Vivendo em caverna, palestinos são ameaçados de expulsão

O palestino Ahmed Amarneh vive com sua família em uma caverna na Cisjordânia há mais de um ano

seg, 10/08/2020 - 14:56
Jaafar Ashtiyeh Ahmed Amarneh fala com vizinho em frente à sua casa no povoado de Farasin, na Cisjordânia em 4 de agosto de 2020 Jaafar Ashtiyeh

Atrás de uma parede de pedra perfurada onde uma porta foi colocada, figuram alguns quartos estofados com almofadas: o palestino Ahmed Amarneh vive com sua família em uma caverna na Cisjordânia há mais de um ano, mas estão ameaçados de expulsão.

Engenheiro civil de 30 anos, ele vive com sua esposa grávida de cinco meses e sua filha em Farasin, uma aldeia no noroeste da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel, onde a construção de uma casa às vezes deve ser aprovada pelas autoridades israelenses.

Em alguns setores da Cisjordânia, essas autoridades emitem avisos de demolição de estruturas julgadas ilegais. Farasin não é uma exceção, o que incluiria a caverna. "Tentei construir duas vezes, mas as autoridades de ocupação me disseram que é proibido construir nesta área", disse à AFP.

Diante das rejeições, Amarneh decidiu instalar sua morada em uma caverna formada ao pé de uma colina, que do alto domina a aldeia. Ao refletir sobre o assunto, ele chegou à conclusão de que viver em uma caverna não requer nenhuma autorização oficial, por se tratar de uma formação natural muito antiga, além de estar localizada em um terreno registrado com seu nome pelas autoridades palestinas. A família mora lá há um ano e meio, comenta.

Permissão para uma caverna? -

No entanto, em julho ele recebeu um aviso de demolição por parte das autoridades israelenses, assim como cerca de vinte famílias desta aldeia que é alvo de uma disputa de Israel com seus pares palestinos. O órgão israelense responsável pelas operações civis nos Territórios Palestinos (Cogat) disse à AFP que esses avisos de demolição foram emitidos porque essas casas foram construídas "ilegalmente", "sem os autorizações necessárias".

"Fiquei surpreso!", porque "eu não criei a gruta. Ela existe desde a Antiguidade", suspira Amarneh. Segundo Mahmud Ahmad Naser, chefe do Conselho da aldeia, Farasin foi criada em 1920, mas foi abandonada durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Mas seus antigos habitantes retornaram partir de 1980 e atualmente cerca de 200 pessoas povoam o local.

Farasin, na verdade, não parece uma aldeia. Em vez disso, assemelha-se a uma constelação de pequenas casas separadas umas das outras, sem estradas pavimentadas e sem rede elétrica.

A Autoridade Palestina lhe concedeu um status oficial em março mas, segundo o Conselho, a pandemia de COVID-19 impediu a implementação de medidas concretas de desenvolvimento, como por exemplo o acesso à eletricidade.

De acordo com a ONG israelense anticolonização B'Tselem, apesar da pandemia, Israel demoliu 63 casas de palestinos devido ao plano Trump para a região, que inclui a anexação de partes da Cisjordânia.

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