baseada na tecnologia, que seus críticos consideram imprecisa na distinção entre rostos afro-americanos.

"Embora Robert Williams possa ser o primeiro caso conhecido, ele certamente não é a primeira pessoa a ser detida e interrogada erroneamente com base em uma descoberta falsa de reconhecimento facial", disse a ACLU no Twitter.

Williams escreveu no The Washington Post que foi preso fora de sua casa em janeiro e detido por 30 horas, antes de descobrir que havia sido identificado erroneamente por imagens feitas por câmeras de vigilância durante um assalto a uma relojoaria.

"Eu nunca pensei que teria que explicar para minhas filhas por que papai foi preso", escreveu Williams.

"Como explicar a duas meninas que um computador errou, mas que a polícia acreditou mesmo assim?"

A notícia é divulgada em meio a protestos contra o racismo e a brutalidade policial após mortes de afro-americanos por agentes brancos e à preocupação de que estas tecnologias possam acentuar a discriminação.

Vários estudos indicaram que os sistemas de identificação utilizados nos Estados Unidos podem dar resultados absolutamente errados quando aplicados em afro-americanos.

Nesse contexto, empresas como IBM, Amazon e Microsoft anunciaram que não venderiam estes sistemas a departamentos de polícia. Mas sistemas de outras empresas são usados em grande escala no país.

A prefeitura de Boston aprovou nesta quarta-feira a proibição da utilização da tecnologia por autoridades municipais, tornando-se a segunda maior cidade do mundo, depois de San Francisco a tomar essa decisão.

Desculpas e limpeza de registros

Em uma queixa formal ao departamento de polícia, o advogado da ACLU, Phil Mayor, solicitou a retirada das acusações e do registro de prisão, além de um pedido público de desculpas a Williams.

O defensor informou ainda que Williams tem o direito de entrar com uma ação judicial.

A ACLU também afirmou que a polícia deveria abandonar o uso da tecnologia de reconhecimento facial como ferramenta em suas investigações e que todas as imagens de Williams deveriam ser removidas de seus bancos de dados.

Williams relatou no The Washington Post a experiência de ser algemado diante de sua família e a noite que passou "no chão de uma cela suja e superlotada".

"Como qualquer outra pessoa, fiquei com raiva por estar acontecendo comigo", disse ele.

"Como qualquer outro homem negro, eu tinha que considerar o que poderia acontecer se eu fizesse muitas perguntas ou demonstrasse abertamente minha raiva, mesmo sabendo que não havia feito nada errado".

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