NE: avanço da pandemia no interior preocupa capitais

O comitê de científico do Consórcio Nordeste afirma que reabertura das atividades comerciais foi precoce e pede a volta do lockdown

por Victor Gouveia sex, 03/07/2020 - 14:06
Arthur Souza/LeiaJá Imagens A falta de comprometimento com o isolamento social também aumento a demanda na rede de saúde Arthur Souza/LeiaJá Imagens

Com o aumento no registro de óbitos e infecções nos Estados da região, o comitê científico do Consórcio Nordeste alerta para a interiorização da pandemia. Em coletiva online realizada nesta sexta-feira (3), profissionais responsáveis pelo monitoramento da Covid-19 na região recomendaram o fim da flexibilização das atividades comerciais e a volta temporária do isolamento rígido.

Desde o dia 29 de março, cerca de 100 profissionais acompanham o agravamento da doença no Nordeste e apontam que Pernambuco está com o sistema de saúde tensionado. Tal condição é fruto da estratégia precipitada de enfrentamento e da falta de apoio da população, que não atingiu o índice de isolamento esperado.

No início da pandemia, o Nordeste conquistou as melhores taxas de isolamento social e, em Pernambuco, as duas semanas de lockdown foram fundamentais para reduzir a demanda por enfermarias. Em contrapartida, houve um crescimento nas solicitações por UTI nas capitais, que disponibilizam de infraestrutura adequada para atender casos graves.

A rota da pandemia

Para o comitê, o cenário contrastante é decorrente da interiorização da pandemia, que saiu das metrópoles por meios das malhas rodoviárias e acometeu de vez a população do interior, como em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, que precisou frear a reabertura das atividades comerciais. Sem rede de saúde adequada, os pacientes acabam transferidos para as capitais e levam de volta a Covid-19, o que caracteriza o 'efeito boomerang'.

Com mais de 5 mil óbitos e 62.362 contaminados em Pernambuco, o professor Miguel Nicolelis acredita que a retomada de atividades não essenciais deve ser revista. A pressa na reabertura não seguiu as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que determinou o agravamento das notificações, junto com o isolamento falho, que não atingiu a meta de 70%. "O afrouxamento do isolamento e medidas de reabertura devem ser contidas, elas não devem ocorrer no meio desse cenário. Qualquer abertura pode trazer uma retomada de casos", esclarece.

Ao destacar que um relatório produzido pela Blavatnik School da Universidade Oxford concluiu que todos os processos de reabertura no Brasil não foram ideais, Nicolelis usou o estado norte-americano do Texas como exemplo a não ser seguido. Após liberar bares, restaurantes e eventos muito cedo, a região sofreu um aumento drástico nos registros da Covid-19 e precisou fechar tudo novamente.

O Brasil unido contra o vírus

Para conter o coronavírus, o comitê sugere a volta imediata do lockdown em todo o Brasil, a criação de barreiras sanitárias na malha rodoviária, o controle de veículos por meio de rodízios, a promoção de brigadas de emergência e a extensão de profissionais de saúde para realizar exames nas casas da população. Porém, tais medidas só serão eficazes se houver a sincronização com os demais estados.

Após minimizar os efeitos da doença e vetar alguns itens da lei que obriga o uso de máscaras em território nacional, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conduz o Brasil em meio à pandemia sem ministro da Saúde efetivo. Para o professor Sérgio Rezende, as decisões do presidente influenciam a população e dificultam o cumprimento das recomendações sanitárias.

"O Governo Federal tem influenciado negativamente em tudo que se refere à pandemia. O presidente fica inventando receitas médicas, cuja eficácia dos medicamentos não é comprovada cientificamente. Para nossa tristeza, o Brasil ultrapassou 61 mil mortes, [mas] se tivesse, a partir do dia 1º de abril, adotado o confinamento de 70%, teria apenas 17 mil mortes. Então, essas 44 mil vidas perdidas são parte da atitude completamente irresponsável do Presidente da República, seguida de muitos governantes", avalia Rezende.

COMENTÁRIOS dos leitores